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Música / Entrevista

Alfa Mist, do treino autodidata à sensação no jazz londrino: "comecei ouvindo música"

Destaque do Queremos! Festival, músico conta como união de hip hop e jazz o levou ao centro da efervescente cena criativa britânica

Alfa Mist, por Kay Ibrahim
Alfa Mist, por Kay Ibrahim

Alfa Mist é parte da boa leva que o Queremos! Festival leva ao palco da Marina da Glória, no Rio de Janeiro, no próximo dia 13 de abril. Em São Paulo, ele se apresenta na mesma noite de Adi Oasis na Audio nesta quinta (11). Acerto para o público paulistano e carioca, que terão a chance de conferir um dos nomes mais interessantes da cena jazz de Londres em sua primeira apresentação no Brasil.

Um golaço, de fato, marcado pelo pianista que queria ser jogador de futebol, mas acabou achando na música um talento quase nato, que desenvolveu por conta própria. Alfa Mist, nome de trabalho de Alfa Sekitoleko, começou a fazer suas batidas ainda aos 15 anos, influenciado pelo hip hop e pela grime music. Em Newham, onde nasceu, seu caminho despretensioso por samples de diferentes fontes o levaria a conhecer o jazz, o soul e a música clássica, que desconhecia.

"Comecei a ouvir muito jazz, música clássica, e decidi tentar entender o que acontecia nas músicas, porque muitas das vezes eu preferia ouvir aquilo que estava sampleando. Tinha algo naquelas músicas", disse ele à Rolling Stone Brasil.

Hoje com cinco álbuns e celebrado por selos como o lendário Blue Note, ele trilhou um caminho pouco convencional entre seus pares, tantas vezes imersos na teoria musical de conservatórios. Aos 18 anos, já envolvido pela imquietação despertada no jazz, ele decidiu aprender piano - o que fez por conta própria, seguindo o movimento de mãos que acompanhava em vídeos de música: "O que eu fazia era treinar nas músicas que minhas mãos não conseguiam tocar. Ao final de cada música, eu estava melhor. Eu conseguia tocar. Foi assim, ouvindo música, que eu comecei."

A facilidade em combinar sonoridades eletrônicas com o treinamento autodidata e rigoroso do piano acabaria definindo o estilo único de Mist - complexo e melancólico, profundamente influenciado pelo hip hop e pela música eletrônica, mas hoje definido pelo talento no instrumento. Em vez de limitações, sua trajetória o abriu, na união de gênero, um leque de possibilidades:

"Acho que as coisas sempre vão se misturar porque todos têm um ponto de partida diferente. Se eu tocasse guitarra, sei lá, desde os quatro anos, haveria muita guitarra na minha música, sabe?", reflete. "Mas porque somos de diferentes gêneros, vamos tentar integrar. Especialmente o jazz, que é tão amplo. O hip hop também. Acho que é bastante fácil para essas coisas se misturarem e acho que é bom que elas se misturem."

A despeito do que a inovação sonora possa sugerir, Mist conta que seu proceso criativo é rigoroso - é um perfeccionista, garante. "Se deixasse, passaria anos fazendo uma música porque queria que fosse perfeita. Quero que tudo seja incrível, mas porque sei que sou assim." Hoje, nove anos após seu primeiro EP - o ótimo Nocturne -, ele se dá um tempo pré-determinado para entregar suas composições. "Por causa disso consigo colocar a música pro mundo."

Alfa Mist, por Kay Ibrahim

Queremos! e o Brasil

Na apresentação que traz ao Brasil, o foco maior de Alfa Mist será o álbum Variables, lançado em abril de 2023. Como adianta o nome, é um disco sobre variáveis, sobre potenciais.

"Todo mundo pode começar no mesmo lugar e depois acabar em lugares diferentes por causa de circunstâncias e escolhas na vida. Então achei isso interessante. Queria fazer um álbum sobre isso. É por isso que há tantos diferentes gêneros ou talvez estilos diferentes no álbum. É por causa dos diferentes caminhos que eu poderia seguir potencialmente."

A visita ao país vem acompanhada de uma vontade antiga. Das influências, que passam "invariavelmente" pelo jazz brasileiro e por nomes como o violonista Fabiano do Nascimento, Mist conta que o Brasil foi um dos primeiros lugares em que fãs pediram sua música - e acabou sendo um dos últimos que pôde, finalmente, conhecer.

Fã de futebol, ele afirma: "o Brasil era meu time favorito. Você sabe, sou da Inglaterra, mas não havia um time tão incrível quando o do Brasil enquanto eu crescia."

Além de uma partida, ele garante que adoraria conhecer marcos e a gastronomia do país, tanto quanto possível, mas que dado o tempo apertado da turnê, talvez acabe não conseguindo: "mas eu vou voltar e fazer isso, se eu puder com certeza".