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Flávio Renegado destaca a importância do dia da consciência negra

Rapper mineiro lançou recentemente o EP Relatos de um Conflito Particular

Thiago Neves Publicado em 20/11/2015, às 11h30 - Atualizado às 15h28

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O rapper mineiro Flávio Renegado - Divulgação
O rapper mineiro Flávio Renegado - Divulgação

O dia da consciência negra foi criado em 2003 e instituído em âmbito nacional em 2011. Entretanto, o gancho histórico é com o ano de 1695, quando, em 20 de novembro, Zumbi dos Palmares foi morto pelo grupo comandado por André Furtado de Mendonça, tendo a cabeça cortada, salgada, e entregue ao governador Melo e Castro.

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A barbaridade do crime choca, entretanto, é a correspondência histórica de um país no qual negros e brancos, na prática, ainda não têm os mesmos direitos. Para o rapper Flávio Renegado, ações como o Projeto de Lei 4.417/2012, que acaba com o auto de resistência, são instrumentos fundamentais para que o racismo institucional acabe. “Quantos jovens negros são mortos todos os anos? Isso, em 2015, é inadmissível, não corresponde ao tempo no qual vivemos”, protesta o artista mineiro.

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A indagação de Renegado trata de um ponto central da discussão étnica no Brasil. Segundo relatório divulgado Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2015, o risco de um jovem negro ser morto supera em 2,5 vezes a possibilidade de um jovem branco ser vítima de um homicídio. Em 2012, 30 mil pessoas entre 15 e 29 anos morreram no país. Desse total, 77% eram negros.

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Diante de tal cenário, Renegado entende a música como algo que transcende a experiência artística. Para ele, o rap pode ser uma via muito efetiva de problematização, já que pode expor, de forma clara e direta, o enorme abismo social existente. Em seu novo trabalho, o EP Relatos de um Conflito Particular, o músico fala sobre pecados capitais discutindo a estrutura da sociedade na qual cresceu. “Fomos criados para a culpa, isso é um fato. E esse imaginário católico incide ainda com mais força sobre aqueles mais frágeis. Existe um movimento crônico de culpabilização da vitima. O estado, o capitalismo e a religião dificilmente terão de responder pelos seus atos.”

“O EP é um grito, pois ainda há muito a ser dito", continua. "O racismo não vai acabar de uma maneira amistosa, há uma luta pedagógica a ser travada. A presença do negro incomoda e faz com que as pessoas manifestem tudo que há de pior na formação do nosso país. Mas o nosso silêncio e o medo são alguns dos nossos piores inimigos”, completa o músico.

Apesar de ter uma inevitável preocupação em relação aos futuros avanços, o rapper segue incansável na luta, uma das bandeiras defendidas por ele ao longo da carreira: “São negros os jovens que morrem nas periferias diariamente. Mas essas mortes devem ser entendidas de uma maneira mais ampla, pois não estamos falando de casos isolados.” No dia em que se fala sobre a necessidade da afirmação do povo negro, Renegado, assim como outros artistas e ativistas, é peça-chave na desconstrução de um tabuleiro disposto antes mesmo de 1695, e que, como clama o rapper, não pode mais fazer parte do momento em que vivemos.

Ouça o EP Relatos de um Conflito Particular