Rolling Stone Brasil
Busca
Facebook Rolling Stone BrasilTwitter Rolling Stone BrasilInstagram Rolling Stone BrasilSpotify Rolling Stone BrasilYoutube Rolling Stone BrasilTiktok Rolling Stone Brasil

Há 30 anos morria Dennis Wilson, um artista indomável cultuado por seus próprios méritos

Paulo Cavalcanti Publicado em 08/01/2014, às 11h12 - Atualizado às 11h17

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
NO CINEMA
Dennis Wilson em 1971, durante as filmagens de Corrida sem Fim - Michael Ochs Archives/Getty Images
NO CINEMA Dennis Wilson em 1971, durante as filmagens de Corrida sem Fim - Michael Ochs Archives/Getty Images

Certos artistas, mesmo tendo obtido sucesso em vida, tornam-se ainda maiores depois que morrem. É o caso de Dennis Wilson, por pouco mais de 20 anos, idolatrado como baterista do Beach Boys. Mas, após morrer afogado aos 39 anos, em 28 de dezembro de 1983, o trabalho solo dele foi e continua sendo redescoberto e louvado pela inovação e honestidade emocional.

Dennis tinha um estilo de vida único no grupo. Rebelde, sempre às turras com o pai, Murray, ele era o único beach boy que realmente surfava. Se não tivesse sugerido o tema para o primeiro single, “Surfin’”, talvez o Beach Boys nem existisse. A princípio, Dennis não tocava nenhum instrumento, mas em poucas semanas aprendeu a se virar na bateria (no estúdio, era geralmente substituído pelo músico contratado Hal Blaine). No palco, tocava com pouca técnica, mas com raça e velocidade, arrancando gritos das garotas fanáticas pelos Beach Boys. Mulherengo, vivia a típica rotina de um playboy milionário do rock em Los Angeles. Tudo mudou em um dia de 1968, quando deu carona para duas garotas. Ele não sabia, mas elas eram seguidoras de Charles Manson, que em breve comandaria uma série de crimes brutais. Dennis se encantou com Manson, aspirante a cantor e compositor, e o convidou para morar em sua mansão por um tempo. O baterista até convenceu o Beach Boys a gravar uma música dele, originalmente chamada “Cease to Exist”. A banda retrabalhou a canção e a gravou com o nome “Never Learn Not to Love”.

Assim como funcionava com Ringo Starr nos discos dos rivais Beatles, Dennis tinha um solo vocal em cada álbum do Beach Boys. E a partir do final dos anos 60, o baterista começou a florescer como compositor. Mesmo obscurecido pelos irmãos mais talentosos Brian e Carl, ele criou canções marcantes para os álbuns 20/20, Friends, Sunflower, Carl and the Passions e Holland. “Forever”, de Sunflower, tornou-se um hino entre os adoradores de Dennis. Em 1971, o músico até tentou virar ator e estrelou Corrida sem Fim, road movie Cult que tinha no elenco o amigo James Taylor. Em meio à carreira atribulada, encontrou um pouco de estabilidade amorosa ao lado da modelo Karen Lann. Mas bebia e fumava muito, e aos poucos a voz dele foi se estragando.

O mar – e a liberdade que ele proporcionava – eram a grande paixão de Dennis. Em meados dos anos 70, comprou o Harmony, um luxuoso barco-residência e morou nele por anos. Gastador e irresponsável, foi expulso várias vezes do Beach Boys e mantinha uma rixa com o primo Mike Love. Com dificuldades financeiras, não conseguiu pagar o Harmony: o barco foi tirado dele e depois afundou. Mesmo com os problemas, gravou o LP Pacific Ocean Blue, que rapidamente virou cult (veja box). Em seguida, começou a trabalhar em Bambu, mas o álbum nunca foi lançado enquanto estava vivo.

Os últimos anos foram marcados por doenças, alcoolismo e vício em drogas. Falido, precocemente envelhecido e afastado do Beach Boys, Dennis dependia da caridade dos amigos. No dia em que morreu, estava velejando quando decidiu mergulhar para tentar recuperar artefatos do Harmony. Era um bom nadador, mas o álcool que havia ingerido horas antes cobrou o preço. O corpo do beach boy foi enterrado no mar, uma honraria concedida apenas a altas patentes militares.