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High Fidelity: Top 5 inspirações da adaptação, segundo a criadora Sarah Kucserka [ENTREVISTA]

Ao lado de Veronica West, a showrunner criou um novo universo para a obra de Nick Hornby, lançada em 1995

Nicolle Cabral | @NicolleCabral Publicado em 13/09/2020, às 14h00

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Zoë Kravitz em High Fidelity (Foto: Divulgação / Hulu)
Zoë Kravitz em High Fidelity (Foto: Divulgação / Hulu)

[Atenção! O texto a seguir contém spoilers de High Fidelity] 

Inspirada no romance homônimo de NickHornby, de 1995, High Fidelity chega 20 anos depois da primeira adaptação da obra, Alta Fidelidade(2000), estrelada por John Cusack. Agora, liderada por Zoë Kravitz, a série mergulha no top 5 términos mais dolorosos de Rob, enquanto ela comanda uma loja de discos no Brooklyn ao lado dos amigos Simon (David Holmes) e Cherise (Da'Vine Joy Randolph). 

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Assim como na obra — e na primeira adaptação —, Rob é grande fã da cultura pop e conecta a maior parte das próprias experiências com discussões sobre música, além de lidar terrivelmente mal com desfechos amorosos. Na nova produção desenvolvida pela dupla criativa Veronica West e Sarah Kucserka, contudo, o universo de High Fidelity salta os mesmos 20 anos e se apresenta como uma versão muito mais interessante, divertida e exata.

"Paramos por um momento e nos perguntamos: Se pudéssemos fazer qualquer projeto, qual seria? E a primeira coisa que saiu da nossa boca foi 'High Fidelity', mas com uma mulher", conta Kucserka.

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Com isso, a história surgiu sob a perspectiva de uma protagonista negra e sexualmente fluída e dos coadjuvantes como Simon, que representa a narrativa de um homem homossexual, e Cherise uma mulher negra e artista. Além disso, a tecnologia também foi atualizada com detalhes como stalkear a atual do ex-namorado pelo Instagram e conhecer um fenômeno musical pela internet. Resumidamente, a história se passa em 2020 (se o ano tivesse sido possível). 

A comédia romântica, transmitida primeiramente pela Hulu, estreou no Brasil no último dia 10 na plataforma de streaming da Starzplay e os episódios serão lançados a cada semana. Apesar de ter sido aclamada pela crítica e ter conquistado uma legião de fãs, High Fidelity não terá uma segunda temporada.

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Com isso, a Rolling Stone Brasil conversou com a cocriadora Sarah Kucserka sobre os desdobramentos da narrativa, a importância da atualização da história e um top 5 maiores inspirações de High Fidelity. Leia abaixo a entrevista: 

Quando você leu o livro pela primeira vez? 

Li o livro pela primeira vez quando estava estudando em Londres em 1996. Então foi logo depois que ele foi lançado e eu amei. Lembro de ter lido no trem, enquanto eu andava de metrô por aí e o livro me trouxe tanta coisa. Eu era provavelmente 10 ou 12 anos mais nova que o personagem na época, mas eu pensava: 'Uau, então assim que é ser um adulto' e também 'Ok, os adultos também são completamente uma bagunça'. Muitas coisas do livro eu amei desde a primeira vez que li, e desde então, li seis ou dez vezes. 

Que legal! Eu sinto uma identificação enorme com a Rob por todas as péssimas escolhas que ela faz ao longo da história. Existe algum detalhe da série que foi inspirado na sua vida pessoal?

Sim, definitivamente muito da minha vida pessoal e da Veronica está na série. Muitos dos ex-namorados são baseados, mesmo que vagamente, em homens e mulheres que namoramos em nossas vidas. Particularmente para mim, o Simon é baseado em alguém da minha vida, porque vivi uma experiência semelhante. No final, sinto que isso fez com que esses personagens parecessem um pouco mais reais. Eles não são apenas: 'Ah, isso seria algo engraçado de fazer ou dizer', mas algo que realmente aconteceu.

E como foi para você transformar a história para uma perspectiva feminina? O que você pontua como positivo nessa versão? 

Acho que foi muito importante contar a história do ponto de vista de uma mulher, porque como eu disse, sempre me identifiquei com aquela personagem. E para mim, foi importante dizer que a experiência de Rob é uma experiência universal. Isso não precisa ser apenas uma experiência masculina. Acho que limitar a ideia de um personagem que faz escolhas românticas terríveis, que não consegue sair do lugar quando se trata de amor, que está com medo e apavorado de estar apaixonado por traumas e coisas ruins que aconteceram com eles, não é apenas uma coisa de homem.

Muitas vezes as pessoas querem que as mulheres procurem 'um Príncipe Encantado' e às vezes nós não queremos o Príncipe Encantado. Queremos conhecer outras pessoas, tentar o próximo cara. 

Faz sentido. Agora, sobre o elenco, eu realmente amei. O Simon, a Cherise, até o Liam, que inclusive, parece uma mistura perfeita entre Shawn Mendes e Harry Styles.

As duas riem. Que engraçado!

Falando nisso, por que você pensou que a Zoë seria a pessoa certa para a série? 

Ah, ela era a pessoa absolutamente perfeita para isso. Ela foi a primeira pessoa que pensamos e foi a única pessoa com quem nos encontramos pela primeira vez para discutir sobre o roteiro. A Zoe tem uma ligação muito pessoal com o mundo da música, acho que ela é uma daquelas pessoas que tem essa conexão etérea, sabe?

