Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

As Bahias e a Cozinha Mineira unem política e amor em disco pop

Tarântula, terceiro álbum da carreira, apresenta os novos caminhos do trio

Nicolle Cabral Publicado em 06/06/2019, às 14h11

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Raquel Virgínia, Assucena Assucena e Rafael Acerbi (Foto: Divulgação)
Raquel Virgínia, Assucena Assucena e Rafael Acerbi (Foto: Divulgação)

Pop? O que é pop para as Bahias e A Cozinha Mineira? Antes mesmo que pudesse concluir, Raquel Virgínia responde: “SPICE GIRLS”, e ri ao lado do trio formado por ela, Assucena Assucena e Rafael Acerbi. Com bom humor e nova fase, o grupo entregou na última sexta, 31, o terceiro disco da carreira, Tarântula.

“Eu era grande fã da Whitney Houston, aquela criança viada que corria na escola, em casa, cantando “I Will Always Love You”, revela Assucena rindo. "A verdade é que pop sempre significou uma criatividade absoluta", aponta Rafael e na sequência, Virgínia complementa: "Pop significa inventar, e nesse sentido, As Bahias e A Cozinha Mineira é muito pop."

Foi na Barra da Una, no Litoral Norte de São Paulo, que o trio expandiu o conceito de Tarântula, e deu um novo formato para o projeto, agora, sob contrato com a Universal Music. A ideia inicial era promover o lançamento de 5 EPs ao longo do ano, no entanto, a grande gravadora abraçou o projeto e deu o tom para o novo ciclo da As Bahias e a Cozinha Mineira.

“A gente já tinha feito dois discos, porque não fazer outro?”, conta Assucena.

O grupo, que se conheceu em 2011, no curso de História da Universidade de São Paulo, veio traçando, aos poucos, o seu caminho dentro da cena independente da música brasileira com os primeiros projetos Mulher (2015) e Bixa (2017), o último, premiado como Melhor Álbum e Melhor Grupo de Canção Popular, pelo Prêmio da Música Brasileira. “Quando eu penso nas Bahias e a Cozinha Mineira, eu penso em tijolo por tijolo, boca por boca, ouvido por ouvido. A gente vem contribuindo para a música brasileira de forma gradual e segura”, enfatiza Virgínia.

“O Tarântula marca a transição de duas fases. Eu acho que agora a gente está tendo um tempo maior de apreciação da nossa música, porque quando você é independente, a música é mais cara, tudo é mais difícil. Você tem que ser o seu próprio empresário, seu próprio produtor executivo”, comenta Assucena sobre a adesão da gravadora.

Na imersão, em São Sebastião, os três cantores e compositores - desta vez, Rafael retoma ao microfone após 10 anos na faixa “Volta”, apresentaram suas canções.

“Nunca foi difícil, para nós, apresentar as canções. O díficil é encontrar uma coesão entre elas, mas como sempre existiu uma conexão muito forte entre as nossas temáticas, foi orgânico. Então, ficamos uns dias lá [na praia]”, conta Assucena.

"Inclusive, esse é o primeiro trabalho das Bahias que eu canto e componho junto. Fazia 10 anos que eu não colocava a minha voz em nenhuma música. Elas foram as primeiras pessoas que eu mostrei a música, então lembro de quando eu cheguei na praia com "Volta", elas ficaram loucas, coçavam a cabeça. Foi uma felicidade tremenda", relembra Rafael.

Como a ideia era lançar, de cara, os EPs, o primeiro que o trio conseguiu organizar foi Tarântula. "A ideia era construir uma narrativa que fosse política, pop, radiofônica e forte. O nome veio depois.”, revela Assucena.

Quando o grupo pensou no cartão de visita do terceiro projeto, inicialmente, partiram da Operação Tarântula, uma ação da Polícia Militar, que ocorreu em 1987, e perseguiu cerca de 300 travestis e mulheres trans, com a justificativa de que assim a AIDS seria previnida.

No entanto, no decorrer do processo criativo do disco, a premissa foi ressignificada. “O álbum tem esse nome pela Operação Tarântula, porque isso é uma questão que precisa ser lembrada por todos. Foi um momento que o Estado Brasileiro perseguiu um grupo, e isso é muito sério”, exclama a Virgínia. “Mas ele não é um disco inteiramente militante.”, acrescenta.

“Quando a gente foi escolhendo as músicas, as coisas ganharam novos significados, novas narrativas”, conta Rafael.

Um desses caminhos foi retomar a origem da palavra Tarântula, a aranha, parte do reino animalia. “Nas pesquisas descobrimos que em algumas culturas a aranha é vista como uma energia feminina, uma grande tecelã da vida.”, conta Rafael.

“Sem contar a ecdise [processo de mudança ou eliminação do exoesqueleto da espécie], que ela consegue alterar até o próprio sexo”, conclui.

O álbum, que possui 10 faixas, traz uma série de músicas que flertam com as relações românticas e contemplação da solidão, entre elas “Carne Dos Meus Versos”, “Volta”, “O Nome Da Coisa” e “Tóxico Romance”, com participação do rapper Projota.

“Dentro dessa coisa mais fechada que era o projeto inicial, quando EP, pensamos nas teias que envolvem tudo isso e entendemos que o disco tem várias facetas. Desde a música mais militante até a mais romântica. O público que vai ouvir, talvez caia em algum pedaço dessa teia e depois tenha vontade de conhecer o que estamos fazendo”, completa Rafael.

Filhos de uma parte da MPB, e tendo como referência neste gênero a cantora Gal Costa, as marcas do samba nas canções da As Bahias e A Cozinha Mineira já eram esperadas. No entanto, desta vez, o elemento que incorpora a nova obra, Tarântula, é o pop. Além de explorar a nova estética, principalmente na canção "Shazam Shazam Boom", assinatura forte para a chegada neste universo, o projeto se constrói ao colocar em evidência os dilemas do Brasil sob uma perspectiva artística. "O que estamos fazendo é uma leitura, como artistas, do quadro que estamos enxergando", conta Virgínia.

Em Tarântula, o trio faz recortes sociais e funde suas canções em uma crônica sobre o cenário do Brasil com leituras sobre o século 21, a efemeridade, a tecnologia e a fragmentação dos relacionamentos. "Esse nosso jeito de chorar por amor é algo muito novo, então a gente traz um pouco disso no álbum", acrescenta.

"Eu acho muito natural que a gente proponha essas linguagens musicais que tentam, até de uma maneira megalomaníaca, resolver alguns dilemas da sociedade", ressalta Virgínia. "A gente é meio antena parabólica e fica recebendo as coisas muito sensivelmente sem nem saber o por que", conclui.

"Existe uma expectativa gigantesca em torno das Bahias de que tudo seja militante. Como se fosse uma auto associação: é Bahias, é militante. Mas se existe uma militância, essa militância é a arte. É a possibilidade de fazer música, seja do jeito que for", explica Rafael.

"É, o que mais quer sair do nosso peito é canção", comenta Assucena.

"Solo fértil. É isso que todo mundo quer, as pessoas entram em guerra por causa disso. As Bahias e a Cozinha Mineira é um solo fértil", encerra Virginia.

Tarântula já está disponível em todas as plataformas digitais, e três das 10 faixas possuem material visual, como: "Carne dos Meus Versos", "Volta", e "Shazam Shazam Boom".

Assista abaixo:

+++Rocketman, Bohemian Rhapsody e mais: as maiores cinebiografias de todos os tempos