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James Murphy conta como foi produzir o disco Reflektor, do Arcade Fire

“Eu não estou animado por ser diferente. Eu estou animado por ser um bom álbum”, ele diz

PATRICK DOYLE Publicado em 10/11/2013, às 11h52

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James Murphy - Divulgação
James Murphy - Divulgação

Três anos depois da sua despedida do LCD Soundsystem, James Murphy está mais ocupado do que nunca. Ele acabou de lançar Little Duck, um curta-metragem do Canon’s Project Imagination. Com Ron Howard como mentor, Murphy escolheu dez fotos de milhares enviadas na internet para inspirar cenas do curta, filmado com três atores em pouco mais de um mês no Japão. Em uma entrevista exclusiva à Rolling Stone EUA, Murphy fala sobre fazer o filme enquanto coproduzia o disco Reflektor, do Arcade Fire. “Eu estava escrevendo o script em Montreal trabalhando no álbum do Arcade Fire. Acordava, tipo, seis da manhã, participava de conference calls, escrevia o script, ia para o Arcade Fire, voltava para casa à noite, mais conference calls e daí tomava uma taça de vinho e ia dormir e começava tudo de novo”, revela Murphy. “Tinha um bar de vinho tão bom em Montreal que eu me sentia bem.”

Como é trabalhar com Ron Howard no primeiro filme que você dirigiu?

Ele é incrivelmente doce. Realmente nada assustador. Nada assustador é uma descrição estranha. Ele é supereducado e doce e legal. Acho que isso não é uma surpresa, porque ele parece ser bem legal. Sou sempre surpreendido pelo quão otimistas as pessoas muito bem-sucedidas são às vezes. Penso que às vezes pessoas são bem-sucedidas por serem otimistas. Acho que às vezes uma dose de otimismo é essencial.

A primeira vez que nos vimos foi em Los Angeles. Ele tinha feito a lição de casa. Fiquei chocado. Sou muito mais preguiçoso. Eu não me preparo muito bem. Sempre fico ligado naquilo que estou fazendo no momento e, de repente, apareço em um lugar e não estou realmente preparado. Mas ele estava muito bem preparado.

Você tinha milhares de fotos disponíveis para escolher. Como você fez a seleção?

Eu decidi não pensar em nenhuma história antes de escolher. Eu não pensei em nada até sentar e olhar as fotos. Acho que imagens e histórias emergiram de certas fotos. Então comecei a escolher coisas que começaram a me ajudar a ter ideias para uma história, assim como fotos que eu gostei esteticamente. Eu queria fotos mais próximas de fotos instantâneas, mais simples. Porque eu sinto que, com a era dos computadores, esse é o elemento que falta na fotografia, mesmo que seja na fotografia amadora. Direcionar sua câmera para algum lugar e tirar a foto e é isso aí, sabe? Então, não sei. Eu só levei realmente a sério e fui a diante. Tudo contava um tipo de história e parti daí.

Dirigir é parecido com produzir discos?

Bem, achei que fazer um filme é bem mais fácil do que meu outro trabalho. Como diretor, as pessoas te perguntam coisas o tempo todo, tipo, “quais meias”? E é assim que tudo funciona. Na minha banda, ninguém me pergunta nada. Você tem um produtor e alguém diz: “São 21h, precisamos saber, porque a luz está indo embora”. Se eu não faço alguma coisa com a banda, literalmente nada acontece. Achei ótimo responder perguntas. “O que você acha disto aqui”? E eu digo: “Não, mais para cá”. E ninguém discute comigo. Eu realmente gostei.

Recentemente entrevistei Win Butler e ele tinha muitas coisas positivas a dizer sobre sua contribuição para Reflektor.

Falamos de trabalhar juntos desde o segundo disco deles. Eu lembro quando Neon Bible estava sendo feito, e eu fui visitá-los quando estavam na igreja. Mas quando eles estavam prontos para começar, eu ia fazer um disco. Depois daquilo, tirei um ano de sabático, e eles também. Aí eles voltaram e fizeram The Suburbs quando eu fui fazer Sound of Silver. Foi o problema de timing de novo.

A gente se comunicava regularmente, então não foi que do nada recebi uma ligação do Win Butler. Inicialmente, ambos sentimos que a melhor coisa era “trabalhar em duas músicas, ver o que acontece”. Porque nunca se sabe. Poderia ser que passássemos meses planejando, chegássemos lá e percebêssemos que era um erro terrível. É, pode acontecer. É como um casamento, cara. Eu tenho um processo de trabalho que acho que não é tão intrusivo.

Essa é uma situação legal na qual eles disseram coisas legais sobre o trabalho que eu fiz e eu disse que não fiz muita coisa. Tudo que eu precisava era ajudar a dar clareza de um jeito diferente, então é bem divertido e legal e todo mundo foi completamente respeitoso um com o outro.

Ele me disse que quando a banda deixou a Jamaica no começo do processo, eles tinham 50-60 músicas.

É, eles tinham uma tonelada de músicas. Mas eles estavam reduzindo. Quando eu cheguei, eles já estavam focando em 20 ou 25 músicas. No final, contudo, duas músicas que não estavam na lista deles foram escolhidas. Tipo, teve uma que foi escolhida porque eu amava, mas que todo tinha esquecido por um tempo. [Risos]

O que te surpreendeu nas músicas quando Win as tocou para você?

Caramba. Estou tão imerso que é difícil de lembrar o que senti quando as ouvi. Tudo que eu sinto é em relação ao trabalho. Quando começamos a ouvir as coisas, pensei: “Ah, a bateria precisa ser gravada de maneira mais seca” ou “isso está muito confuso”. Regine estava superfocada nas rimas e isso é algo que eu tendo a me focar. Eu penso nessa época na qual eu trabalhei com uma pessoa por vez. Eu tinha um dia para a Regine, um dia para o Win, um dia para o Jeremy, um dia para o Tim, você sabe.

Soa como um bom álbum. Mas então, de novo, eu me sinto assim em relação a minha própria música, também. Alguém vai ficar: “Isso é louco”! E eu: “Não me parece nada louco”.

Muitas faixas, como “Reflektor” ou “You Already Know”, soam influenciados por música disco e dance. Vocês ficaram tocando esse tipo de coisa no estúdio ou escutando alguns dos seus discos favoritos?

Não muito. Digo, um pouquinho como pano de fundo, mas não disco e essas coisas. “You Already Know” soa como uma faixa pop feliz/triste saída da minha própria boca. Nós, honestamente, mal tivemos tempo para ouvir qualquer coisa. O que ouvimos? Eu estava tentando não trazer muita coisa para ouvir a não ser sequências simples de piano, sons ambientes techno e coisas assim.

Qual faixa do Arcade Fire levou mais tempo para aperfeiçoar?

A faixa mais difícil na qual trabalhei foi “Awful Sound”. São três músicas diferentes em uma. Você trabalha nelas separadamente e é a faixa que eu sinto que mais trabalhei e me apeguei, de alguma maneira. Tinham várias texturas diferentes nela e coisas grandes e pequenas que aconteciam em momentos diferentes. Tinha algo meio anos 70, o que é legal.

Como fã, por que você está animado em relação à Reflektor?

Eu não estou animado por ser diferente. Eu estou animado por ser um bom disco. Estou animado e orgulhoso porque trabalhei nele, então me sinto conectado a ele de um outro jeito.