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Black Circle, banda 'apadrinhada' por Eddie Vedder, estreia no rock com nostalgia e afirmação de autonomia eletrizante [ENTREVISTA]

O grupo também divulga, com exclusividade à Rolling Stone Brasil, o clipe de 'Low White Ceiling', além de anunciar que tocará em show de Eddie Vedder

Malu Rodrigues I @amalu.rodrigues Publicado em 27/10/2020, às 07h00

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Black Circle, da esquerda para a direita: Lenny Prado, Gabriel Z, Luiz Caetano, Sergio Filho e Nyck Magnani  (Foto: Ale Grand/Divulgação)
Black Circle, da esquerda para a direita: Lenny Prado, Gabriel Z, Luiz Caetano, Sergio Filho e Nyck Magnani (Foto: Ale Grand/Divulgação)

Mercury chega no meio do isolamento com um tom eletrizante, som pesado e letras emocionantes. Lançado pela banda Black Circle, o disco foi disponibilizado nas plataformas de streaming em 5 de outubro e revelou o projeto autoral incrível do grupo que também é conhecido pelos tributos ao Pearl Jam e incentivos de Eddie Vedder.

Com 10 músicas em inglês - nove autorais e um cover -, o álbum explora a subjetividade das relações humanas, como explica o grupo carioca à Rolling Stone Brasil. Formada por Lenny Prado (vocalista), Luiz Caetano (guitarra), Sergio Filho (guitarra), Gabriel Z (baixo) e Nyck Magnani (bateria), o Black Circle também se aprofunda nas dificuldades e superações da vida por meio das faixas.

Todas as canções se conectam, contam uma história e refletem sobre momentos de sentimentos viscerais que marcam uma fase da nossa vivência. Não é à toa que o nome escolhido para representar o disco é Mercury (Mercúrio, em tradução livre).

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Com algumas das músicas gravadas durante a quarentena, Magnani explica como esse período influenciou no processo de decisão do título: "O mercúrio é um metal que na temperatura ambiente é líquido. E na pandemia a gente viu que é necessário ter essa liquidez, essa fluidez na hora de ocupar os espaços que você tem dificuldade de se inserir"; Gabriel Z complementa: "As músicas são o conteúdo que vem sendo escrito na nossa alma".

Caetano compartilhou que o título também representa os integrantes do grupo: "A gente encontrou no Mercúrio um elemento químico que representasse a alquimia dos nossos cinco ingredientes, sendo cada um deles um de nós. Então eu diria que é um pouco da vivência de cada um independente do conjunto".

“Low White Ceiling” é a música de abertura, composta por Lenny Prado, e parte do pacote das que foram gravadas durante a pandemia. Com os instrumentos pesados, a dramaticidade rasgante da letra já escancara, logo no primeiro momento ouvindo o disco, a narrativa comovente do álbum.  Logo em seguida, encontramos a sonoridade crua de “Of The Light”, que apresenta uma pessoa que precisa entender a escuridão para conseguir alcançar a luz.

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A balada "Pages" se afasta um pouco das outras músicas, mas não deixa de ser igualmente encantadora. Como se estivéssemos lendo as escritas dos amantes, a faixa nos coloca dentro de um relacionamento amoroso.

Saindo da carta de amor, encontramos a rasgante "Disarray", que tem um arranjo de cordas composto por Wagner Mônaco (também co-produtor do disco). Esse é um elemento de destaque na música, que marcou a primeira da banda quando foi lançada originalmente em 2018. 

"Penguins or Butterflies" é uma jornada intensa, quase violenta. Somos lembrados dos sentimentos de incerteza quando conhecemos alguém novo: "Diga-me como você quer que eu continue com isso/ Você me pede para não nos definir/ Eu me preocupo por não saber o que estou fazendo. Eu me preocupo que o mundo vai me enforcar por isso" (em tradução livre). A banda consegue capturar a essência dessa emoção tão pessoal e transformá-la em uma música viciante.

