Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Por que roqueiro criticar funk não faz sentido, segundo Miranda

Dois anos antes de falecer, produtor que trabalhou com Raimundos, Skank e O Rappa compartilhou reflexão contundente sobre o tema

Por Igor Miranda (@igormirandasite) Publicado em 03/05/2023, às 16h05

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Carlos Eduardo Miranda (Reprodução)
Carlos Eduardo Miranda (Reprodução)

Existe no Brasil quem acredite que rock e funk representam verdadeiros opostos. Não era esse o entendimento de Carlos Eduardo Miranda. O lendário produtor musical, falecido em 2018, disse em entrevista dois anos antes ao canal de Amanda Ramalho no YouTube que não faz sentido fã de rock tecer críticas ao funk brasileiro.

Na ocasião, ele havia sido convidado a escolher algumas de suas músicas favoritas de todos os tempos. Uma das opções foi “Computer World 2”, da banda electro Kraftwerk. Inicialmente, o bate-papo abordava a proximidade da música eletrônica em sua origem com o rock, mas acabou chegando às críticas dos roqueiros do Brasil a outros estilos.

+++ LEIA MAIS: Sepultura elogia Anitta e considera parceria: 'Tudo é música' 

Para o produtor, que trabalhou com nomes como Raimundos, Skank, O Rappa e Cansei de Ser Sexy, os comentários negativos sobre o funk não fazem sentido porque o funk traz similaridades com o rock. Não são exatamente opostos como muitos acreditam. O argumento foi fundamentado a partir de um dos maiores roqueiros de todos os tempos: Elvis Presley.

“[Roqueiro hoje é] Pai de família, direitista... aí fico pensando. O roqueiro hoje tem mania de criticar o funk. Dizem que funk tem letras que não dizem nada, que a dança é de put#ria, que a batida é primitiva... isso aí é o Elvis Presley, cara. Quando Elvis surgiu, falavam: ‘esse Elvis faz a dança que requebra o quadril’. A letra ‘whop bop b-luma b-lop bam bom’ [de Little Richard, regravada por Presley] quer dizer o quê? M#rda nenhuma.”

+++ LEIA MAIS: Membros do Kiss e do Twisted Sister se envolvem em polêmica sobre transfobia

“O rock hoje no Brasil é o funk”

A reflexão de Carlos Eduardo Miranda ganhou tons ainda mais polêmicos após o produtor afirmar que o funk representa, na atualidade, o que seria o rock. Foi aí que a conexão com o Kraftwerk se fez presente.

“O rock hoje no Brasil é o funk. E sabe de onde surgiu o funk? Aí é o mais louco: surgiu nesse disco do Kraftwerk, nessa música que eu escolhi.”

Ouça abaixo a música “Computer World 2”, do Kraftwerk, e confira também a entrevista de Miranda.

A opinião de outro grande produtor

Em 2021, o também produtor musical Rick Bonadio demonstrou ter uma opinião diferente da manifestada por Carlos Eduardo Miranda. O profissional, que trabalhou com Charlie Brown Jr, Mamonas Assassinas, Los Hermanos, Titãs e NX Zero, chamou atenção nas redes sociais ao criticar o funk brasileiro após as rappers Cardi B e Megan Thee Stallion tocarem uma versão funk da música "WAP", feita pelo DJ Pedro Sampaio, no Grammy daquele ano.

Em uma postagem no Twitter, que acabou removida em meio às críticas, Bonadio disse que o Brasil já havia “exportado” outros músicos melhores que os artistas de funk.

“Já exportamos Bossa Nova, já exportamos Samba Rock, Jobim, Ben Jor. Até Roberto Carlos. Mas o barulho que fazem por causa de 15 segundos de Funk na apresentação da Cardi B me deixa com vergonha. Precisamos exportar música boa e não esse ‘fica de quatro’.”

A fala do profissional foi bastante criticada, inclusive por internautas que lembraram de obras com letras explícitas ou proposta artística questionável gravadas por ele no passado. Diante disso, ele se retratou e explicou seu posicionamento.

“Não tenho nenhuma intenção de criar polêmica, muito menos desmerecer o trabalho de ninguém. Espero que evoluam e entendam as críticas. Só aplauso pode ser alienação. Sinto a necessidade de criticar algumas situações porque vejo uma alienação generalizada. O funk precisa evoluir. Os funkeiros precisam ousar, evoluir musicalmente para crescer. Não se pode fazer o mesmo sempre. [...] Não dá pra aceitar que sempre a mesma batida com letras de put#ria seja algo necessário ou a ‘cultura do país’. De qualquer forma, respeito todos do funk por suas batalhas e vitórias. Desculpem se ofendi, nunca é minha intenção. O que eu espero é que ao fazer sucesso, o funkeiro busque melhorar, estudar música, letra e crescer musicalmente.”