Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Benito Di Paula celebra 80 anos com regravações de canções clássicas [ENTREVISTA]

Intitulado Benito 80: Novo Samba Sempre Novo, Benito Di Paula se uniu com o filho, Rodrigo Vellozo, para celebrar vida e carreira

Rodrigo Vellozo e Benito Di Paula (Foto: Murilo Alvesso)
Rodrigo Vellozo e Benito Di Paula (Foto: Murilo Alvesso)

Um dos grandes nomes da música brasileira, Benito Di Paula completou 80 anos em 28 de novembro de 2021. Para celebrar esse marco, o cantor e o filho dele, Rodrigo Vellozo, uniram-se para lançar o disco Benito 80: Novo Samba Sempre Novo, o qual revisita a discografia do artista com regravações com diversos nomes de peso, como Xande Pilares, Teresa Cristina e Zeca Baleiro, por exemplo.

O nome do projeto é uma referência direta ao disco Um Novo Samba (1973) - e Vellozo revelou à Rolling Stone Brasil o motivo desse trabalho ser escolhido para estrelar o título do lançamento desta terça, 22. "Um Novo Samba é um álbum fundamental do meu pai. O álbum onde ele começa a desenhar, de forma mais explícita e madura, a estética da sua obra," afirmou.

+++LEIA MAIS: Capital Inicial faz show de 40 anos, mas rejeita nostalgia: 'Buscamos o inesperado' [ENTREVISTA]

Com uma discografia extensa e cheia de clássicos, o filho de Benito Di Paula enfrentou grande desafio nas curadoria de Benito 80: Novo Samba Sempre Novo, porque escolheu canções icônicas enquanto precisou deixar outras fora, porém...

Foi um processo muito bonito e intenso. Durante o isolamento, fazendo lives, mergulhamos profundamente nesse repertório de tantas lembranças afetivas que marca a história da nossa família. Diante da vastidão de uma obra tão importante, sabíamos que alguns grandes sucessos ficariam faltando.

Mesmo com a produção se intensificando durante pandemia de coronavírus, a ideia para Benito 80: Novo Samba Sempre Novo é explorada há bons anos: "Eu sonhava com esse projeto há anos. Não queria deixar passar os 80 anos do meu pai sem algum tipo de comemoração. Sempre acompanhei o trabalho do Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Passo Torto, essa turma que traz possibilidades tão ricas para o samba e para a música popular brasileira aqui em São Paulo."

Romulo veio com a ideia de pensarmos também em um disco de músicas inéditas. Originalmente sairia tudo junto: o disco de inéditas e a antologia da obra com vários intérpretes. Por conta da pandemia, 'O Infalível Zen' saiu ano passado, no aniversário de 80 do meu pai, e Novo Samba Sempre Novo chega agora, meio que finalizando este lindíssimo ciclo, que agora já começa a apontar ainda novos caminhos.

+++LEIA MAIS: Luísa Sonza incendeia casa de shows com apresentação de novo projeto musical [ENTREVISTA]

Leia a entrevista completa sobre Benito 80: Novo Samba Sempre Novo abaixo:


Rolling Stone Brasil: Benito 80: Novo Samba Sempre Novo conta com 15 regravações de clássicos de Benito Di Paula. Como foi essa curadoria, no sentido das músicas que seriam escolhidas e ficariam fora?
Foi um processo muito bonito e intenso. Durante o isolamento, fazendo lives, mergulhamos profundamente nesse repertório de tantas lembranças afetivas que marca a história da nossa família. Diante da vastidão de uma obra tão importante, sabíamos que alguns grandes sucessos ficariam faltando. Buscamos um conjunto de músicas que estabelecessem uma possível representação dessa obra. Canções feitas para outros artistas como “Amanheceu”, gravada pelo Roberto Carlos, “ Amor de Mentira”, pela Célia e “Velas ao Vento”, para o Cauby Peixoto, grande sucessos “Retalhos de Cetim”, “Do Jeito Que a Vida Quer”, “Como Dizia o Mestre”, “Charlie Brown”, “Proteção Às Borboletas” e músicas queridas e sempre pedidas pelos fãs mais ardorosos: “Razão Pra Viver”, “Marcas de Amor”, “Além do Arco-íris”.

