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Maria Gadú

BRUNA VELOSO Publicado em 04/01/2012, às 15h42 - Atualizado em 06/01/2012, às 17h31

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Cantora investe em músicas mais encorpadas, mas mantém a linha de seu primeiro disco

Maria Gadú pode não ser lá muito querida pelo público “descolado”, que acredita que a nova MPB está apenas nas casas de show paulistanas da rua Augusta. A cantora pode até ser popular, mas não tem o hype a seu favor e sua música foi tocada além da conta na TV. Contudo, de uma coisa ela não pode ser acusada: falta de talento. Talento ela tem, e exemplifica novamente com este segundo disco.

É verdade que a figura de Gadú foi um tanto repetitiva desde sua chegada ao mercado tradicional (isso porque ela demorou a assinar com uma gravadora, se levarmos em conta que desde os 13 anos cantava na noite de São Paulo). No primeiro álbum, os hits foram muitos – cinco músicas na Globo e a execução de “Shimbalaiê” (seu maior sucesso, mas longe de ser sua melhor música) até causar enjoo. Veio então o vislumbre do potencial de vendas da cantora, com a extração, até a última gota, de todas as possibilidades de comercialização do repertório de seu debute – primeiro, um pacote CD e DVD Multishow ao Vivo; depois, outro combo gravado nos palcos, desta vez no formato voz e violão, ao lado de Caetano Veloso, mesclando músicas dela a faixas dele. No meio desses “retrabalhos”, Gadú gravou Mais uma Página, uma junção de 14 músicas que mostra uma continuidade evolutiva na carreira da cantora.

O disco segue a mesma linha de violões bem trabalhados, elementos diferentes de percussão espalhados por entre as músicas e bateria mansa. A produção ficou novamente por conta de Rodrigo Vidal, e há participações já vistas antes. Dani Black, por exemplo, que participou do Multishow, é autor de duas faixas: a deliciosa “Linha Tênue”, um exemplo da grande qualidade de composição do músico (ex-5 a Seco, filho de Tetê Espíndola e Arnaldo Black), um dos destaques do álbum; e da levemente reggaeira “Axé Acapella”, em parceria com Luisa Maita, a primeira música de trabalho.

“No Pé do Vento” abre bem o disco, mostrando, em alguns versos, o espírito da trajetória que culminou nesse lançamento (“Cantando eu vivo em movimento/ E sem ser mais do mesmo ainda sou quem era”). E se em Maria Gadú ela escolheu fazer uma cover de “Baba Baby”, de Kelly Key, aqui ela foi para dois lados distintos: primeiro, uma versão de “Anjo de Guarda Noturno”, da banda de forró Bicho de Pé, selecionada por ter feito parte do repertório da cantora no tempo em que tocava em bares. A segunda seria dispensável – uma versão de “Oração ao Tempo”, de Caetano, com vocais desnecessariamente afetados, gravada a convite de Jayme Monjardim para a abertura da novela A Vida da Gente. Fechando o disco, uma terceira releitura, “Amor de Índio”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos.

A vontade de abraçar diversas línguas é um tanto irritante no conjunto, ainda que avulsas as músicas funcionem. Na estreia, Gadú arriscou em francês; aqui, canta em inglês (“Like a Rose” e “Long Long Time”, escritas com Jesse Harris, ex-marido de Norah Jones e compositor do megahit “Don’t Know Why”) e espanhol (“Extranjero”). Para completar, tem uma tentativa de fado em parceria com o cantor português Marco Rodrigues.

Como compositora, a artista de recém-completados 25 anos acerta na mosca em dois momentos. “Estranho Natural” foi feita em homenagem à inesperada convivência com o ídolo Caetano Veloso e, de um jeito ingênuo, é como uma carta aberta ao cantor. Já “Quem?”, com participação de Lenine, exibe um lado talvez mais sério da escrita da cantora.

Maria Gadú mostra personalidade ao se manter fiel a seu estilo, investindo, no entanto, em canções mais encorpadas do ponto de vista sonoro (agora há espaço para sax, trombone, violino, flauta e outros instrumentos). Ela inclusive define o disco como um trabalho “de banda” (no encarte bem trabalhado do CD – ponto positivo – ela aparece sempre ao lado dos músicos que a acompanham). Sem se preocupar em sair da sua zona de conforto, Maria Gadú faz um bom trabalho – sim, longe de inovar a música brasileira. Mas, no fim das contas, essa nem é a intenção.

Fonte: Som Livre