Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

A Volta do Man... or Astro-Man?

Cultuada banda de surf music espacial faz turnê no Brasil. Primeiro show é neste sábado, na Virada Cultural

Pablo Miyazawa Publicado em 04/05/2012, às 19h44 - Atualizado às 21h01

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Man... or Astro-Man? - Jon Kownacki/Divulgação
Man... or Astro-Man? - Jon Kownacki/Divulgação

O Man... or Astro-Man? construiu uma mística em torno de si que poucos grupos recentes conseguiram imitar. Surgido no Alabama no início dos anos 90, o quarteto norte-americano foi responsável por uma salada musical e estética das mais interessantes – a velocidade e a crueza da surf music instrumental mesclada à ambiência e ao absurdo típico das histórias e filmes de ficção-científica. Vestindo uniformes espaciais, portando nomes-código bizarros e fazendo shows performáticos e alucinados, o MOAM? se tornou objeto de culto e ganhou seguidores fiéis ao longo da década. Também ajudou o fato de os integrantes se comportarem como autênticos extraterrestres, tanto nos palcos como fora deles.

Longe dos holofotes há anos (apenas aparecendo em alguns shows esporádicos, como no festival SXSW 2010), o grupo voltou a se reunir em 2012 para gravar um novo disco, conduzido por Steve Albini (produtor de In Utero, do Nirvana, e de diversas gravações do próprio Man... or Astro-Man?). Para treinar o novo repertório e recuperar o ritmo da estrada, o Man... or Astro-Man? se prepara para visitar o Brasil pela terceira vez (as visitas anteriores foram em 1999 e 2001), em turnê que começa neste sábado, 5, durante a Virada Cultural (SP). Em entrevista por telefone, o baterista e membro-fundador Brian Teasley (codinome: Birdstuff) celebrou o retorno ao país, relembrou a “crise” que causou o hiato da banda e deu pistas sobre o novo álbum. Leia a seguir a primeira parte da conversa.

O Man... or Astro-Man? já veio muitas vezes ao Brasil. Qual a diferença entre se tocar aqui e nos Estados Unidos?

A gente se divertiu tanto quando fomos, por isso é incrível poder retornar agora. Porque é uma experiência muito diferente. Se você faz muita turnê pelos Estados Unidos, Austrália, esses lugares, você percebe que o público tem esse “jeito” de se comportar. Mas o publico brasileiro tem um estilo selvagem. Eu estava falando com [o produtor] Steve Albini - estávamos gravando juntos essa semana - e ele contou que a banda dele, o Shellac, foi tocar aí há pouco tempo. Conversamos então sobre como o público brasileiro sempre está lá para se divertir. Não é como aquele tipo de “plateia nova-iorquina aborrecida”, pessoas para as quais você precisa se provar em cima do palco. Com vocês é do tipo “o que quer que esteja acontecendo, está acontecendo.” Faz algum sentido o que acabei de explicar? [risos]

Que tipo de memórias o Brasil traz a você? Houve essa vez, em São Paulo, em que o baixista Coco machucou a cabeça com a ponta da guitarra e sangrou no palco.

Sim, ele teve de ir ao hospital... É, a gente teve essa fase em que esse tipo de coisa acontecia nos shows. Mas a gente tenta garantir que ninguém vai se ferir além de nós [risos]. A gente se machucar é uma coisa, mas não queremos que ninguém da plateia sangre também, né? Especialmente por nossa causa. Então, minhas memórias sobre o Brasil são tantas. Conhecemos tantas pessoas lindas. A [gravadora] Motor Music tinha um grande interesse em nos levar para aí. Nós somos do Alabama, então não sei se teríamos tantas chances de viajar pelo mundo se não fosse pela banda, tocar em 37 países... Então, sempre que houvesse a oportunidade de tocar em algum lugar, nós tentávamos imediatamente nos aproveitar disso. E quando nos convidaram para fazer shows no Brasil, ficamos muito empolgados e acabamos conseguindo ir diversas vezes. Inclusive tocamos em cidades pequenas e fizemos contato com gente de verdade e tudo o mais. É realmente fantástico, eu adoro. É com certeza um dos meus lugares favoritos. E eu não estou falando isso como se dissesse isso sempre. Por exemplo, se estou dando entrevista para um holandês, eu não digo “oh, a Holanda é meu lugar favorito”. O Brasil é, literalmente, um dos meus lugares preferidos para fazer shows.

Não se ouviu falar muito sobre o Man... or Astro-Man? entre 2001 e 2009. O que vocês ficaram fazendo nesses anos todos? Por que o hiato?