Como foi trabalhar com nomes como Xande Pilares, Teresa Cristina e Zeca Baleiro neste projeto?
Xande é um amigo muito querido, praticamente da nossa família. Ele gravou muita coisa do repertório do meu pai. Conhece profundamente todos os álbuns. Acho que ele já faz parte da carreira do meu pai e da minha. Sempre estamos conectados. Durante a pandemia, ele mandou um vídeo pra gente cantando e tocando lindamente “Razão Pra Viver”. Fizemos o arranjo em cima do Cavaco dele. Ele foi o último a colocar voz e foi uma emoção muito grande. Teresa também já havia gravado Benito. Uma artista espetacular e muito querida de quem ficamos mais próximos ainda também durante a pandemia. Ela topou imediatamente cantar “Proteção às borboletas” que ganhou ainda novas camadas de significado com seu canto. Força, delicadeza, liberdade e amor na potência máxima. Zeca é também um artista muito próximo de nós com quem tivemos encontros importantes e inesquecíveis. Ele cantou “Além de tudo” comigo e com meu pai há muitos anos num show que fizemos no Sesc Pompeia. Assim como Xande, Zeca conhece e domina profundamente esse repertório. Múltiplos e riquíssimos universos percorridos e influenciados pela música do meu pai.

Rodrigo Vellozo e Benito Di Paula
Rodrigo Vellozo e Benito Di Paula (Foto: Murilo Alvesso)

Quando surgiu a ideia de Benito 80: Novo Samba Sempre Novo? Foi algo planejado há um tempo ou surgiu mais "no calor do momento"?
Eu sonhava com esse projeto há anos. Não queria deixar passar os 80 anos do meu pai sem algum tipo de comemoração. Sempre acompanhei o trabalho do Romulo Fróes, Rodrigo Campos, Passo Torto, essa turma que traz possibilidades tão ricas para o samba e para a música popular brasileira aqui em São Paulo. E pensava que, do ponto de vista estético-musical, eles se relacionavam com o que meu pai propunha lá atrás. Um jeito próprio, urbano e pessoal de se relacionar com o samba. Sonhava com essa fricção, com esse encontro. Uma desconstrução com reverência, com afeto e respeito. Romulo veio com a ideia de pensarmos também em um disco de músicas inéditas. Originalmente sairia tudo junto: o disco de inéditas e a antologia da obra com vários intérpretes. Por conta da pandemia, “O Infalível Zen” saiu ano passado, no aniversário de 80 do meu pai, e Novo Samba Sempre Novo chega agora, meio que finalizando este lindíssimo ciclo, que agora já começa a apontar ainda novos caminhos.

Qual foi a parte mais difícil de trazer essas regravações e parcerias? Qual cuidado vocês tiveram com a obra de Benito Di Paula?
Acho que o desafio foi encontrar o equilíbrio entre o universo de cada intérprete, a liberdade criativa de cada arranjo e uma espécie de “manutenção” do espírito da obra, seja através da melodia, da harmonia ou mesmo de outros detalhes, pequenas pistas. Meu papel era meio que o de “protetor” da obra original, colocando alguns limites e desenhando, ainda que minimamente, um mapa melódico e harmônico em cima do qual pudéssemos dançar livremente a experiência da criação. O disco apresenta muitos universos presentes na obra do meu pai. Seja na orquestração de guitarras quase erudita feita por um músico só (o fantástico Guilherme Held em “Amanheceu”), em mergulhos numa estética indie-pop (“Velas Ao Vento”), no diálogo com o tango (“Depois do Amor”), em caminhos harmônicos bossa-novísticos (“Amor de Mentira”), ou na explosão absoluta da alegria melancólica dos blocos de carnaval (“Retalhos de Cetim”), são infinitas as possibilidades. Ficamos com vontade de experimentar ainda mais.

Dentre tantos discos e projetos, qual o motivo da referência/inspiração a Um Novo Samba em Benito 80: Novo Samba Sempre Novo?
Um Novo Samba é um álbum fundamental do meu pai. O álbum onde ele começa a desenhar, de forma mais explícita e madura, a estética da sua obra. Assim como em Novo Samba Sempre Novo, o álbum abre com “Se Não For Amor” e é encerrado com “Retalhos de Cetim”, talvez a canção síntese de toda a sua obra, executada rodas de samba, blocos de carnaval, uma canção muito importante na cultura popular do nosso país. Em Um Novo Samba, a sonoridade tão característica do meu pai surge a partir do violão, Novo Samba Sempre Novo já começa com um dos violões mais importantes da música brasileira: o do mestre João Bosco. Ao longo do álbum, o instrumento ressurge com o Zeca Baleiro, o Swammi Jr e o Rodrigo Campos. Meu pai começou tocando violão, é seu instrumento primeiro e dele surgem os acordes tão especiais que ele cria ao piano. Do violão (que podemos ouvir nas gravações originais de “Além de tudo”, “Fui Sambando, Fui Chegando” e “Retalhos de Cetim”) também nasce a “batucada” ao piano, tão característica do meu pai. Meu pai é fanático pelo João Gilberto. Me ensinou a tocar piano através dos discos do João. “A batucada está toda ali”, ele sempre diz. Coube a mim, que desde criança toco e canto com meu pai, fazer essa batucada pianística com amor e reverência ao meu grande mestre e melhor amigo.