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Dois Lados

Baby do Brasil exalta a espiritualidade, mas se descreve como "mais louca do que nunca"

Bruna Veloso Publicado em 15/03/2013, às 15h50 - Atualizado em 25/04/2013, às 19h38

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<b>FUTURO</b> “O Brasil vai aprender com a nova geração a voltar a ser Brasil na música” - Jorge Bispo
<b>FUTURO</b> “O Brasil vai aprender com a nova geração a voltar a ser Brasil na música” - Jorge Bispo

Foram dez anos distante dos palcos no mundo “secular”. Embora Baby do Brasil tenha continuado cantando na última década – na maior parte do tempo, repertório gospel –, só agora ela resolveu voltar a mostrar músicas dos Novos Baianos e dos tempos de Baby Consuelo em uma série de shows, a convite do filho, o guitarrista Pedro Baby. Estar no palco com um rebento é uma “sensação de prêmio”, ela descreve. “Antes de os meus filhos nascerem, eu queria muito que todos eles um dia tocassem [comigo], nem que fosse um só evento”, afirma. Baby, um dos maiores símbolos femininos de toda uma geração, voz e risada inconfundíveis, demole a pecha de careta, olha para o passado com os Novos Baianos com carinho e segue sob uma atmosfera sobrenatural – sem, jamais, perder a loucura.

Já existem novidades sobre a ideia de lançar um DVD deste show?

Isso é um pedido geral. A [empresária] Paula Lavigne, muito cuidadosa nessa parte de vídeo, quer um DVD com qualidade de primeira. Tem muita coisa que está na internet, sendo filmada com várias câmeras, e o DVD está sendo projetado para ser uma coisa de uma superqualidade. Está nos planos, não tem como recuar.

Tem havido um revival de obras e artistas clássicos da música brasileira. Você acha que existe uma carência do público?

Com toda sinceridade e o maior respeito a todo mundo que está fazendo música, a qualidade caiu demais – a parte harmônica, a parte de melodia. Hoje você vai para fora do Brasil, e a nossa música que faz sucesso lá fora não é a música que a rádio toca aqui. Acho que existe uma busca pela sensibilidade, a música não pode virar uma banalidade, uma besteira. Temos que ter a poesia. O Brasil vai aprender com a nova geração a voltar a ser Brasil na música.

É fácil atualmente escutar canções que exploram o corpo, o sexo. Isso te incomoda?

Eu acho assim: a poesia, na verdade, não explora, ela revela. Quando um poeta escreve uma letra, às vezes até uma letra mais descritiva, mas tem uma sensibilidade, ela sempre vai para o lado que não é o de apelar. O apelativo entrega um lado vulgar, que mata a música. A gente percebe que o problema que as gravadoras tiveram da perda do valor da venda do CD começou a incentivar todo cavalo que corria na saída – só que cavalo que corre na saída, perde quando chega na curva, como dizia minha avó. A indústria ficou tão desesperada, que começou a colocar todas as fichas naqueles que iam vender num minuto. Mas isso tudo morre com uma facilidade muito grande.

Você tem usado muito a palavra “matrix” nos shows e em entrevistas. O que isso significa?

É quando eu quero falar da coisa espiritual, desse lado sobrenatural, divino, pra que fique bem claro que eu não sou uma pessoa careta, ou acusadora, por ser gospel. Eu quero que fique localizado assim: a Baby é uma pessoa espiritual, mais louca do que nunca e super do bem. É uma pessoa de Deus, que conhece os mistérios de Deus. É matrix total do bem.

Existe uma tendência de ligar a imagem de uma pessoa muito religiosa a alguém careta.

É! Eu fico muito cuidadosa com isso, porque isso não é de Deus. Vejo isso como um matrix do mal. Esse lado [ feliz] é importante que não seja maculado com essa coisa da religiosidade, da acusação, da caretice. A tendência é geralmente essa. Quero deixar claro que é muito mais do sobrenatural, de uma ciência de Deus, do que uma coisa do homem.

Em algum momento você sentiu algum estranhamento por parte do público por falar de Deus durante os shows atuais?

Não, pelo contrário, vira uma ovação. Porque a ideia não é chegar pra falar de Deus. Está todo mundo cantando ali. Mas tem momentos que escapa, coisas que saem da minha boca sem a menor pretensão, tipo: “Aí, é tão bom poder andar com Deus sem ser careta!”. O show não tem essa pretensão de virar um culto, nada disso.

Você se arrepende de algo no passado com os Novos Baianos que possa ser visto hoje como “profano”?

Não, eu não consigo registrar algo com os Novos Baianos que eu pense: “Nossa, aquilo foi do mal”. Nós fomos família, dividíamos tudo, limpávamos a casa juntos, acreditávamos que estando juntos nós seríamos muito abençoados por Deus. Nós líamos a Bíblia! Tudo que tínhamos era em prol de todos. Todo mundo casado, bonitinho, todo mundo feliz, conseguindo ser um país no meio da ditadura. Qualquer erro... tem uma palavra nas escrituras que diz: “Deus não leva em conta o tempo da ignorância”. Então, qualquer erro foi por ignorância.

Você enxerga a possibilidade de um show com os Novos Baianos, como o da Virada Cultural, em 2009?

Com os Novos Baianos, eu sempre enxergo todas as possibilidades. Hoje o que acontece é que nenhum de nós quer fazer absolutamente nada que não seja muito bem feito, grandioso.

Fora todas as mudanças pelas quais você passou na sua vida, qual é a principal diferença entre a Baby de hoje e a Baby de 40 anos atrás?

Não há uma diferença. Eu sempre fui uma caçadora de Deus. Os meus partos são histórias fantásticas, muito loucas. Uma vez um médico disse que eu nunca teria filhos, porque eu tinha as alças do útero muito longas. Fui num canto do meu quarto e falei: “Deus, preciso ter filhos, preciso conhecer pessoas desde a hora em que elas nascem”. Aí engravidei da primeira, engravidei da segunda, do sexto. “Paaai, vem mais quantos?” [risos] Eu achei que viriam dez. Tudo meu, minha carreira, como eu conheci o Pepeu [Gomes], que é o pai dos meus filhos, como conheci Caetano e Gil... Isso sempre foi colocado em oração com Deus, tipo, “me ajuda, não me deixa errar, não me deixa ter depressão, não me deixa pirar”. A diferença que há é que hoje eu sou uma criança, uma baby, como sempre fui, consciente.