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Rococó, sentimental e, por isso, ótimo, Mary Poppins volta com nostalgia e boas intenções

O Retorno de Mary Poppins, sequência de musical dos anos 1960 com Emily Blunt , é uma produção leve e bem cuidada

Paulo Cavalcanti Publicado em 20/12/2018, às 13h01

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Cena do filme O Retorno de Mary Poppins (Crédito: Divulgação)
Cena do filme O Retorno de Mary Poppins (Crédito: Divulgação)

Mary Poppins estreou em 1964, o mesmo ano em que os Beatles invadiram os Estados Unidos e conquistaram o resto do mundo. De repente, o planeta ficou enfeitiçado com tudo o que vinha da Inglaterra, mesmo que fosse algo rococó e sentimental.

Mary Poppins possuía estas duas características, mas também era cheio de energia, magia e encantamento. A adaptação dos estúdios Disney para a o livro escrito por P. L. Travers acertou em cheio o coração do grande público.

A história se tornou patrimônio de várias gerações. Em uma decisão ousada, os executivos da Disney resolveram atualizar a saga da babá mágica e o resultado está em O Retorno de Mary Poppins, que estreia hoje.

A ação se passa cerca de 20 anos após tudo o que aconteceu no Mary Poppins original. Os dois filhos do casal Banks agora estão crescidos: Michael (Ben Whishaw) é um viúvo com três filhos (Pixie Davies, Joel Dawson e Nathanael Saleh) e Jane (Emily Mortimer), assim como a mãe, também é ativista. O melhor amigo de Jane é Jack (Lin-Manuel Miranda), um acendedor de lampiões das ruas de Londres. Jack foi aprendiz de Bert (Dick Van Dyke no filme original).

Michael gostaria de ser artista, mas trabalha como caixa de banco. Depois que se tornou viúvo, suas finanças se desorganizam. Agora, pressionado pelo malvado banqueiro William Wilkins (Colin Firth) ele está prestes a perder a casa – ele tem poucos dias para quitar a dívida, mas não possui centavo algum em sua conta. Em meio à crise, dos céus, ressurge Mary Poppins (Emily Blunt).

Naturalmente, Mary Poppins volta para tentar colocar ordem ao caos que reina na vida dos Banks. Mas não está em jogo apenas a questão da iminente perda da casa. Ela quer levar um pouco de mágica à vida das três crianças, que vivem no ambiente soturno sustentado pelo desencantado pai delas.

A partir daí, são mais de duas horas de viagens surreais, interlúdios musicais e digressões por Londres afora. Até que Mary Poppins desapareça novamente entre as nuvens.

Se o enredo descrito acima parece um tanto familiar, basta dizer que O Retorno de Mary Poppins, apesar de ser tecnicamente uma sequência, mais se assemelha a um remake do filme original. O diretor Rob Marshall (Chicago, Memórias de Uma Gueixa), atualizou o enredo e reciclou várias situações e números musicais. O filme é uma homenagem bem intencionada, incrivelmente bem produzida. O olhar nostálgico é o que mantém o apelo do longa.

As canções criadas por Marc Shaiman e Scott Wittman dão certo dentro do contexto do filme, mas é claro não são memoráveis se comparadas àquelas dos anos 1960 criadas pelos irmãos Sherman, Robert e Richard. Ou seja, aqui não tem nada antológico como "A Spoonful of Sugar", "Supercalifragilisticexpialidocious", "Chim Chim Cher-ee” e “Let’s Fly a Kite”.

Uma pena que as novas canções como “(Underneath the) Lovely London Sky” sejam esquecíveis – cenografia e coreografia criadas por Marshall poderiam se beneficiar muito mais se a parte musical fosse mais consistente.

Mas todos devem se perguntar: como Emily Blunt se sai no papel que foi eternizado por Julie Andrews? Ela até que se sai admiravelmente, sim. Emily canta bem, e a presença dela como Mary Poppins é bem fiel em relação a de Andrews. O resto do elenco também tem bons momentos. Meryl Streep, contudo, faz uma participação em um número musical um tanto confuso chamado “Turning Turtle”.

O filme de 1964 chamava a atenção pelos efeitos visuais, revolucionários para a época. O novo apela muito para o CGI, mas o diretor Marshall se preocupou que tudo parecesse “vintage”. No saldo final, O Retorno de Mary Poppins se mostra charmoso e exótico, um bom passatempo endereçado aos muitos fãs do filme clássico de 1964.