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Com a guitarra alucinante, "Autumn Theory" foi composta por Nyck Magnani e gravada na pandemia. Sobre a faixa, o baterista comentou como ela "retrata muito bem essa época de incertezas, que a gente não consegue ser feliz plenamente porque estamos preocupados com essa pressão toda".

Mais sóbria, "Divide" revela uma pegada sonora do começo dos anos 2000, com uma letra que apresenta as batalhas pessoais que enfrentamos quando buscamos descobrir nossa identidade. 

“Never Thought I Would”, escrita por Lenny Prado, serve como uma memória íntima. A música relembra a vida de Sergio Prado, pai do vocalista, e, com certeza, é a mais penetrante do disco.

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A nona faixa do álbum, “Drive Home in The Rain”, também é a última autoral da banda. Com uma melodia mais leve e um coral, a balada revela a experimentação do grupo carioca por diversos estilos - e a maturidade de saber explorar todos eles enquanto eleva os elementos de destaque da banda.

Para fechar o disco, o grupo decidiu fazer o cover de “Love, reign o'er me”, originalmente do The Who, mas também tocada pelo Pearl Jam. Mesmo o hit sendo eternizado pelos grupos de sucesso, o Black Circle conseguiu criar com êxito uma releitura muito interessante.

Mercury te transporta para o cenário musical dos anos 1990, ao mesmo tempo que mantém uma sonoridade moderna. Somos lembrados do grunge e das conjunturas do rock clássico daquela época, principalmente por ser masterizado pelo lendário Chris Hanszek, enquanto elementos atuais deixam evidentes a temporalidade do disco. Com o fechamento do álbum, ficamos presos em um misto de saudosismo, nostalgia e espera para os próximos lançamentos autorais, sendo que este primeiro marca a autonomia eletrizante dos cariocas. Ouça:


Processo de criação

Mercury é composto inteiramente por músicas em inglês. A Black Circle tem o histórico de fazer shows de tributo do Pearl Jam, então ela já tocava músicas internacionais, mas Lenny Prado, um dos compositores do grupo, também explicou o motivo do disco autoral ser em inglês.

"A minha escola é muito de bandas internacionais, eu escutei muito pouco de música brasileira a não ser alguma bossa nova quando era garoto... Então eu sempre me pegava cantarolando ideias em inglês." Prado completou: "A gente tem um objetivo de fazer um som internacional, então pensamos em fazer as letras em inglês, voltados para o mercado internacional".

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Magnani compartilhou como a pandemia limitou o tempo dos ensaios da banda, o que impactou na hora dela criar arranjos voltados para a sonoridade brasileira. No entanto, revelou que a volta a ativa depois do isolamento permitirá uma construção orgânica de novos ritmos.

O que não falta, com certeza, são as referências do grunge e do rock dos anos 1990. Regados pelas memórias da infância e adolescência com os gêneros tocando ao fundo como trilha sonora, a banda voltou às origens - tanto da vida pessoal como da profissional - e decidiu colocar o cover de “Love, reign o'er me” em meio a todas as outras faixas autorais. 

Sergio Filho relembra o motivo da escolha da faixa do The Who entrar em Mercury: "Ela era uma música que ela já fazia parte do nosso repertório por ser uma faixa que faz parte do repertório do Pearl Jam. E, ela é uma música muito poderosa, muito intensa e ela explora muito os vocais. Enfim, estamos falando de um clássico do rock".

O guitarrista continuou: "De alguma maneira, estamos homenageando o Pearl Jam de uma maneira não óbvia. Também estamos homenageando uma banda que faz parte das nossas influências, que é o The Who... Fez todo o sentido".

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Lançado durante a pandemia, algumas tarefas e a finalização do disco aconteceram durante o isolamento. Caetano diz que foi um momento chocante, mas a banda estava preparada para lidar com a situação. Isso é notado no projeto, principalmente quando algumas das melhores músicas de Mercury, como "Low White Ceiling", foram gravadas nessa época.