[Risos] Sabe, a gente virtualmente não foi uma banda por uns... dez anos. A gente se reuniu uma vez em 2005 porque o Touch & Go, nosso selo, estava completando o vigésimo aniversario e diversas bandas - Big Black, Girls Against Boys - se reuniram para o evento. Daí, voltamos e não tínhamos nenhuma expectativa de tocar mais do que dois shows. Depois, rolou um negócio de caridade que quisemos fazer, e pensamos que seria bacana tocar mais algumas vezes. E foi divertido, como voltar aos tempos em que... Sabe, começamos essa banda quando tínhamos 18, 19 anos. A gente vivia junto em uma casa, não havia pressão nenhuma, ou qualquer merda de obrigação da indústria musical para se cumprir – era só tocar música o dia inteiro. Era viver e amar a banda. E agora, apesar de vivermos em cidades diferentes, de ser difícil de se encontrar, a sensação é a de como era antes, porque não há pressão nenhuma. A gente só faz para se divertir, não há prazos, não temos que cumprir essas besteiras da indústria. Porque os poucos anos da minha vida em que isso se tornou um trabalho, ou uma carreira, foi o período em que eu curti menos a música [risos]. E atualmente parece que a gente voltou para aquele tempo em que éramos jovens e felizes.

Será que não deixou de ser divertido tocar na banda justamente por vocês terem feito a mesma coisa por muito tempo?

Bem, o Man... or Astro-Man? fez uns 1600 shows em 10 anos, o que é um negócio bem pesado. Acho que provavelmente viajamos tanto ou mais do que qualquer outra banda nos anos 1990. E quando você faz algo tanto e por tanto tempo, mesmo que adore as pessoas e conviva com gente com quem cresceu junto, tudo acaba sendo excessivo. Quando você é moleque, tudo o que pensa é: “Cara, adoro tocar nessa banda, só quero fazer isso da vida, música o tempo todo”. Daí você começa a fazer sucesso, fica conhecido, compra uma casa, essas coisas, e se esquece de que é preciso sair em turnê para ganhar dinheiro e pagar essas merdas. Só que você não quer mais viajar, porque já fez isso demais. Isso aconteceu com muitas bandas indie norte-americanas nos anos 90, como o Sleater-Kinney, Superchunk, Blues Explosion.... Você não consegue perceber que existe um auge em algum momento, e que é preciso se divertir, porque tudo vai acabar um dia, certo? A vida acaba. E se você não se diverte fazendo suas coisas, tudo acaba sendo uma enorme perda de tempo [risos].

Mas vocês supostamente deveriam viver para sempre, certo? Afinal, vieram do espaço e tudo o mais.

Bem, você sabe que a gente pode se regenerar, e nosso conteúdo pode ser depositado dentro de outras “cascas”. Então, é provável que haverá outras versões de minha pessoa. Uma versão mais caprichada de mim. Eu só espero melhorar a cada vez que for regenerado.

Vocês estão gravando um novo disco. Como está indo?

Está ótimo. Estamos apenas a alguns dias de finalizá-lo. Tem sido divertido, porque gravar com o Steve Albini – que fez vários de nossos discos nos anos 90 - foi quase como uma reunião da turma da escola, sabe? É até estranho como não se perde o jeito. Eu estou tão mais velho, mais sábio, mais ranzinza e tudo o mais, mas me sinto como se fizesse apenas um ou dois anos que eu entrei em estúdio com o Albini – e não mais de 15 anos! Foi bem legal. A gente escolheu de propósito, por ele ser um ótimo documentarista de como uma banda pode soar quando toca junta em uma sala. E a gente ensaiou tanto, gravamos tudo ao vivo, em fitas analógicas, do jeito que preferimos fazer. Isso nos economizou muitas dores de cabeça. Eu queria fugir desse tipo de gravação digital tradicional, em centenas de canais.

Já tem data, título?

Não sei a data exata de lançamento, mas deve ser no início de setembro. Sobre o título: a gente tem uns conceitos, mas não posso revelar ainda nesse momento. A natureza visual da ficção cientifica sempre foi uma parte importante da nossa banda. As coisas começam com uma ideia visual e continuam daí. Não tem a ver apenas com o título ou os nomes das faixas, mas também com a maneira com que vamos executar as músicas, se vamos ou não mudar nossos uniformes espaciais... Estamos pensando em um nível visual nesse momento e criando uns conceitos em cima disso. Não estamos nem perto de decidir. Tenho só uma certeza de como o disco não vai se chamar: Cherry Pi - ou seja, "cherry" com o símbolo do número Pi [risos]. Qualquer outro nome fora esse é possível. É que a gente estava lembrando daquela banda dos anos 80, Warrant, que tem aquela música terrível, “Cherry Pie”. E concluímos que um nome péssimo para o disco seria mesmo Cherry Pi. Mas foi só uma piada.

Leia na semana que vem a segunda parte da entrevista com Birdstuff.

O Man... or Astro-Man? toca neste sábado (5), às 22h30, no palco Barão de Limeira, durante a Virada Cultural. A banda também toca em Bauru, no Jack Music Pub (6/5); em Goiânia, no Bolshoi Pub (9/5); e em São Paulo, no Cine Jóia (10/5).