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A extraordinária ascensão de Schitt’s Creek: a comédia rejeitada por HBO e Showtime que se tornou queridinha da crítica [ESPECIAL EMMY]

Série recebeu 15 indicações na maior premiação da televisão norte-americana

Malu Rodrigues I @amalu.rodrigues Publicado em 28/08/2020, às 07h00

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Schitt’s Creek (Foto: Divulgação)
Schitt’s Creek (Foto: Divulgação)

[Pode conter spoilers de Schitt’s Creek]

Assim que o Emmy 2020, a maior premiação da televisão norte-americana, anunciou os indicados em julho, um nome se destacou: Schitt’s Creek. A comédia pouco conhecida aqui no Brasil, mas aclamada nos Estados Unidos, só ganhou o reconhecimento merecido quando se despediu do público. 

Em abril deste ano, depois de seis temporadas, o seriado encerrou a história e, apesar de parecer muito cedo, terminou na hora certa. Pela última parte, Schitt’s Creek foi indicada para 15 estatuetas, incluindo as mais nobres da casa: série de comédia, ator em comédia, atriz em comédia, direção e roteiro. Os resultados revelam como o show se consolidou na indústria de entretenimento ao retratar de forma viciante uma família hilária e nada convencional. 

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Não é tão falada na cultura pop como Friends ou The Office, mas tem potencial, traz personagens surpreendentemente interessantes e é uma das favoritas para ganhar em diversas categorias.  

Para além do núcleo de produções/séries estadunidenses, Schitt’s Creek é uma produção canadense criada por Eugene e Dan Levy - pai e filho, respectivamente -, também protagonistas nela. A ideia do seriado surgiu após Dan refletir sobre como famílias bilionárias reagiriam se perdessem todo o dinheiro de uma hora para outra. "As Kardashians ainda seriam as Kardashians sem o dinheiro?", falou o escritor à Out.com.

Assim, o seriado foi inventado e a premissa revela como os Rose perdem toda a fortuna e são forçados a se mudar para o único patrimônio que têm: uma pequena cidade do interior chamada Schitt's Creek, que a família comprou de brincadeira ('Schitt' lembra a palavra 'shit', merda em inglês), com moradores bem peculiares e esquisitos. Na nova realidade, Johnny e Moira Rose e os filhos David e Alexis precisam se acostumar com a vida inédita sem dinheiro.

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Antes de virar o fenômeno que é hoje, Schitt’s Creek foi rejeitada por grandes plataformas como a HBO e a Showtime. Mais tarde, foi vendida para a CBC no Canadá e encontrou casa nos EUA na Pop TV. Foi apenas depois de entrar no catálogo da Netflix norte-americana que alcançou um público fiel. Aqui no Brasil, é disponibilizada pelo Paramount+ e Uol Play. Apesar de ignorada no começo por alguns streamings, a produção foi elogiada pela audiência e pela crítica especializada pela escrita, humor e atuação. 

O seriado focado na ex-família bilionária não se limitou apenas a comédia e deu tons mais emotivos aos personagens e as narrativas. Assim, ao longo dos seis anos, os protagonistas se tornam mais relacionáveis ao público enquanto descobrem mundos além do dinheiro. "O objetivo era que, no final da série, a família se desse conta do valor do amor. Dinheiro pode resolver várias coisas, mas eles nunca conseguiriam comprar a intimidade que conquistaram ao longo das temporadas", enfatizou Dan à Variety.

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Além do roteiro e elenco, a série também é conhecida pelo trabalho incrível nos bastidores, como o figurino. A personagem Moira é relembrada com carinho pelo público pelos trajes exuberantes que, no começo da produção, representam uma 'armadura' da protagonista para com a nova cidade e o estilo de vida. As perucas de grife dela, usadas para refletir o humor, também são um destaque. Todos esses elementos foram lembrados pelo Emmy e concorrem em categorias técnicas.

Schitt’s Creek  presta atenção nos detalhes e deixa diversas surpresas para o espectador durante as seis temporadas e 80 episódios no total. Com cerca de 30 minutos em cada capítulo, a comédia vai deixar saudades pelas sacadas irônicas, pelas figuras hilárias e absurdas e pelos diálogos memoráveis.

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Dan Levy comentou sobre a decisão de encerrar a série: "Não quis comprometer a qualidade da história em momento algum. Não valia a pena correr esse risco". Mesmo no ápice da popularidade, a conclusão do seriado pareceu a opção mais certeira, já que a produção teve uma recepção bem-sucedida. As 15 indicações ao Emmy 2020 não são aleatórias. Schitt’s Creek se construiu de forma extraordinária no gênero sitcom e remodelou ainda mais a antiga história de famílias bilionárias e personagens caricatos.


O brilho performático do elenco

O elenco é, certamente, o grande combustível de Schitt’s Creek. O roteiro da comédia permite que os atores se inovem e mostrem todo o potencial performático nos episódios. Parte da simpatia dos protagonistas vem da escrita do seriado e a outra vem da interpretação da equipe.

As situações inusitadas e peculiares vividas pelos personagens só revelam a habilidade dos artistas e a química entre eles em cena. Com atores incríveis, não é à toa como o seriado foi indicado ao Emmy na categoria de Melhor Elenco em Série de Comédia. 

