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Música / The Town

Urias expande repertório com Her Mind e celebra álbum: ‘Período muito incrível da minha vida’ [ENTREVISTA]

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Urias falou sobre recepção de Her Mind com fãs, desafio de cantar em três línguas diferentes e muito mais

Felipe Grutter (@felipegrutter)

por Felipe Grutter (@felipegrutter)

felipe.grutter@rollingstone.com.br

Publicado em 31/08/2023, às 16h40 - Atualizado em 01/09/2023, às 13h14

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Urias (Foto: João Arraes)
Urias (Foto: João Arraes)

Não apenas no cenário do pop internacional, o gênero musical no Brasil também sofre com algumas padronizações genéricas, seja no sentido sonoro ou visual. No entanto, uma cantora com um trabalho na música bastante interessante é Urias, que lançou Her Mind, segundo disco de estúdio, no dia 8 de junho de 2023.

Diferente do álbum de estreia, intitulado Fúria (2022), Her Mind diverge bastante na sonoridade que Urias trabalhou anteriormente. Nesta nova era, a artista de 29 anos usa bastante da música eletrônica, house music, trance, hyperpop, funk paulista, entre outros. Não apenas em português, ela canta em outras duas línguas: inglês e espanhol.

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Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Urias explicou a decisão por trás dessa mudança na sonoridade dela. Ou melhor, de abranger o repertório. “Eu já tinha vontade de fazer músicas para fora [do Brasil], em outras línguas para tentar que nosso trabalho alcance um novo lugar, tentando subir mais um degrau,” afirmou.

Eu queria muito fazer música eletrônica, mas que trouxesse muitos elementos brasileiros para as pessoas de fora ouvirem e pensarem na possibilidade de que a gente também tem música eletrônica aqui, feita e produzida, com coisas que a gente tem aqui.

Como Urias trouxe brasilidade à música eletrônica?

Urias na capa de Her Mind
Urias na capa de Her Mind (Foto: João Arraes)

Para trazer essa brasilidade, Urias usa muito além das já conhecidas batidas sintéticas desse tipo de música. A produção usou instrumentos como cuíca e berimbau. Além disso, existem referências até mesmo ao funk paulista em “Magnata,” nona faixa. A cantora ainda destacou o trabalho do produtor Maffalda, que “trouxe muitas ideias e um arquivo na mente de muita coisa que ele quer e como quer fazer.”

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Todo esse esforço em Hir Mind compensou bastante. Segundo Urias, os fãs curtiram bastante o álbum, que teve números impressionantes nas plataformas de streaming. “Ele alcançou lugares que eu nem esperava, para ser sincera, porque eu tinha lançado outro disco, o Fúria, e dessa vez foi muito diferente, porque esse álbum… não é que eu não achei que fosse chegar, mas a gente sempre tenta pensar com os pés no chão, mas ele foi muito longe,” explicou.

Quero continuar trabalhando nele, nessa era e fazer tudo muito completinho. Está sendo um período muito incrível da minha vida, e o Her Mind tem proporcionado momentos, shows e outro tipo de contato com meu público. Está sendo muito feliz!

Já a questão das línguas diferentes presentes no álbum, Urias comentou para a Rolling Stone Brasil como sempre teve fascínio por idiomas - tanto que estudou isso em tradução e relações internacionais na Universidade Federal de Uberlândia quando era universitária.

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O primeiro contato com outro idioma foi na infância. Ela começou a estudar inglês quando tinha 11 anos, após o pai matriculá-la em algumas escolas: “Mas meu maior contato foi através da música, no sentido de rotina, do que eu ia usar, do que eu ia falar, mas com a base acadêmica.”

“Para mim, língua sempre foi o tema acadêmico que eu mais me identifico. O espanhol é porque eu era muito fã de música também. Espanhol é mais música. Comecei a fazer umas aulas, mas nunca me aprofundei muito,” continuou.

Mas o desafio para mim, mesmo, é escrever em português. Nossa língua é muito completa, com muitas nuances e a língua mais bonita que tem - e a que eu mais gosto de escrever, também!
Urias
Urias (Foto: João Arraes)

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Her Mind alcançará outro patamar em breve

Inclusive, vale lembrar como Urias levará toda potência do Her Mind e de outros trabalhos na carreira dela na primeira edição do The Town, marcado para acontecer no próximo sábado, 2 de setembro de 2023, no palco Factory.

“Para mim, é de uma extrema importância. Preparamos um show maior do que costumamos fazer,” adiantou Urias. “Terão outras cenografias, um balé maior e novos looks - até um cabelo maior [risos]. Mas a gente está elevando o show a um próximo passo!”

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Claro, a cantora ainda se mostrou bastante ansiosa por se apresentar para um público novo, e descreveu esse momento como “privilégio.” “É um evento muito esperado, que vai trazer muita gente grande pra cá. Então a gente está tomando muitos cuidados para isso dar certo,” observou.

Raiva, representatividade e a força da música

Urias na capa de Fúria
Urias na capa de Fúria (Foto: João Arraes)

Lá em Fúria, Urias usou de um interlúdio para falar sobre raiva. “E assim, amiga / Eu faço mais agora o que me motiva também / Além da raiva, o que me motiva a fazer / É saber que eu dei o meu muito / O meu máximo pra tirar leite de pedra / Sabe, tirando dinheiro até da minha saúde / Pra completar dinheiro de videoclipe / E eu sei aonde meu trabalho 'tá, entendeu?”, recita na faixa.

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Essa música foi lançada em 2022 e ainda é bastante atual para a cantora. Como ela explicou à Rolling Stone Brasil, existem outras motivações, mas esse sentimento não mudou: “Ainda sinto muitas coisas. Das coisas que eu falo no Fúria, muito do motivo da minha raiva é sistêmico, então não são coisas que mudaram de lá para cá. Ainda passo pelas mesmas coisas que passava antes.”

Obviamente, hoje sou mais blindada, mas não quer dizer que não chega aqui. Continuo passando raiva, mas tenho outras motivações, sabe? As coisas dão certo, então penso em continuar fazendo as coisas darem certinho, mas mesmo assim. Achei muito importante aprender a usar a raiva como combustível, porque eu posso manusear isso durante a minha vida inteira.

Outro tema bastante importante e recorrente nas músicas de Urias é a vivência dela enquanto mulher trans. Para ela, representatividade é bastante importante na música e em pautas públicas, mas é preciso ter certo cuidado e noção.

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“Com o passar do tempo, a gente vê que representatividade pela representatividade chega a lugar nenhum,” opinou. “Primeiro que não tem como eu representar todas as mulheres trans, que existem em diversos corpos, tipos de pessoas e etnias. Segundo que, vou ser sincera com você, às vezes a gente precisa que pessoas fora do nosso recorte falem sobre a gente e nos inclua, porque às vezes somos nós por nós.”

“Já sabemos o que a gente vive, mas fora do nosso recorde que isso vai se resolver. A culpa não é minha. A gente tem que alcançar mais e mais pessoas,” adicionou Urias. “Quando eu vejo uma pessoa como eu em um lugar de destaque, eu consigo me imaginar e construir essa possibilidade de sonho e sair da margem, ter até um incentivo e uma força para se ajeitar e sair dessa perspectiva que nos assola.”

Urias
Urias (Foto: Joao Arraes)

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