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Rohan Marley busca continuar legado do pai, Bob Marley, com irmãos: 'Queremos essa responsabilidade'

Antes de lançamento dos produtos House of Marley no Brasil, Rohan relembrou legado do pai, juventude e princípios da família em entrevista à Rolling Stone Brasil

Rohan Marley (Foto: Isaac Brekken/Getty Images)
Rohan Marley (Foto: Isaac Brekken/Getty Images)

Filho do lendário Bob Marley, Rohan Marley carrega mais que apenas o sobrenome do pai. Enquanto divulga a chegada da marca de caixas de som e fones sustentáveis da família no Brasil, o empresário parou para relembrar o passado, refletir sobre música, sociedade, carreira no futebol e meio ambiente, em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil.

Embora o legado de Bob traga grandes responsabilidades, Rohan não se escondeu. Pelo contrário, o ex-jogador de futebol americano lutou pelo direito das obras do pai junto dos irmãos, e não pretende abrir mão dessa conquista com facilidade. A tendência de grandes artistas venderem o catálogo de músicas para empresas do ramo, por exemplo, não o seduz.

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Continuar a mensagem passada pelas músicas do ícone do reggae é a meta do empresário. "Quando falamos sobre rastafári, é sobre os princípios orgânicos da vida, tudo alinhado com o legado da nossa família. A mensagem de sustentabilidade é para se relacionar com quem nos somos," explicou.

O relacionamento com o Brasil também foi um dos pontos da conversa com Marley, que está em Miami, Estados Unidos, mas se diz apaixonado pelo território: "O Brasil é muito querido por nós! Se você olhar ao redor do mundo como uma pessoa negra... O Brasil é o segundo país com mais afrodescendentes. Na Jamaica, amamos duas coisas: música e futebol! [Risos] Para nós, o Deus do futebol está no Brasil."

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Questionado sobre o avanço do desmatamento em biomas importantes do país, Marley demonstrou consciência sobre o problema e relembrou ações do Project Marley para reflorestamento e checagem da procedência dos materiais utilizados nos produtos. Segundo ele, este também é um dos pontos da filosofia rastafári. 

Confira a conversa completa de Rohan Marley com a Rolling Stone Brasil


Rolling Stone Brasil: Qual é a expectativa para o lançamento da House of Marley no Brasil e por que demorou tanto?
Rohan Marley: Obviamente, temos laços muito bons com o Brasil, a família Marley no geral. Tínhamos que lidar com a importação de bens que não são fabricados no Brasil, então foram muitas questões logísticas. Demorou um bom tempo. Estamos muito empolgados! Amamos o Brasil e estamos verdadeiramente felizes.

Como surgiu a ideia de trabalhar com áudio em equipamentos sustentáveis?
Muitos anos atrás, nós, como a família Marley, decidimos que não faríamos apenas música em nosso tempo como empresários. Também nos envolveríamos com produtos de som, fones, auto-falantes. Uma oportunidade surgiu e, pensando em como poderíamos ir além da música, decidimos entrar nesse espaço. 

O que tínhamos como certeza era: “Se vamos fazer algo além da música, algo tangível, precisa estar relacionado com a música e a mensagem.” Quando falamos sobre rastafári, é sobre os princípios orgânicos da vida, tudo alinhado com o legado da nossa família. A mensagem de sustentabilidade é para se relacionar com quem nos somos.

Como é sua relação com os irmãos? Eles estão envolvidos nos projetos?
É um negócio de família. Por isso não é chamado “Bob Marley,” e sim “House of Marley.” Para ter algo bom, é preciso procurar pessoas com conhecimento no campo. Esse é o motivo de Josh [Poulsen, diretor de desenvolvimento de produtos] estar conosco há tanto tempo. Mas quando o assunto é o visual, o sentimento, o som, isso tem que ser levado pela família, que é dividida em uma hierarquia: Cedella e Ziggy no topo. [Risos] Quando a assinatura deles está lá, quer dizer que é algo bom. E eu estou por trás, me assegurando de que gostaria de usar os produtos e tê-los na minha casa. É um movimento de família.

Você enxerga o legado de Bob Marley como sua responsabilidade?
Sim, “tal pai, tal filho,” sabe? Todo homem neste planeta tem raízes, todos vêm de outra pessoa. O pai, quando cria um filho, quer uma réplica dele mesmo para passar os ensinamentos por gerações. Como para qualquer outra família, para nós, é uma grande responsabilidade. Fora do nosso próprio egoísmo, quando olhamos para o mundo e vemos as pessoas que foram tocadas pela música e mensagem do nosso pai… Ser um filho disso é muito importante. É sobre amor, unidade, e essa é a mensagem.

