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As dores de crescer

"Foi um longe caminho entre a festa de aniversário [em que a banda fez o primeiro show] e o Brasil", diz Kip Berman, vocalista e guitarrista do Pains of Being Pure at Heart, que se apresenta em SP nesta quinta, 15

Stella Rodrigues Publicado em 15/09/2011, às 10h01 - Atualizado às 11h49

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The Pains of Being Pure at Heart - Foto: Reprodução/Facebook oficial
The Pains of Being Pure at Heart - Foto: Reprodução/Facebook oficial

Era uma vez um escritor que colocou no papel uma história infantil e nunca publicou. O tema central: um indivíduo que abre mão de amizade e felicidade em troca de conhecimento, poder e influência. Então, ele percebe que a coisa mais importante, quando se é jovem, é o tempo passado com os amigos, viajando, compartilhando experiências. Era uma outra vez um grupo de amigos que se reuniu para fazer uma banda com o único intuito de sonorizar a festa de aniversário de um deles.

O nome da história infantil e da banda: The Pains of Being Pure at Heart. Claro que não se trata de uma coincidência, o autor em questão é amigo de Kip Berman, vocalista e guitarrista do grupo que, após a tal festa – e de ter se batizado com o título do livro, entrando para o time de bandas indie de nomes longos e misteriosos - cresceu. Gravou discos, fez turnê e hoje descobre quais são as dores de ser uma banda indie que tenta ser pura em seu propósito: tocar música que os divirta, viajar com os amigos fazendo shows e trocar experiências.

O Pains vem ao Brasil para participar, nesta quinta, 15, do FourFest, evento com o objetivo de abrir espaço no país para artistas com destaque na cena internacional. Também integram o line-up o Ariel Pink's Haunted Graffiti e a brasileira Some Community.

Kip, em entrevista à Rolling Stone Brasil, se mostrou altamente entusiasmado com o conceito. “De um ponto de vista puramente egoísta, estamos animados de ter a oportunidade de ir ao Brasil, o que é uma chance bastante incomum para bandas indie como a nossa. E o mais legal de festivais internacionais, para a gente, é a chance de ver outras bandas que dificilmente veríamos em outra ocasião. Assim como a gente tem dificuldade para chegar ao Brasil, eles têm dificuldade para chegar aos Estados Unidos.”

Transparecendo sempre essa joie de vivre (e de fazer música) de jovens artistas curtindo a vida na estrada, Kip associa frequentemente o nome da banda ao espírito independente que conduz o trabalho dela. “Viajar pelo mundo tocando músicas pop não é uma tarefa pesada, é um privilégio! É divertido! Muito mais do que ir para um escritório todo dia. Somos todos amigos, viajamos muito, e isso aparece na música. Ela não tem raiz em uma ambição mercenária, e sim em tocar pop com seus amigos, sem a ideia de ser bem-sucedido a qualquer custo.” O músico acredita que essa antiga dicotomia– que ele define quase à la Holden Caulfield (o angustiado protagonista de O Apanhador no Campo de Centeio) –, de ter sucesso versus não comprometer o propósito original, é um dilema que toda banda ainda enfrenta. “Você tem que ter confiança o suficiente no que está fazendo para aguentar a crítica de quem olha torto para o que você faz, por não ser aquilo que é esperado, ou sei lá. Porque as pessoas vão tentar ridicularizar essa coisa que é a que você mais gosta na vida.”

Com uma sonoridade autodefinida como “noisy pop” (algo como “pop barulhento”), Berman explica o conceito como algo de fácil absorção, mas sem ser escandaloso. “Letras sobre sentimentos, canções entre três e quatro minutos, versos, refrão”, simplifica ele. Todos fatores que, somados, caem no amplo campo do pop. “Embora existam muitas maneiras de se definir música pop, para mim essa é uma muito boa. A parte do barulhento é para distinguir daquele pop que... sabe, não é tão barulhento”, Berman diz, rindo. Acrescente a esses versos e refrões sobre amor um quê de introspecção, elemento do qual ele faz questão. “Isso é uma das coisas que sempre gostei no Nirvana, às vezes eles tinham uma música ensolarada com uma mensagem sombria. Se você faz uma música mórbida com letra mórbida, acaba ficando insuportavelmente desanimador. Não é algo que me atrai.”

Alan Moulder

Este ano, o Pains of Being Pure at Heart lançou seu segundo disco de estúdio, Belong. O trabalho contou com a mixagem de Alan Moulder, que já trabalhou com nomes como Foo Fighters, The Killers, Nine Inch Nails e Depeche Mode, para citar alguns. “Alan Moulder é um daqueles cinco nomes que as pessoas conseguem lembrar de cabeça. Lançamos nosso primeiro disco em 2009 e ficamos sabendo que ele virou fã e queria trabalhar com a gente no futuro. Foi outra ocasião de algo que raramente acontece com bandas do nosso nível.”

O Pains, que sempre foi muito fã de Smashing Pumpkins (“era tão poderoso e bonito, muito diferente de tudo que estava sendo feito na época, era tudo mais agressivo”), de repente se viu trabalhando ao lado do produtor de Mellon Collie and the Infinite Sadness. Olhando para trás, para aquele show despretensioso na festa de aniversário em que tudo começou (da tecladista da banda, Peggy Wang), Kip Berman analisa: “Foi um longe caminho entre a festa de aniversário e o Brasil. Faz cinco anos isso”, calcula. “Muita coisa foi sorte. Existem tantas bandas talentosas que não conseguem as mesmas chances, como ir ao Brasil, lançar discos. Não sabemos porque a sorte sorriu para a gente e sempre temos em mente que não somos melhores, mas ficamos felizes que nosso trabalho deu certo e estamos indo bem”, encerra.

FourFest

The Pains of Being Pure at Heart, Ariel Pink's Haunted Graffiti e Some Community

15 de setembro

Clash Club - Rua Barra Funda, 969 - Santa Cecília

R$ 160 ou R$ 100 (promoção, dois ingressos por R$ 200) - há meia entrada

Informações: http://fourfest.com.br/ingressos