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Por dentro do lançamento da edição especial de Nevermind

Krist Novoselic e Butch Vig falam sobre como foi trabalhar em um dos melhores álbuns de rock dos anos 90

Simon Vozick-Levinson Publicado em 24/08/2011, às 18h20 - Atualizado às 19h12

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<i>Nevermind</i> completa 20 anos com lançamento especial - Foto: Reprodução
<i>Nevermind</i> completa 20 anos com lançamento especial - Foto: Reprodução

Em uma tarde em abril de 1990, Kurt Cobain, Krist Novoselic e o baterista Chad Channing chegaram ao Smart Studios, do produtor Butch Vig, em Madison, Wisconsin, após dirigirem por mais de 3 mil quilômetros de Seattle até lá, sem parar. “Eles rodaram em uma van”, conta Vig, “e provavelmente não tomaram banho por três ou quatro dias.”

As canções que o Nirvana começou a gravar naquele dia eventualmente formariam o Nevermind, álbum marco do rock noventista. Oito das demos daquela semana, incluindo testes ferozes com "In Bloom" e "Lithium", fazem parte dos tesouros até então nunca divulgados que integram a edição de vigésimo aniversário do disco, que chega às lojas no exterior em 27 de setembro. O conjunto do material foi montado por Novoselic, Dave Grohl, Vig e pelos gestores do Nirvana, bem como por representantes do espólio de Kurt Cobain. Junto a uma versão remasterizada de Nevermind, os pacotes especiais oferecerão extras incluindo lados B, shows inteiros e versões alternativas.

“Nós estávamos em um quarto de hotel e íamos todos os dias ao Smart Studios para trabalhar”, diz Novoselic. As sessões foram produtivas, mas não sem algumas dificuldades. “Kurt era espirituoso, mas tinha certas mudanças de humor”, conta Vig. “Ele estava totalmente envolvido com aquilo quando, de repente, a luz apagava, ele ia sentar em algum canto e sumir de si. Eu não sabia como lidar com aquilo.” Apesar de o dinheiro para o estúdio ter acabado em cinco dias, as demos gravadas pelo Nirvana naquele período foram suficientemente fortes, a ponto de a banda conseguir um contrato com uma grande gravadora poucos meses depois.

Na primavera de 1991, o Nirvana – agora com Grohl substituindo Channing na bateria – se reuniu em Tacoma, Washington, onde gravaram uma outra leva de demos. “Nós éramos essa banda passageira, bicando os ensaios de outras bandas”, afirma Novoselic. Quando encontravam um lugar para tocar, trabalhavam em qualquer coisa que Cobain trazia no dia.

“Kurt estava muito instigado a compor, então ele sempre tinha alguma coisa”, complementa Novoselic. “Ele tinha certas ideias e trabalhávamos nelas por horas.” Eles gravaram os ensaios em um boombox e aquelas fitas “cruas” – que incluem esboços fascinantes de "Smells Like Teen Spirit" e "Come As You Are" – são outro ponto alto do relançamento. “As gravações do boombox são uma das coisas mais legais para os fãs hardcore”, comenta Vig. “Elas soam bem lo-fi, sujas e bastante primárias.”

Em maio daquele ano, a banda se encontrou com Vig em Los Angeles e deu início às gravações que aparecem em Nevermind. “Estávamos todos muito focados, sem brincadeiras”, conta Novoselic. “Todos os dias íamos para o estúdio às 11 horas da manhã e ficávamos por lá até as 21 horas, apenas fazendo nossas coisas.” Vig, contudo, se recorda de uma programação mais tranquila: “Eles ficavam acordados a noite toda usando drogas e indo para a praia em Santa Monica. Quando eram três ou quatro horas da tarde, iam para o estúdio. Estavam aproveitando muito o momento e sabiam que estavam preparando um grande álbum. Foram tempos divertidos, cara, antes de toda a loucura acontecer”.

A primeira tentativa da banda de mixar Nevermind, porém, foi um desastre. “Estava balanceando as baterias e as guitarras”, lembra Vig, “e Kurt chegava e falava ‘desliga tudo, tire os agudos. Eu quero que soe como Black Sabbath’. Era um saco.” Eles mutuamente concordaram em contratar Andy Wallace, produtor do Slayer, para finalizar o material – o que havia sido descartado permaneceu guardado até esta reedição.

O Nirvana por semanas divulgou o lançamento do álbum (ocorrido em 24 de setembro de 1991) com uma turnê pela Europa. “As pessoas diziam que estávamos estourados, e a gente ficava, tipo ‘sério?’”, conta Novoselic. As então novas estrelas retornaram à Seattle para um lendário show no Paramount Theatre, durante o Halloween daquele ano – a apresentação pode ser ouvida no novo pacote. Olhando para trás, Novoselic enxerga aquela apresentação como o ponto de virada na história do Nirvana: “Aquele foi o fim dos dias de inocência. Dali em diante, as coisas se tornaram muito grandes e foi difícil se ajustar”.

No final do ano passado, enquanto o relançamento estava ganhando forma, Novoselic viajou para Los Angeles para tocar baixo em uma das faixas de Wasting Light, novo álbum do Foo Fighters, produzido por Vig. Grohl, Novoselic e Vig ficaram conversando por horas, quando as gravações terminaram, lembrando o passado. “Ficamos relembrando histórias de nós”, diz Vig. “Foi uma noite especial.”

“Dá, com certeza, para ir para o lado emocional”, acrescenta Novoselic sobre tais memórias. “Estão carregadas de muitas coisas. Mas se você só pensar na música, foi o que manteve o Nirvana unido – gostávamos de tocar juntos e tocávamos bem. Este era o ponto principal e é o que permanece.”