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Os veteranos Eugene Levy e Catherine O'Hara são os responsáveis por dar vida a Johnny Rose e Moira Rose, respectivamente. Levy é conhecido pela franquia American Pie, mas em Schitt’s Creek se destaca ainda mais na comédia. No papel do patriarca da família ex-bilionária, o ator enfatiza todo o lado não convencional e particular do personagem, apesar de ser um 'homem de negócios'. Johnny é uma das âncoras dos parentes no meio das mais diversas aventuras e desventuras.

Catherine O'Hara dá um show à parte como a excêntrica e dramática Moira Rose. Na série, Moira é uma ex-atriz de novelas com um humor por vezes sarcástico e com um sotaque único. Todo o vocabulário arcaico da matriarca é super interessante e beira o absurdo - e O'Hara teve a liberdade para improvisar nas falas.

Além da dupla dinâmica Levy-O'Hara, Dan Levy interpreta David Rose, o filho mais velho. Cheio de fobias e inseguro, David começa a série tentando se adaptar a nova rotina de ser uma pessoa ex-bilionária em uma cidade pequena. A medida que a trama se desenrola, o primogênito se encontra no pacato local e começa um relacionamento com o parceiro de negócios Patrick Brewer. David é um homem pansexual na série e, pela representação e construção do personagem, a revista The Advocate pontuou como o seriado "está criando novas maneiras para os espectadores queer se verem representados e apoiados".

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Annie Murphy vive de maneira assustadoramente brilhante a cômica e antes mimada Alexis Rose. Ao longo dos 80 episódios da série, a atriz conseguiu mesclar a comédia com o drama e dar diversas camadas e profundidade para a jovem. Pela versatilidadde, a artista consegue roubar a cena toda vez que aparece na telinha.

Com Dan, os dois retratam uma relação de irmãos de forma muito hilária e crua. Apesar de adultos, os personagens tomam atitudes infantis quando estão juntos e protagonizam brigas familiares para o público.

Também compõe o elenco os atores Emily Hampshire (como a amiga fiel e empresária Stevie Budd), Jenn Robertson (Jocelyn Schitt), Chris Elliott (Roland Schitt), Dustin Milligan (Ted Mullens) e Noah Reid (Patrick Brewer).

Todos os artistas parecem ser insubstituíveis nos respectivos papéis e são essenciais para construir toda a excentricidade e particularidade de Schitt’s Creek.

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Crítica e Emmy 2020

Schitt’s Creek conseguiu fechar da melhor maneira o arco construído durante seis anos. A crítica especializada elogiou a sexta temporada da série pela história, desenvolvimento dos personagens e pelas atuações impecáveis.

Se a primeira parte recebeu apenas 64% de aprovação no Rotten Tomatoes, a sexta ganhou 100%. A crítica especializada do site comenta: "Espirituosa, calorosa e com a mistura certa de sabedoria e piadas, a temporada final de Schitt's Creek é a despedida perfeita para os Roses e a cidade que mudou suas vidas". Pela pontuação, conforme levantamento do Insider, a produção é um dos apenas sete seriados lançados em 2020 que conseguiram a nota máxima no site.

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Apesar de não ser amplamente conhecida pelo meio mainstream, Schitt’s Creek é veterana nas premiações e já garantiu mais de 150 indicações ao longo dos anos, incluindo ao Prêmio do Sindicato dos Atores, TCA Awards e Canadian Screen Awards.

Pela representação LGBTQ+, ganhou prêmios especiais no GLAAD Media Award. Também fez história ao ser a primeira série de comédia canadense a ser nomeada para o Critics' Choice Television Award de Melhor Série de Comédia. 

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Schitt’s Creek  tem altas - e merecidas - chances no Emmy. Por ser a despedida da série da televisão, deve comover a equipe do evento e garantir que o seriado entre para o legado da cerimônia. Na categoria de comédia, a produção deve garantir a maioria dos prêmios da noite.


Confira todas as 15 indicações de Schitt’s Creek ao Emmy 2020:

Melhor Série De Comédia
Melhor Ator Em Série De Comédia (Eugene Levy por "The Pitch")
Melhor Atriz Em Série De Comédia (Catherine O'Hara por "The Incident")
Melhor Ator Coadjuvante Em Série De Comédia (Daniel Levy por "Happy Ending")
Melhor Atriz Coadjuvante Em Série De Comédia (Annie Murphy por "The Presidential Suite")
Melhor Roteiro Em Série De Comédia (Daniel Levy por "Happy Ending" e
David West Read por "The Presidential Suite")
Melhor Direção Em Série De Comédia (Daniel Levy e Andrew Cividino por "Happy Ending")
Melhor Figurino Contemporâneo (Debra Hanson e Darci Cheyne por "Happy Ending") 
Melhor Elenco Em Série De Comédia
Melhor Cabelo (Anastasia Cucullo e Ana Sorys por "Happy Ending")
Melhor Maquiagem Não Prostética (Candice Ornstein and Lucky Bromhead por "Happy Ending") 
Melhor Edição De Fotos Com Uma Única Câmera Em Série De Comédia (Paul Winestock por "Start Spreading the News" e Trevor Ambrose por "Happy Ending")
Melhor mixagem de som para uma série de comédia ou drama (meia hora) e animação (Bryan Day and Martin Lee por "Happy Ending")


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