Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Entre o biográfico e a ficção, Eden apresenta a trajetória da música house francesa

Direto das pistas de dança dos anos 1990, longa escrito pelo DJ Sven Hansen-Løve resgata a história da cena; leia a entrevista

Christian Petermann Publicado em 19/03/2015, às 13h31 - Atualizado às 13h45

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Eden - Reprodução/Vídeo
Eden - Reprodução/Vídeo

Um dos momentos mais importantes da moderna cena de música eletrônica é relembrado, de forma entre o biográfico e o ficcional, no filme Eden, da cineasta parisiense Mia Hansen-Løve (Adeus, Primeiro Amor), que estreia nesta quinta, 19, no Brasil. Trata-se do garage – ou “house francesa” –, a mistura de disco e soul music que surgiu na França no início dos anos 1990 e marcou presença até meados dos 2000. Quem conta essa história com conhecimento de causa é o irmão da diretora, Sven Hansen-Løve, que foi DJ atuante na cena, escreveu o roteiro e conversou com a Rolling Stone Brasil sobre o filme.

Derrotado no Oscar, documentário sobre Sebastião Salgado leva o prêmio César.

Sven compartilha com o espectador muitas de suas experiências e altos e baixos desta jornada na figura do protagonista e alter-ego Paul Vallée (interpretado pelo ator Félix de Givry), que com um parceiro formou a dupla Cheers e, a partir de 1992, tentou se estabelecer na noite com um som que é descrito como hipnótico, entre a euforia e a melancolia. Na trama, Paul é mostrado como amigo de Thomas Bangalter que, junto ao luso-francês Guy-Manuel de Homem-Christo, forma o Daft Punk, nome de vital importância no universo eletrônico mundial. “Eu fui um grande amigo de Thomas, até bem mais do que é mostrado no filme”, garante Sven. “Compusemos algumas músicas juntos, mesmo que nada consistente. Até fizemos um curta-metragem – nunca concluído, pois éramos muito jovens.”

Documentário inédito de Eduardo Coutinho abrirá festival É Tudo Verdade.

O roteirista confirma que, por simpatia pelo projeto, o Daft Punk cobrou as menores taxas possíveis pelo uso das músicas deles no filme e com isso motivou outros artistas a fazer o mesmo. “Thomas adora os trabalhos anteriores de minha irmã. Ele e Guy-Manuel leram e gostaram do meu roteiro e fizeram comentários e deram sugestões que foram muito úteis. Inclusive, é real a dificuldade que o Daft tinha de entrar nos clubes, [mostrada no filme], sendo quase sempre barrados: foram eles mesmos que me contaram isso!”, exclama.

Entre muitas referências musicais, os diálogos e sons do longa viajam por entre nomes como Nile Rodgers e contam com a presença, como eles próprios, de Tony Humphries, Terry Hunter e Arnold Jarvis. E apesar das boas relações de Sven com muitos dos artistas mencionados e tocados, ele admite que não foi possível incluir na trilha sonora todas as faixas que ele pretendia: “As únicas músicas que não conseguimos colocar foram ‘Last Train to Traincentral’, do KLF – basicamente porque o KLF não existe mais e a banda destruiu quase todas as próprias gravações – e algumas faixas da era disco. Como estas têm sido recorrentes no cinema de hoje, costuma-se cobrar altos valores pelo direito de uso da disco music.”

Vencedor do Oscar de Melhor Documentário, Citizenfour ensina que a paranoia com privacidade no pós-11 de setembro é justificada.

Narrado em duas partes – “Paradise Garage” e “Lost in Music” –, o filme desfila a intensa sexualidade e consumo de drogas da cena, oferece um interessante elenco feminino (com nomes como a norte-americana Greta Gerwig, a bela iraniana Golshifteh Farahani e a libanesa Arsinée Khanjian) e menções venenosas a figuras como David Guetta e Beyoncé. Com isso, Sven e Mia Hansen-Løve resgatam anos e muitas noites de pistas abarrotadas para dançar com corpo e alma. “Let’s sing a happy song”, entoaria Tony Humphries.