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Lollapalooza 2016: como o Twenty One Pilots chegou às paradas recusando o caminho mais fácil

Banda é a novata que mais ganhou notoriedade nas paradas nos últimos meses: em meados de janeiro, tinha um single no Top 10 (o rap-rock “Stressed Out”) e o terceiro álbum mais vendido nos Estados Unidos, perto de Justin Bieber e One Direction

Andy Greene Publicado em 13/03/2016, às 10h37 - Atualizado às 13h48

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<b>JUVENIS</b><br>
Josh Dun e Tyler Joseph: ídolos adolescentes - Jabari Jacobs/Divulgação
<b>JUVENIS</b><br> Josh Dun e Tyler Joseph: ídolos adolescentes - Jabari Jacobs/Divulgação

Quando Tyler Joseph, líder do Twenty One Pilots, rola sua lista de contatos na tela do celular, aparecem centenas de nomes que ele não reconhece. São jovens de Columbus, Ohio, cidade dos Estados Unidos onde a banda surgiu, que foram os primeiros fãs, desde a época em que Joseph ia de porta em porta entregando ingressos para shows da dupla. No momento em que isso passou a consumir tempo demais, ele e o baterista, Josh Dun, começaram a pedir aos fãs que os encontrassem em uma mesa da lanchonete Chick- Fil-A, na praça de alimentação do Shopping Polaris. Nos dias de show, a mãe de Joseph ficava do lado de fora do local e tentava vender ingressos para universitários que passavam por ali. “Ela dizia: ‘Venham ver meu filho tocar música’”, lembra Joseph, que tem 27 anos, mas poderia se fazer passar por um adolescente.

Isso aconteceu há apenas quatro anos. A abordagem humilde de Joseph e Dun os impulsionou, para a surpresa dos dois, para muito, muito além do centro de Ohio. O Twenty One Pilots, atração do Lollapalooza Brasil neste domingo, 13, é a banda nova que mais ganhou notoriedade nas paradas nos últimos meses: em meados de janeiro, tinha um single no Top 10 (o rap-rock “Stressed Out”) e o terceiro álbum mais vendido nos Estados Unidos, perto de Justin Bieber e One Direction.

No palco, Joseph toca baixo, piano e ukelele quando não está zanzando de maquiagem borrada e máscara. Dun, um ex-skatista de sorriso fácil, ajuda o duo a soar como uma banda de verdade, disparando faixas pré-gravadas enquanto toca bateria. É uma combinação aparentemente estranha, mas que faz todo sentido para a base de fãs adolescentes da dupla. “Havia muita pressão para encontrarmos um gênero e nos agarrarmos a ele”, afirma Joseph. “As pessoas sempre me diziam: ‘Você não pode ser tudo para todos’. Eu respondia: ‘Não estou tentando ser! Estou sendo o que quero ser para mim mesmo’.”

O nome Twenty One Pilots é uma espécie de filosofia para Joseph e Dun: veio de uma peça do dramaturgo Arthur Miller, All My Sons, que Joseph leu quando estudava na Ohio State. Fala sobre um homem que propositadamente envia partes defeituosas de aviões à Europa durante a Segunda Guerra Mundial, com medo de perder dinheiro se confessasse o problema. A decisão resulta na morte de 21 pilotos. Isso tocou Joseph, que recusou uma bolsa de estudos como jogador de basquete na Otterbein University para se concentrar na música. “Consegui me identificar com o fato de que tomar a decisão certa na vida às vezes dá mais trabalho”, diz o músico. “Leva mais tempo e pode dar a impressão de que você está andando para trás.”

Até hoje, Joseph e Dun avisam um ao outro que estão “mandando as partes” se acham que estão seguindo o caminho fácil. À medida que a popularidade dos dois aumentou, eles recusaram contratos com gravadoras que davam direito a bônus, atuaram como os próprios roadies muito depois de lotarem lugares grandes e se recusaram a trocar a van que usavam por um ônibus de turnê. Mais recentemente, rejeitaram ofertas consideráveis de patrocínio para a turnê de 2016.

Joseph e Dun foram criados por famílias conservadoras e religiosas. O pai de Joseph era diretor de um colégio cristão que ele frequentou – antes disso, o rapaz foi educado em casa pela mãe. “Falei que queria ser jogador de basquete e ela me fez dar 500 arremessos todo dia no quintal”, conta. “Se ficasse mais perto da cesta e fizesse bandejas, ela não contava. Batia na janela perto da cozinha e apontava para a linha de 3 pontos. Tinha de acabar antes do jantar e, se não acabasse, não poderia comer.”

As coisas eram ainda mais rigorosas na casa de Dun. Videogames e a maioria dos discos de rock ou hip-hop eram proibidos. “Eu escondia álbuns como Dookie (1994), do Green Day, embaixo da cama”, conta o baterista. “Às vezes meus pais os achavam e ficavam malucos. Encontravam uma alternativa cristã, como Relient K, e me faziam ouvir aquilo.”

A mãe de Dun aparece no clipe de “Stressed Out”, junto aos outros membros das famílias da dupla, que cantam “Wake up, you need to make money” [“Acorda, você precisa ganhar dinheiro”] em uníssono. “Quando se é mais novo, o dinheiro é importante. Agora, tenho uma carreira em que ganho o suficiente para viver, mas o que quero mesmo é dá-lo aos meus pais, à minha família, à caridade.” Em uma amostra de coerência, Joseph ainda dirige pela cidade em um Chevy Impala caindo aos pedaços. Nos próximos meses, diz que a banda planeja abrir sua própria instituição beneficente.

Além da tranquilidade financeira, a ascensão do Twenty One Pilots também significa que a banda parou de se desculpar por sua mistura nada ortodoxa de estilos. O single sucessor de “Stressed Out” foi “Lane Boy”, uma faixa com toques de reggae que é quase uma declaração, com Joseph cantando: “Dizem ‘Fique na sua faixa, menino/ Mas vamos para onde quisermos”

“É verdade que, se você olhar para a descrição da nossa música, ela não parece interessante”, afirma Joseph. “Eu ria e concordava com as pessoas quando diziam que ela não fazia sentido. Vou parar de dizer isso. Nossa música se encaixa em um conjunto de obra, porque nós a fizemos.”