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Transitando entre o pop e a música indie, músico estreia superando expectativas

Redação Publicado em 12/11/2010, às 01h18 - Atualizado às 01h20

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ILUSTRAÇÃO: RODRIGO YOKOTA
ILUSTRAÇÃO: RODRIGO YOKOTA

Marcelo Jeneci

Feito pra Acabar

Slap/Som Livre

Marcelo Jeneci faz parte de uma das gerações mais interessantes da música brasileira que surgiram nos últimos anos. Redescobrindo o samba, a tropicália e a MPB dos anos 60 e 70, nomes como Tulipa Ruiz, Cérebro Eletrônico, Céu, Do Amor, Cida- dão Instigado e outros têm feito uma relei- tura de todas essas vertentes, mas acrescentando toques de modernidade, valorizando uma história muitas vezes desconhecida pela juventude. Engana-se, porém, quem coloca Jeneci como apenas mais um entre tantos. O cantor chega à sua estreia com um currículo de respeito. Além de ter acompanhado diversos músicos em turnê, ele emplacou duas composições em trilhas de novela: “Amado”, na voz de Vanessa da Mata (sua parceira na canção) e “Longe”, com o sertanejo Leonardo, feita junto com Arnaldo Antunes. Multi- instrumentista talentoso, Jeneci começou sua carreira como músico acompanhando Chico César, em 2000, tocando piano e sanfona – e é justamente uma parceria com o primeiro “chefe” que abre Feito pra Acabar. “Felicidade” começa de mansinho, em clima de sessão da tarde de dia chuvo- so, como um prelúdio da leveza que o ál- bum apresenta dali para a frente. Para obter um resultado vigoroso e equilibrado, o cantor reuniu uma banda de respeito – Régis Damasceno no baixo, Curumin na bateria, Edgard Scandurra na guitarra, entre outros. A instrumentação é incrementada pelos arranjos de Arthur Verocai e pela voz doce de Laura Lavieri, sua par- ceira musical desde 2007. Tudo costurado pela produção esmerada de Kassin, que confere uniformidade estética às versáteis composições pop de Jeneci. As múltiplas facetas se apresentam já em “Copo D’Água”, um rock básico e tenso, e em “Café com Leite de Rosas”, que, mais suingada, tem um pé fincado na Bahia. Artesão esmerado de melodias melancó- licas, Jeneci bebe na fonte de Roberto Carlos, mas de forma pouco habitual. Enquanto a maioria dos artistas se con- centra ou na fase jovem guarda ou no final dos anos 60, o cantor foca a segunda metade dos 70, o lado mais sentimental do Rei. “Quarto de Dormir”, com seu arranjo minimalista e profundo, é o maior exemplo da influência. Letra mais simples do disco, cria em uma narrativa line- ar uma imagem perfeita de um quarto escuro e solitário na história de dois ex- amantes que desejam o arrependimento um do outro. A dobradinha “Pra Sonhar”, única composição solo do cantor no disco (e em que a sanfona tem maior destaque), e “Dar-Te-Ei” representam duas das melhores declarações de amor da música contemporânea. Mais do que tudo, Jeneci soa romântico sem resvalar no brega. A deslumbrante “Longe” é revestida de charme pela brilhante interpretação de Laura Lavieri. A conexão com a tropicália aparece em “Pense Duas Vezes Antes de Esquecer”, que contrapõe um refrão psicodélico guiado pela guitarra de Scandurra a versos intimistas sobre um piano que remete a uma caixinha de música. “Feito pra Acabar”, a música, fecha o ál- bum com um arranjo épico e crescente, que desemboca em um refrão intenso repleto de cordas apoteóticas. Mas é “Show de Estrelas”, uma das poucas letras que não tratam de amor, que acaba se destacando no conjunto da obra, com seu clima contagiante e refrão festivo. “Todos nós, a brilhar, somos seis bilhões de faróis, a girar”, canta Marcelo Jeneci, com um leve tom ingênuo, em uma canção que surge com jeito de hino de uma geração que pede passagem e cada vez mais encon- tra seu espaço.

POR TIAGO AGOSTINI