Nosso pai deixou este lugar quando tinha 36 anos de idade. Ele trabalhou muito, e quem levaria isso adiante se não os próprios filhos? Não podemos deixar isso para alguém que não tem o sangue. Isso não é só sobre os negócios. É parte da alma e da jornada espiritual. Os negócios são apenas nossa forma de operar neste mundo, mas a verdade é que sim, é uma grande responsabilidade, porém nós queremos. É sobre a bondade no mundo, continuar levando a positividade.

A música dele quebrou barreiras no passado e chegou ao Brasil, é bom ver o legado dele continuando esse caminho. Meu pai sempre foi um grande fã de Bob Marley.
O Brasil é muito querido para nós! Se você olhar ao redor do mundo como uma pessoa negra... O Brasil é o segundo país com mais afrodescendentes. Na Jamaica, amamos duas coisas: música e futebol [Risos]! Para nós, o Deus do futebol está no Brasil. Obviamente, estamos muito conectados nesse sentido. É lindo apresentar algo muito querido do nosso legado no Brasil. Amamos as pessoas e o lugar.

O Brasil passa por um momento delicado quando o assunto é meio ambiente e conservação de biomas, além de uma crise política. Com a proposta sustentável da House of Marley, há alguma ação específica direcionada ao país?
Desde o primeiro momento estamos envolvidos com a comunidade, as favelas. Em todos os países que vamos, há um clima político, sempre há algo acontecendo. Meu irmão Ziggy está muito envolvido em movimentos pela Floresta Amazônica e no que podemos fazer para ajudar a salvar e espalhar a mensagem.
Temos uma parceria com a One Tree Planted nos negócios para reflorestar. Ao tirarmos uma árvore, outras duas são plantadas.

Como foi a pandemia para você? Um período em que precisou, inclusive, se afastar da família?
Foi diferente. Obviamente, precisamos de um tempo quieto. O universo precisava disso também, menos emissão de poluentes, diminuição das pegadas de carbono, água mais azul, mais animais… Eu olhava pela janela e todos caminhavam ao redor do quarteirão porque não havia para onde ir, mas precisavam se exercitar. Em vez de irem ao trabalho, as pessoas começaram a viver. Foi ótimo ver as pessoas acenando uns para os outros. Não valorizamos nossa liberdade até alguém tirar ela de nós.

Falando sobre música, o que você tem ouvido nos últimos tempos? Quais artistas estão na sua playlist?
Meu sobrinho Skip Marley não sai da minha playlist. É incrível ver ele crescer e se firmar naquele espaço, porque foi obviamente comparado ao avô, ao tio. Os músicos na família fizeram isso por muito tempo. Mas é bom vê-lo desenvolver a própria identidade e voz, fazendo um trabalho lindo. Ele é fantástico.
Além dele, é claro, minha irmã Cedella. Ela realmente entende a música e compreende o que é necessário para ser um músico. Ela enfrentou tudo isso com os pais dela. Aulas de música, de voz, a necessidade de estar em forma, de tocar um instrumento para compor. Isso veio desde o nascimento. Gosto de ver músicos de verdade se tornando alguém, além da responsabilidade de carregar o legado, é claro.

Voltando um pouco no tempo. Como foi sua adolescência e como você chegou no futebol americano?

Quando eu era um garoto, fui expulso da escola na Jamaica. Eu morava no interior e precisava pegar vários ônibus. No meio do caminho, eu saía e matava algumas aulas. Quando vim para os Estados Unidos, via as crianças jogando futebol americano na televisão. Aprendi a jogar e, depois disso, queria ir à faculdade, mas não queria que minha avó pagasse. Na época, uma das melhores universidades, a Universidade de Miami, estava dando bolsa para jogadores de futebol. Ou seja, comecei a jogar para minha vó não precisar pagar pelos meus estudos.

Como é administrar os direitos das músicas do Bob Marley? 
Meu pai não tinha um testamento, então não havia dinheiro. Não quis estressar minha família, então, achei meu caminho pelo futebol. Juntamos dinheiro e compramos os direitos de volta, é assim que funcionou. Custou alguns milhões de dólares e éramos muito jovens, precisamos pegar emprestado. Alguém poderia ter comprado o legado e o catálogo de Bob Marley, mas nós não deixaremos. Nunca venderemos. A família lutou muito, então, não nos vendemos pelo dinheiro. Trabalhamos muito duro para isso e não é nosso direito colocar um preço no que nosso pai fez.

Você tem alguma mensagem para o público no Brasil?
O mais importante na vida é viver os momentos. Como pessoas, precisamos agradecer pelos momentos de existência. Se podemos continuar sendo humanos, podemos continuar levando amor, tornar isso melhor para todos. A completude dos momentos é dar amor e receber amor. Você pode sempre escolher o amor. 


A linha de fones e caixas de som da House of Marley passou a ser vendida oficialmente no Brasil a partir desta sexta, 12, no site da marca: www.thehouseofmarley.com.br. Feitos de materiais recicláveis, produtos levam nome de músicas de Bob Marley, como "Positive Vibration," e outras temáticas relacionadas ao rastafári e à Jamaica.