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Êxodo: Deuses e Reis, do diretor Ridley Scott impressiona visualmente, mas fica devendo nas escolhas narrativas

Longa que estreia nesta quinta, 25, tem Christian Bale, John Turturro e Joel Edgerton no elenco

Paulo Cavalcanti Publicado em 25/12/2014, às 10h28 - Atualizado às 15h03

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Exodus - Divulgação
Exodus - Divulgação

Desde o início, a indústria cinematográfica se apoiou na Bíblia para criar produções épicas e espetaculares. Isto seguiu por décadas, mas, nos últimos tempos, as histórias de deuses e profetas começaram a ser consideradas ultrapassadas e fora de sintonia com os ares contemporâneos. Há alguns meses, o gigantesco Noé,de Darren Aronofsky, parece ter reativado o ciclo.

Nesta quinta, 25, estreia Êxodo: Deuses e Reis, do diretor Ridley Scott, que oferece um novo olhar à conhecida saga de Moisés. No antigo Egito, o faraó Seti I (John Turturro) se divide entre os dois filhos: o guerreiro Moisés (Christian Bale), sempre leal e confiável, foi adotado quando pequeno e, assim, não pode, oficialmente, dar continuidade ao legado de Seti embora seja o preferido. Na linha imediata de sucessão está Ramsés (Joel Edgerton), filho legítimo de Seti, que é indeciso, inseguro e ineficiente no campo de batalha. Moisés vai até a cidade de Pithom para investigar a corrupção do Vice-Rei Hegep (Ben Mendelsohn). Moisés logo percebe que os escravos hebreus são submetidos a crueldade e injustiças. Lá, conhece o ancião hebreu Nun (Ben Kinsgley), que revela que Moisés, na verdade, também faz parte da linhagem de seu povo e é o líder esperado para livrá-los da tirania. De volta a Mênfis, Seti morre e Ramsés é coroado como o novo faraó.

Por meio de uma série de intrigas tramadas por Hegep, o agora Ramsés II descobre quem Moisés realmente é. O faraó bane o meio-irmão com a intenção de executá-lo em seguida. Mas Moisés escapa dos assassinos e perambula pelo deserto e conhece pastores bondosos. Depois de ser acolhido entre eles, constitui família. Aparentemente, o rejeitado fica contente em levar uma vida de pastor de ovelhas em Midian,um local distante do Egito. Mas ele é atormentado com a visão frequente de um garoto de 11 anos chamado Malak (Isaac Andrews) que, por meios oblíquos, diz ser Deus. Com a fé colocada em cheque, Moisés deixa a mulher Zípora (Maria Valverde) e o filho Gérson para trás. Resolve, então, seguir o que seria o seu destino, que é libertar 600 mil escravos e levá-los à Terra Prometida. Para isto, ele se junta a figuras da resistência como Josué (Aaron Paul). Agora, Moisés vai ter que lutar contra o meio-irmão Ramsés e, no meio do caminho, os dois lados terão que fazer muitas escolhas difíceis.

Êxodo é uma festa visual. A direção de arte e os efeitos 3D em imersão colocam o espectador no meio do Antigo Egito. Os templos e pirâmides são reconstruídos com detalhes deslumbrantes. Já as batalhas e as cenas de multidão têm proporções épicas. As Sete Pragas do Egito são mostradas de maneira gráfica e impressionam. Por outro lado, a famosa cena do Mar Vermelho se abrindo pode decepcionar alguns, mas tem a ver com a forma como o Êxodo dos hebreus é relatado. Com duas horas e meia de duração, o filme pode parecer longo, mas ainda assim não consegue contar tudo o que acontece no Livro do Êxodo.

Talvez o grande problema esteja em certas escolhas narrativas feitas por Scott e seu batalhão de roteiristas. Nem sempre fica claro se o Deus de Moisés é verdadeiro ou se ele é algo que o patriarca imagina para seguir com sua inevitável cruzada de fé. Se o Deus de Moisés realmente ordena as Sete Pragas que se abatem sobre muitos inocentes do Egito, a impressão que fica é a de que ele não passa de um garoto petulante e vingativo. Outro problema de Êxodo é que Christian Bale não oferece a maturidade e autoridade para encarnar um patriarca maior do que a vida como Moisés. Já Joel Edgerton, como o problemático Ramsés, é muito mais convincente em suas angústias existenciais. Apesar dos efeitos sensacionais e do andamento realista, mais adequado a um público moderno, Êxodo: Deuses e Reis não consegue chegar perto do clássicos Os Dez Mandamentos (1956), que ainda é a versão definitiva da saga de Moisés.