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Emicida

Redação Publicado em 14/10/2010, às 16h36 - Atualizado às 16h37

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ILUSTRAÇÃO: GUSTAVO MUTRAN
ILUSTRAÇÃO: GUSTAVO MUTRAN

Emicida

Emicidio

Independente

Aos 25 anos, Leandro Roque de Oliveira tem uma história corriqueira em qualquer periferia. Não conheceu o pai, foi criado pela mãe com mais três irmãos e passou dificuldades. Em suas rimas, Emicida, apelido adquirido nas batalhas de MCs, fala de suas “tretas”, mas fala também de amor e de coisas comuns ao cotidiano de qualquer pessoa. Sua nova mixtape, intitulada Emicidio, é continuação da primeira, Pra Quem já Mordeu um Cachorro por Comida até que eu Cheguei Longe, de 2009. Na primeira música, chamada “E Agora?” diz: “Agora nós tem carro, casa e comida e ‘vamo’ cantar que não dá pra vencer na vida?” E o rapper está começando a vencer. Saiu do Jardim Cachoeira, no extremo norte da capital paulista, e atualmente mora em uma casa humilde no Tucuruvi, também na zona norte. Emicida amadureceu. Virou pai de Estela em janeiro de 2010, e, segundo o cantor Jair Rodrigues, é o “Novo Nêgo Véio”, título da faixa em que homenageia a filha. Entre outras rimas, tem a emblemática frase: “e eu nunca tinha chorado de alegria”. E motivos para chorar de alegria parecem estar mais presentes. A primeira mixtape vendeu 11 mil cópias, uma quantidade considerável se pensar que ela foi feita quase artesanalmente e vendida a simbólicos R$ 2 nos shows. Emicidio já ganha vida com 1.100 cópias vendidas em parceria com revendedores e o Coletivo Fora do Eixo com preço sugerido de, no máximo, R$ 5, o mesmo valor do EP com seis faixas lançado ainda este ano chamado Sua Mina Ouve Meu Rap Também. Famoso pela velocidade no raciocínio, Emicida começou a fazer suas primeiras rimas baseadas em louvores de igreja evangélicas e em músicas de terreiro. Sincretismo que pode ser notado na música “Santo Amaro da Purificação”, que tem batuques e samplers de Curumin. “De Onde Cê Vem”, com participação do amigo Kamau, é uma homenagem aos Racionais MC’s. Ambos contam como, direta ou indiretamente, conheceram e foram influenciados por Mano Brown e companhia. KL Jay até mandou uma base, mas não deu tempo de entrar no disco. Mas não é só de vitórias que se vive o rapper. Emicida ainda passa por aprovações de seus iguais. Ainda vê gente torcer o nariz para as suas rimas, que falam de coisas comuns. Um exemplo claro desse distanciamento é sua na grade musical do programa de radio Espaço Rap, comandado por Nuno Mendes e Fábio Rogério, tradicional por revelar e tocar somente rap nacional. Em “Então Toma”, ele diz com certa amargura sobre o caso, “em vez de reclamar que eu não toco no Espaço Rap eu fui trabalhar e arrumei espaço pro meu rap”. Apesar da pouca idade, Emicida já mostra certo saudosismo; em “Santa Cruz”, relembra como eram as batalhas de MCs em frente ao metrô, no esquema mais “humildão” possível. Os rimadores chegavam com uma contribuição de R$ 1 e entravam na disputa, o vencedor levava toda a bolada, que não passava de 16 reais. Batendo na mesma tecla há também a música mais curta do CD, “Rinha (Já Ouviu Falar?)”, que mostra muito respeito às origens no freestyle do rap. “Beira de Piscina” fecha o disco mostrando um pouco da nova vida. “Quando puder não hesite em pedir suíte presidencial. Tua essência ninguém poda. Aí, depois que se acostuma com a primeira classe é foda”, canta. Emicida não quer ser guerreiro do rap, não quer ser a salvação do ritmo, mas sabe que já tem alguma responsabilidade. Leandro, o menino que saiu do Jardim Cachoeira,faz tudo a seu tempo.

Pedro Henrique Araújo