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Maratona Musical

Em seu desfecho, festival Mimo celebra o encontro entre a música erudita e popular em Pernambuco

Por Antônio do Amaral Rocha Publicado em 10/09/2010, às 16h22

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MIMO 2010 - Na foto destaque para Mike Stern Trio - Beto Figueiroa
MIMO 2010 - Na foto destaque para Mike Stern Trio - Beto Figueiroa

Após sete dias de evento, a Mostra Internacional de Música (Mimo), em Olinda (PE) contabilizou um público de cerca de 90 mil pessoas. No total, foram 37 concertos gratuitos, envolvendo mais de 500 músicos. Iniciada no dia 2 de setembro, esta sétima edição também aconteceu nos espaços das diversas igrejas da cidade. Os shows do dia 6 tiveram ocupação máxima provocada pelo feriado. Neste dia, a banda Paraibones, uma reunião de naipes de trombones formada por músicos locais, iniciou a maratona diária de quatro espetáculos, tocando no palco da Igreja do Monte, uma mescla de temas eruditos e populares.

Em seguida, na Igreja do Mosteiro de São Bento, foi a vez do Hugo Wolf Quartett, da Áustria, uma reunião nada convencional, apesar dos clássicos violinos, cello e viola. A recepção do público foi calorosa, com a execução de temas de Mozart e Beethoven com rara competência.

Já o saxofonista Leo Gandelman e Novo Quinteto ocuparam o palco da Igreja do Seminário de Olinda. Com uma formação que inclui piano, acordeon, baixo, bateria e guitarra, o grupo apresentou temas de Jobim e Radamés Gnatalli, em um verdadeiro passeio entre o erudito e o popular.

Ainda no dia 6, o pianista Wagner Tiso e o trio de cellos Brasil Ensemble deixaram boquiaberta a platéia presente no palco da Igreja da Sé, com execuções de temas de Tom Jobim, Heitor Villa-Lobos e do próprio Tiso. Com a entrada do exímio guitarrista convidado Victor Biglione, o clima de excelência continuou em números que incluíram peças de Jobim, Villa-Lobos, Gilberto Gil e Milton Nascimento. A sequência "Soneto de Separação" e "Bachianas n. 5" foi especialmente emocionante, e foi possível enxergar lágrimas nos olhos de alguns dos presentes. Nesta edição da mostra, Tiso atuou também como compositor-residente e preparou junto com a Orquestra Mimo (formada por músicos locais) a execução da suíte "Cenas Brasileiras", de sua autoria. Com a regência do maestro Guilherme Bernstein, o piano de Tiso e a Mimo exibiram uma riqueza de sonoridades que se destacou em relação às outras atrações do festival.

Na mesma noite, a Orquestra Contemporânea de Olinda se apresentou no palco montado na Praça do Carmo (onde já havia se apresentado Tom Zé na noite anterior). Carregado de metais, o som da banda é eletrizante e soou a carnaval antecipado, botando o público de 10 mil pessoas para dançar. Foi um feliz acerto da direção da mostra em atender a gostos diversos e entender que a música, além da veneração e fruição comedida, também significa festa.

No feriado de 7 de setembro, último dia da maratona, houve apresentações que mostraram o resultados dos cursos de regência e oficinas de instrumentos ocorridas nas Igrejas da Sé e Igreja do Monte. No início da noite, no palco da Praça do Carmo, cerca de oito mil pessoas acompanharam a apresentação de João Gaspar Quarteto, banda instrumental que inclui guitarra, bandolim e violão (Gaspar), teclados (Renato Fonseca), bateria (Cristiano Galvão) e baixo (Ney Conceição), e que mostrou uma eclética mistura de temas de Jacob do Bandolim, Egberto Gismonti, Guinga e Aldir Blanc.

O show de encerramento não poderia ter sido melhor. Na Praça do Carmo, o power trio do guitarrista Mike Stern (com Tom Kennedy no baixo e Obed Calvaire na bateria) trouxe uma jam session de rock, jazz, soul e blues, apesar de o guitarrista transcender os estilos musicais. Stern acompanha os seus próprios solos vocalizando, como se quisesse ensinar à plateia o que está tocando, conseguindo assim uma adesão imediata aos seus dedilhados viajantes e distorcidos. Depois de duas horas de salada sonora (com canja do saxofonista Leo Gandelman), Stern desceu do palco e caminhou até um lugar reservado aos jornalistas e convidados, causando agitação na plateia. Em certo momento, o guitarrista reconheceu o repórter da Rolling Stone Brasil em meio ao burburinho: "So, what do you think?", perguntou. Diante do aceno de cabeça positivo, Stern agradeceu, sorridente e com gestos largos. Fim do show.