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Um bonitão e um homem e meio

A estreia da nona temporada de Two and a Half Men escorrega no corpo sarado de Ashton Kutcher, mas mantém, de forma geral, o estilo de texto que consagrou a série

Stella Rodrigues Publicado em 20/09/2011, às 02h08 - Atualizado às 12h29

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Two and a Half Men - Divulgação
Two and a Half Men - Divulgação

Se teve uma noite aguardada pelos telespectadores norte-americanos, este ano, foi a desta segunda, 19. Passado o Emmy, realizado no último domingo, 18, este foi o dia em que começou oficialmente a época de retornos e estreias das séries. E uma das atrações que fez parte da largada dessa nova temporada foi Two and a Half Men, agora com Ashton Kutcher no elenco.

A história de como ele foi parar no time de atores é aquela que foi divulgada aos quatro cantos e que começou no início do ano. Em resumo, Sheen, que já tinha um histórico de estampar tabloides com fatos escandalosos de sua vida pessoal, fez comentários politicamente incorretos, para dizer o mínimo, a respeito do criador da série, Chuck Lorre, e foi demitido. Então, iniciou uma verdadeira cruzada contra o programa e o ex-chefe via internet. Nos tempos recentes, uma calmaria pareceu tomar conta do ator, que passou a dar entrevistas bem mais serenas e chegou a desejar tudo de bom aos participantes dessa nona temporada de Two and a Half Men durante sua aparição no Emmy.

Ashton Kutcher no “lugar” Charlie Sheen. Foi só sobre isso que se leu nos últimos meses em publicações especializadas em TV. As aspas são pelo motivo óbvio de que não se trata de uma substituição em si, como aconteceu há muitas décadas, por exemplo, em A Feiticeira (quando saiu o ator Dick York, que vivia o marido da bruxa Samantha, e entrou Dick Sargent para viver o mesmo papel). Se a entrada de Kutcher já estava sendo recebida de forma cética pelos fãs das travessuras tanto de Charlie Harper, quanto de Charlie Sheen, dificilmente o público de 2011 engoliria uma troca de atores desse tipo, para viver o mesmo papel. Ao contrário, Walden Schmidt, personagem que foi introduzido no episódio exibido esta noite, intitulado Nice to Meet You, Walden Schmidt, é um bobão. Se grande parte da comédia nas oito temporadas anteriores se fiava na certeza de que, por menos merecedor que fosse, Charlie se daria bem, agora a dinâmica mudou.

Atenção: o texto abaixo contém spoilers

Walden, conforme já havia sido revelado anteriormente, é um bilionário do ramo da internet. Agora, porém, foi explicado como ele chegou ao status: vendeu uma criação sua ao Zune, aparelho competidor do iPod, que foi descaradamente ridicularizado em uma das cenas do episódio. Também já tinha sido revelado por Jon Cryer (Alan Harper) que há uma certa troca de papeis, em relação à configuração original. Walden faz as vezes do ricaço antes representado por Charlie, porém, sendo ele um coitado depressivo, sofrendo de amor por causa de sua ex, cabe a Alan pegar o personagem novato pela mão, levá-lo ao bar e ensiná-lo que bebida e mulheres são a solução para todos os problemas – assim com Charlie fez por Alan, quando este, recém-divorciado, terminou debaixo da asa do irmão. A dinâmica financeira, contudo, se manteve estável - Alan continua sendo o pobretão em busca de alguém para sugar.

Ashton Kutcher

Ashton, que já teve bons papeis no cinema, parece ter entrado para o elenco de Two and a Half Men de corpo e alma. O ator, nos últimos meses, demonstrou uma verdadeira fome de retornar à TV. Contudo, parece que era apenas em seu corpo que os produtores estavam interessados. Vale fazer a medição da porcentagem de tempo em cena durante o qual Kutcher está mostrando uma quantidade generosa de pele, encantando as personagens, que se apaixonaram pela beleza de Walden logo de cara (em especial Berta, a empregada, e Judith, ex-mulher de Alan). Os dotes de Kutcher como ator, no entanto, se demonstraram mais tímidos neste primeiro episódio.

A despedida do personagem de Sheen aconteceu, basicamente, em duas cenas. A primeira é a inicial, com o já bastante divulgado funeral de Charlie Harper, repleto de personagens emblemáticos da série e das ex-namoradas do morto (entre elas Courtney, interpretada por Jenny McCarthy), todos caçoando e reclamando das características irresponsáveis do falecido. É neste momento que Rose (Melanie Lynskey) revela um dos segredos mais mal guardados da TV: qual foi o destino trágico de Charlie. A outra é o momento de luto entre Alan e a urna que guardava as cinzas de seu irmão. A linha divisória entre o “tchau” do protagonista antigo e o “oi” a Walden acontece nesta última cena e de forma tão transparente quanto a camiseta molhada que Kutcher porta logo que aparece em quadro.

Uma cena especial foi a que Evelyn (Holland Taylor), mãe de Charlie, está promovendo um open house da mansão de Charlie, que pretende vender, e John Stamos, um dos atores mais cotados para substituir Sheen, faz uma participação. Logo em seguida, dois queridos personagens criados por Chuck Lorre, os que dão o título da série Dharma & Greg, deram as caras para mostrar ao público uma versão mais cínica deles, com um humor mais Two and a Half…, e ficamos sabendo em que pé está a relação do casal nos dias de hoje. Deliciosa a participação dos atores Jenna Elfman e Thomas Gibson.

No mais, a série pareceu ter os elementos de sempre, divertida, porém com um humor que passeia perigosamente pelo pastelão - com piadas fáceis sobre flatulência, exageros cômicos teatrais e personagens com características de personalidade sempre exageradas. O “half man” Jake (Angus T. Jones) ficou apagado no episódio, como acontece em algumas fases da série, normalmente. O destaque, esta noite, era todo do novo homem da casa.

Curiosamente, na noite em que “sua” antiga mansão é ocupada pelo bonitão casado com Demi Moore, Sheen não fez por menos e também esteve em destaque na TV. Logo após a exibição de Two and a Half Men, foi ao ar no canal Comedy Central o roast de Charlie Sheen, em que o encrenqueiro do ano em Hollywood viu e ouviu comediantes caçoarem de sua vida pessoal a título de entretenimento.