Sem um contato direto com o público devido à quarentena, a banda não deixou de notar o retorno positivo dos fãs. Estes compartilharam com o grupo vídeos mostrando o quanto gostaram do projeto autoral. Como revela o Black Circle, eles preparavam o álbum há algum tempo, e também compartilhavam esse desejo com o público, que estava preparado para recebê-lo.

A transição de fazer covers para a estreia é um momento intenso e de criação de uma nova identidade. Para Sergio, esse é o começo: "Lançar o Mercury é o primeiro passo. A gente coloca no mundo esse disco, a nossa voz, as nossas letras, as nossas mensagens e a nossa visão. A partir desse ponto, a gente dá a oportunidade para as pessoas gostarem de quem a gente é".

A etapa de transição completa entre ser uma banda tributo e uma banda autoral pode demorar um pouco, mas o grupo "não está com pressa". Sergio fala: "Não queremos forçar nada. Amamos tocar Pearl Jam. E a gente quer estar onde as pessoas querem receber a gente".

Agora, o Black Circle tem a oportunidade de se apresentar em shows de tributo e em eventos autorais.


Lançamento exclusivo do clipe de "Low White Ceiling"

Para celebrar ainda mais a estreia de Mercury, a banda lança nesta terça, 27, com exclusividade à Rolling Stone Brasil, o clipe de "Low White Ceiling", uma das músicas mais viscerais do disco.

Dirigido por Raphael Medeiros, o vídeo foi filmado em um dia, junto a outros três clipes de outras músicas da banda. Caetano lembra de como o processo foi intenso, mas prazeroso: "Foi um grande aprendizado e um grande projeto, foi ousado. A gente teve que fazer tudo, desde  a parte mais cerebral de conceito, até a parte mais física de ter que carregar equipamentos [e outros]".

Assista:

No total, o disco já tem cinco músicas com clipes. Sergio comenta o processo: "Isso além de ser importante nos dias de hoje pela música ter se tornado uma coisa audiovisual, também tem o aspecto da gente ter sido criado nos anos 1990, vendo clipe na TV. Então temos essa linguagem associada a música muito forte, porque a nossa geração foi a geração dos clipes".

Para assistir todos os vídeos da banda, acesse o canal de Youtube aqui


Qual o futuro da Black Circle?

Depois de Mercury, o grupo não tem intenção de parar - ainda bem. Novidade para os fãs, a banda foi convidada pessoalmente por Eddie e Jill Vedder para fazer o show de abertura para o evento beneficente do vocalista do Pearl Jam. A performance será online e acontecerá no dia 18 de novembro, no Twitch da Amazon Music. O grupo carioca já prepara um repertório especial com detalhes inéditos.

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O show contará com a participação de diversas celebridades, como Judd Apatow, Bradley Cooper, Laura Dern, Jimmy Kimmel, David Letterman, Adam Sandler e Renée Zellweger. Todos os investimentos arrecadados serão destinados à EB Research Partnership, uma instituição co-fundada por Eddie e Jill Vedder.

Além da surpresa da apresentação do Black Circle, o vocalista do Pearl Jam lançará uma música inédita no show.

Com Mercury lançado, o Black Circle investe na criação musical durante o isolamento e já tem ideias de novas músicas para o próximo disco (que, com os ensaios em pausa, não há previsão para ser iniciado). 

Além disso, devido à pandemia, ainda não há a possibilidade da realização de turnês, mas Luiz Caetano garante que as apresentações serão essenciais para o futuro do Black Circle: "Quando isso acontecer, a gente vai levar o material para um outro lugar, um outro alcance".

Enquanto isso, a banda carioca já se prepara para a próxima live, que acontece no dia 7 de novembro e, com certeza, vai mostrar muito rock eletrizante e uma apresentação visceral.


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