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Música / Crítica

Twenty One Pilots reflete sobre tempo e saúde mental com sonoridade sólida em novo álbum

Tyler Joseph e Josh Dun, que formam o Twenty One Pilots, encerram narrativa de 10 anos com maestria com o lançamento de ‘Clancy’

Tyler Joseph e Josh Dun formam o Twenty One Pilots (Foto: Ashley Osborn)
Tyler Joseph e Josh Dun formam o Twenty One Pilots (Foto: Ashley Osborn)

Por mais difícil que pareça e possa ser, o encerramento de ciclos sempre são partes fundamentais, seja das nossas vidas pessoais ou profissionais. Por pouco mais de 10 anos, Twenty One Pilots conta uma narrativa complexa, por meio dos discos, e colocou um ponto final com Clancy (2024), sétimo disco de estúdio do duo formado por Tyler Joseph (vocal, baixo, piano) e Josh Dun (bateria, trompete), nesta sexta, 24.

A história começou a ganhar força e forma com Blurryface (2015), nome atribuído a um personagem que representa as inseguranças do cantor. Em Trench (2018), a banda expandiu a trama: Blurryface seria um dos nove Bispos de uma cidade autoritária chamada Dema, onde possuem diversos prisioneiros. O nome do disco é a região onde ficam os Banditos, representação dos fãs e família que lutam contra os ditadores. Aqui já ficava claro: a história era um reflexo da mente dos integrantes, em uma tentativa de trazer para sua música as impressões sobre a complexidade da luta contra a depressão.

O antecessor de Clancy seguiria a mitologia. No intitulado Scaled and Icy (2021), Tyler fez um disco voltado mais para o pop porque, na narrativa, o vocalista foi capturado pelos Bispos para fazer músicas mais genéricas. O novo álbum, que leva o nome do personagem dele, acompanha a luta dos artistas contra Dema.

Toda a insistência no tema faz parte do que fortaleceu a conexão do duo com os fãs. Mais que uma alegoria, trata-se de identificação - uma fórmula nada simples na qual eles voltam a apostar com o lançamento de Clancy.

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Bem-vindos de volta a Trench

Com 13 faixas ao todo, o disco pode ser dividido em duas partes. A primeira reflete no ritmo upbeat a positividade das letras. Com batidas aceleradas (à exceção de “Backslide”), as faixas retratam bastante sobre o tempo e as reflexões de preocupação, tanto na juventude quanto na fase adulta.

Logo na primeira música de Clancy, intitulada “Overcompensate”, o duo já define o tom do novo trabalho, mais próximo do sucesso de Trench, mais afastado do divisivo Scaled and Icy. A sonoridade peculiar remete a músicas como “Jumpsuit” e “Chlorine.”

As faixas seguintes, “Next Semester” e “Backslide”, também singles, possuem uma “cara de Twenty One Pilots,” enquanto a maioria da tracklist mostra bastante influência de músicas dos anos 1980, como Information Society e Pet Shop Boys, com uso pesado de sintetizadores. Outros destaques são “Midwest Indigo,” “Vignette” e “Navigating.”

Algumas das letras remetem a um Tyler Joseph mais jovem, com medo e receio do futuro, repleto de incertezas. Esse estilo de composição pode cair em uma zona de risco e ficar como uma autoajuda brega, mas Twenty One Pilots consegue se aproximar muito do ouvinte ao trazer situações identificáveis e humanas.

Tyler Joseph e Josh Dun formam o Twenty One Pilots
Tyler Joseph e Josh Dun formam o Twenty One Pilots (Foto: Ashley Osborn)

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A ‘segunda metade’ de Clancy

Após cinco ótimas músicas, a “primeira parte” de Clancy fecha com “Vignette,” que, como o próprio nome diz, serve como uma vinheta para mudar o tom das músicas, de certa forma. As duas seguintes, “The Craving (Jenna’s Version)” e “Lavish,” são as mais fracas do álbum.

A escolha de Tyler Joseph de cantar com alguns defeitos acaba atrapalhando a entrega da poesia, bela e emocional de "The Craving (Jenna’s Version)." Em alguns momentos, isso reflete em dificuldades de alcançar notas mais agudas.

Já “Lavish” remete a uma propaganda de televisão alegre dos anos 1970 - e como nos reclames, sobra superficialidade. Novamente, a letra é a parte interessante, com críticas sobre a indústria musical e a como artistas muitas vezes precisam mudar a essência para se encaixar em um padrão.

Na parte final, Twenty One Pilots volta com as músicas em alto nível, especialmente com o pop rock de “Navigating”, que, o redator arrisca, tem grandes chances de se tornar o principal hino de Clancy. Vale destacar a mensagem de superar um momento de solidão. “Snap Back” e “At the Risk of Feeling Dumb” também não decepcionam.

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O fim de uma era

Normalmente, os discos de estúdio do duo terminam de maneira muito forte, com músicas impactantes e reflexivas. Com Clancy não é diferente. A 12ª faixa, “Oldies Station” é uma das mais emocionantes que a banda já fez, e fala de uma maneira muito bonita sobre o luto e a complexidade de envelhecer.

Para fãs de Easter eggs, a boa notícia: apesar da narrativa com os Bispos não ser explicitamente mencionada ao decorrer do álbum, “Paladin Strait” trata de finalizar a história com estilo, citando regiões do mundo de Dema e a trama com seus habitantes. Na letra, Tyler Joseph consegue contar a parte final da trama com maestria, e a conclusão não deve decepcionar os fãs.

Com Clancy, Twenty One Pilots mostra que é uma das bandas mais versáteis e sólidas atualmente, com letras que se preocupam em falar sobre assuntos sérios e importantes, com uma sonoridade única e muito difícil de replicar exatamente.

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