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"Agora estamos mais livres", diz Ryan Jarman, do The Cribs, sobre disco sem Johnny Marr

Depois da saída do ex-guitarrista do The Smiths, trio de irmãos lança In the Belly of the Brazen Bull e volta ao Brasil para show em São Paulo

Pedro Antunes Publicado em 28/11/2012, às 11h49 - Atualizado às 11h50

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The Cribs - Steve Gullick / Site oficial
The Cribs - Steve Gullick / Site oficial

Depois de uma noite um tanto apática no Beco 203, em São Paulo, em um show fechado no dia 17 de julho de 2011, o The Cribs voltou ao mesmo espaço, na noite seguinte, para uma apresentação aberta para os fãs da banda. A energia ali (com gente pulando do palco), em um cenário de anarquia total, deixou uma ótima impressão no trio de irmãos Jarman – os gêmeos Ryan (guitarra e voz) e Gary (baixo e voz) e o caçula Ross (bateria).

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E, de volta ao mesmo lugar, com show nesta quinta-feira, 29, Ryan diz à Rolling Stone Brasil, por telefone, de Colônia, na Alemanha, que espera que a nova apresentação seja como aquela. “Nós encorajamos essa liberdade. Gostamos de tocar em lugares em que nos sentimos próximos do público e que eles possam sentir o mesmo”, explica o músico nascido e criado na cidadezinha de Wakefield, localizada a 18 km de Leeds, na região norte da Inglaterra.

Durante a entrevista, quando o guitarrista da banda descobriu que o show foi financiado coletivamente pelos fãs através do site Playbook, ele para por alguns instantes e diz: “Foram os fãs que fizeram isso?” Com a nova resposta afirmativa, o músico ainda parece embasbacado com a iniciativa de crowdfunding. “Nunca ouvi falar de algo assim. Mas é exatamente sobre isso que eu estava falando, entende? Fico muito feliz em saber que os fãs podem ser tão passionais. Isso faz toda a diferença para o show, agora sabemos que não estamos indo por causa de patrocinadores, ou algo assim, são os fãs. É demais!”

Animado com a notícia, o músico promete uma apresentação ainda mais “louca do que a anterior”. “Temos algumas músicas novas, do nosso novo disco [ In the Belly of the Brazen Bull]. Vai ser ainda mais intenso”, diz ele. “Tentamos tratar cada show de uma forma diferente. Acho que isso dá uma espontaneidade para as apresentações, porque nunca sabemos o que vai acontecer.”

Ryan não é um sujeito que encara a realidade de forma tradicional. Em 2008, por exemplo, em uma festa da premiação inglesa NME Awards, ele subiu sobre uma mesa, tropeçou, caiu sobre um vaso de vidro e perfurou o rim. Depois de uma passada pelo hospital, lá estava ele novamente festejando – e bebendo.

A mesma coisa se aplica ao The Cribs. Contemporâneos de uma geração liderada pelo The Libertines que levou o rock lo-fi de volta às paradas, os irmãos de Wakefield elevaram a falta de limites para o palco. Um show dos Jarman é sempre surpreendente – tão surpreendente como o fato de eles terem dado um fora no valiosíssimo ex-guitarrista do The Smiths Johnny Marr às vésperas de gravar um novo disco.

Talvez por isso mesmo o álbum In the Belly of the Brazen Bull, quinto da banda, soe tanto como os primeiros trabalhos do Cribs. É explosivo, com sonoridade borrada e suja de chiados, ruídos, vozes desconexas – como nos três primeiros discos The Cribs (2004), The New Fellas (2005) e Men's Needs, Women's Needs, Whatever (2007). Ao mesmo tempo, a herança de Marr é sentida aqui e acolá, devido ao senso harmônico perceptível neste trabalho, principalmente em músicas como “Come On, Be a No-One”, “Glitters Like Gold”, “Jaded You”, “Anna” e a linda “Back to the Bolthole” – esta última, contou Ryan, roubou-lhe o sono por noites seguidas. “Eu ficava deitado na cama pensando em como terminar essa música. Foi uma das primeiras que começamos, e uma das últimas a terminar. É uma das minhas favoritas”, conta.

“Acho que tudo está no ambiente das gravações. Em Ignore de Ignorant [de 2009], com Johnny, era muita gente entrando e saindo do estúdio. E gravamos tudo individualmente. E depois juntamos em um computador. Não é desse jeito que gostamos de trabalhar”, analisa Ryan. “Nós fizemos questão, desta vez, de gravar as coisas ao vivo, com equipamentos analógicos. Sabíamos todas as músicas na hora de gravar. Ensaiamos no porão e, no estúdio, fizemos tudo praticamente ao vivo.”

A gravação analógica em tomadas ao vivo, explica Ryan, é a forma encontrada para que a banda soe melhor ainda no vinil. “Nós adoramos. Fazemos questão que todos os nossos lançamentos sejam em LP também. O nosso som foi feito para isso”, acredita o músico.

Ignore de Ignorant trazia uma pureza e um refinamento pouco condizente ao Cribs. Ryan entende que, apesar de continuarem amigos de Johnny Marr – “ainda nos falamos, sim”, diz –, estar somente entre os irmãos é reconfortante. “Agora estamos mais livres”, explica. “Fizemos o disco da maneira que queríamos e o melhor é que as pessoas estão gostando”, diz, lembrando que o álbum chegou ao 9º lugar na lista de mais vendidos no Reino Unido – um feito notável para o universo indie no qual o Cribs se encaixa. “Esse é um dos meus discos favoritos”.

Projetos para 2013

Do espírito de liberdade quase punk – da moda à música – que a banda emula, veio o desejo de contradizer os próprios conceitos. Eles, que nunca se imaginaram lançando um disco de greatest hits, estão preparando um, Payola, com lançamento previsto para o ano que vem. “É estranho, não é? Nunca pensei em fazer isso”, diz Ryan, rindo de si mesmo. “Mas eram dez anos, é um número interessante. E fizemos questão que não fosse só uma coleção de singles. Teremos várias músicas lado B. Não somos uma gravadora que lança coletânea só para ganhar dinheiro. Fazemos isso como uma comemoração aos dez anos que tocamos juntos.”

Ryan não é dos mais sentimentais, mas ouvir o material antigo fez com que ele se perdesse em memórias destes dez loucos anos ao lado dos irmãos. “Cada música me trazia uma lembrança diferente. Foi me lembrando dos momentos em que gravamos essas coisas, de ficar até as 3h ou 4h da madrugada trabalhando em cada música”, diz ele.

O Cribs, contudo, ficará em segundo plano para o músico por alguns meses. Ele, agora, mora em Nova York, próximo de Jen Turner, ex-Here We Go Magic. “Ela mora lá, fui há pouco tempo e já começamos a escrever. Fizemos um disco, apesar de não termos nome ainda”, explica. “Se os fãs do Cribs vão gostar?”, ele repete a pergunta. “Eu acho que sim. Acho que tem mais melodia... Na verdade, não. Eu não sei. Sinto que vão gostar, sim”. Vivendo na Big Apple, Ryan agora consegue sentir saudade de Wakefield. “Detestava morar lá. Mas agora, longe de tudo por dez anos, voltar pode ser bom”, diz, dando pistas de que talvez a nostalgia de Payola pode ter deixado alguns rastros.

The Cribs em São Paulo

Quinta, dia 29 de novembro, a partir das 22h

Local: Beco 203 – Rua Augusta, 609 – Consolação – São Paulo.

Ingressos: R$ 70 (1º lote)

Informações: 11 2339-0351 ou no Playbook