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Depois de treze anos preso, rapper Dexter comemora a liberdade

"Estou renascendo agora", diz o músico que faz show com participações de Guilherme Arantes, Péricles, Mano Brown e outros

Lucas Reginato Publicado em 19/04/2013, às 11h09 - Atualizado às 11h11

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Dexter - Guilherme Kastner / Divulgação
Dexter - Guilherme Kastner / Divulgação

“A opinião dele é absurda, são seres humanos”, revolta-se Dexter ao saber que, em depoimento sobre o caso Carandiru, o ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB) afirmou que a entrada da polícia no presídio foi “necessária e legítima”. “Este não deve ser o tratamento a ser dado a quem cumpre pena, eles já estavam cumprindo pena.” O rapper, de 39 anos, fala como alguém que conhece de perto o sistema carcerário brasileiro – ele esteve, afinal, durante treze anos atrás das grades. “Eu passei pelo sistema, sei onde tudo começou. Eles vieram naquela de matar mesmo. Como eles sempre fazem, estavam fazendo há pouco tempo nas periferias de São Paulo.” E a experiência deixou poucas esperanças em relação à punição dos culpados pela morte de 111 detentos no massacre de 1992: “Acho que não vai dar em nada. A polícia é treinada para matar, autorizada para isso”.

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O Carandiru foi desativado em 2002, mas o sistema carcerário brasileiro não mudou muito. “Seres humanos não são vinhos, não melhoram só de ficarem guardados”, repete três vezes Dexter ao falar sobre a prisão. “Não funciona porque não existe uma política de reeducação, de reinserção. E até difícil falar de reeducação para pessoas que nunca foram educadas. Uma vez na prisão eu vi uma frase que eu lembro até hoje: ‘Cuidem das nossas crianças hoje para que amanhã vocês não tenham que prender, nem bater, nem matar os adultos’.” E, mesmo fora de lá, o problema continua a incomodar o rapper: “Nunca mais eu vou conseguir ser um cara 100% livre enquanto um dos meus estiver lá dentro. Porque eu sei o que eles passam”.

“Eu não sinto orgulho nenhum do que eu fiz. Mas eu sinto orgulho de em pouco tempo ter percebido que aquela não era a minha vida e ter voltado a desenvolver meu dom”, afirma o rapper que garante que se dependesse do sistema carcerário até hoje estaria no crime.

Se não é completa, a liberdade de Dexter hoje, claro, é bem maior do que há dois anos, quando estava no que ele chama de “exílio”. “Descobri a liberdade nas pequenas coisas”, conta. “Eu tenho uma música que diz que eu queria pisar na terra descalço, porque na prisão é só concreto e aço”, explica. “Quantas vezes eu quis chupar uma bala na cadeia e não tinha. Eu tinha que ficar com vontade de chupar uma bala, e hoje eu valorizo os meus dez centavos, valorizo a minha caminhada até o bar e valorizo o gosto da bala.”

Por isso seu novo DVD, que será gravado neste domingo, 21, em São Paulo, recebeu o título de A Liberdade Não Tem Preço. “Estou renascendo agora. São dois anos na rua, é um renascimento. Mas não fiquei totalmente inerte na prisão, eu coloquei disco na rua, coloquei música na rua. Agora eu queria aprender mais, ler partitura.” Ele explica, ainda, que o conceito de liberdade neste caso vai além. “Não é só a minha liberdade, mas a liberdade em geral, da música”, diz ele, que no palco vai contar com diversas participações especiais de gente como Péricles e Paula Lima, além de parceiros mais antigos como Mano Brown e Thaíde. Nenhum dos nomes que se apresentarão ao lado de Dexter, entretanto, chama mais atenção que o de Guilherme Arantes. “Imagina você”, brinca - “trombei ele no estúdio, contei para ele sobre os meus trabalhos, falei da festa e ele falou: ‘Eu quero participar’. É um cara de quem eu gostava nos anos 80, escutava muito quando era criança.”

A maioria das participações especiais em A Liberdade Não Tem Preço tem origem em parcerias feitas para discos anteriores e, também, para o novo disco de Dexter, Flor de Lótus, que ele promete para o fim deste ano. “Inevitavelmente algumas músicas vão falar do exílio, mas a maioria vai falar da liberdade, do que eu estou vendo na rua. Infelizmente alguns temas se repetem, o preconceito racial, a política do nosso país, todas essas mazelas que a gente sofre. Eu vejo o rap com esse papel. É uma música que além de entretenimento leva consciência”, diz o rapper, com domínio da causa. Afinal, se não foi o sistema carcerário que o ajudou a superar seus problemas, sorte dele que teve o hip-hop. “É uma cultura que salva vidas.”

Dexter e Convidados em São Paulo

Domingo, dia 21 de abril, às 15h30

Carioca Club - Rua Cardeal Arcoverde, 2.899 - Pinheiros

Ingressos: 1º lote - R$ 25 (pista)

Onde comprar: no site, no Beatz Shop (Rua 24 de maio, 62 - subsolo loja 50) e no Carioca Club.