E você sentasse ao lado dela, ela falaria com você sobre qualquer coisa. E eu acho que isso era algo que queríamos na Rob. Ela é a companhia que você pode sentar e se divertir em um bar e a Zoe conseguiu dar vida à isso. Muito da personagem e muito da história são baseados nas experiências dela. E, a história acontece no bairro em que ela mora. Não é exatamente no mesmo bairro, mas existe uma semelhança e isso fez com que a história parecesse mais autêntica e confortável e isso foi muito importante. 

Como foi equilibrar os elementos nostálgicos do romance e trazer para o mundo atual? O quão importante foi atualizar a série para 2020? 

Definitivamente, desde o início, nós queríamos que parecesse 2020. Nunca pensamos em fazer algo que acontecesse no passado ou algo que parecesse que nós não havíamos modernizado. Acho que a parte mais importante disso, é claro, a narrativa de uma mulher negra, o Simon, como um personagem homossexual.

Queríamos ter certeza que o elenco parecesse com as pessoas que você vê nas ruas do Brooklyn, que tantas vezes na televisão, são retratadas como pessoas brancas privilegiadas. E é a parte mais diversa e interessante de Nova York para mim. Foi realmente foi muito importante para nós atualizarmos a série dessa forma, mas ainda mantemos um pouco da sensação analógica em um mundo digital.

Um dos pontos mais importantes da série também, é claro, a música. Como foi criar esse universo? 

Queríamos ter certeza de que Rob e todos na loja de discos estivessem em um lugar que parecesse eclético e abrangente. Quando você ama música, não é apenas uma coisinha que você escolhe. Quando você ama, você está ouvindo tudo: clássicos de 50 anos atrás, algo legal que ninguém mais ouviu ou algo que está bombando agora. E essa conexão foi muito importante para nós. Além de nos dar certeza de que tínhamos músicas de todo o mundo para todo mundo. Acabamos colocando músicas de todos os continentes, exceto da Antártica. Queríamos passar essa sensação de que muitas coisas das nossas vidas não são apenas locais, mas sim globais.

Legal! Eu assisti High Fidelity duas vezes. Na primeira vez, eu estava completamente apaixonada pelo Mac e pela Rob. Na segunda, assisti mais sóbria e percebi o quanto ela idealizava o relacionamento dos dois. O final da temporada termina com uma reviravolta: Rob escolhe Clyde em vez do Mac. O que levou a essa decisão?

Foi uma verdadeira luta de escolha para nós. Mas foi algo que queríamos desde o início. Queríamos construir uma história onde Rob teria essas duas opções, e uma delas é meio que o passado e uma delas é potencialmente o futuro. E ambos precisariam ser legítimas e fazer com que as pessoas se sentissem assim. Talvez eu nunca teria contado uma história de um relacionamento que não existe. 

Mas foi importante tomarmos essa decisão para mostrarmos o amadurecimento da visão que ela teve do relacionamento. Algo como ela perceber que, de certa forma, também idealizou isso, e que eles terminaram por um motivo. Talvez eles não estejam destinados a ficarem juntos ou talvez não estejam destinados a ficarem juntos agora. É esse pensamento que permite com que ela chegue no final da temporada.

A série acabou sendo cancelada, mas você deixou um final meio aberto para as duas situações: uma possível segunda temporada e a história ser encerrada ali. Como foi tomar essa decisão?

Você está me perguntando a coisa mais difícil do mundo. Risos. Foi muito triste. Mas foi um pensamento que tivemos quando estávamos fazendo a série. Queríamos ser capazes de dizer: 'Ok, essa temporada pode ser independente se for necessário. Mas também: 'ai, meu Deus, o que a Rob vai fazer agora?'. No final da temporada, parece que ela tem tudo planejado, mas você sabe que há muito o que fazer em termos de crescimento e desenvolvimento do personagem. 

As pessoas amaram a Cherise e estamos curiosos para saber o que aconteceria com o futuro dela como artista. Por que a série não teve um episódio só para ela? Vocês chegaram a imaginar algo sobre isso? 

Nós tínhamos estabelecido exatamente o que seria e queríamos muito fazer isso na segunda temporada. Assim, poderíamos contar uma história da mesma forma que contamos uma história de Simon na primeira. A ideia era que a história dela parecesse um arco muito além da temporada. Por isso, fizemos aquela construção lenta de quem ela é e o que ela quer da vida para ser uma artista. Em relação ao Simon, nós não tínhamos isso, por isso, decidimos focar apenas em um episódio para ele, para que não parecer que estávamos imitando as histórias.

Nós realmente queríamos que a história de Cherise fosse sobre a vida e a carreira dela, não sobre amor, porque eu acho que muitas vezes são as únicas histórias que as pessoas querem contar sobre as mulheres. E nós queríamos ter certeza de que representávamos uma versão muito mais verdadeira do mundo. Acho que na segunda temporada, teríamos continuado a abordar o amor dela pela música e todas as coisas que deram certo e também não deram. Acredito que ela conseguiria um contrato com uma gravadora e se tornaria uma grande estrela. 

Você recebeu algum feedback do Nick sobre a série? 

Sim, ele tem nos apoiado muito desde o início. Nos conectamos bem no começo do processo, antes mesmo de começarmos a filmar a série, quando estávamos apenas escrevendo. E ele, obviamente, era o nosso maior medo. Imagina criarmos uma série que ele odiou? Mas ele adorou quando viu o piloto. Ele foi muito gentil e ficou muito feliz com o que fizemos com a história e com o rumo da personagem. 

Legal! Agora, me fala o seu top 5 coisas que te inspiraram a escrever e criar o universo de High Fidelity?

Sim! Claro! Eu diria que muitas coisas que me inspiraram. Muitos deles são filmes e livros baseados na realidade, mas 5º. Empire Records, 4º. Freaks and Geeks, 3º. Reality Bites, 2º. Toda a obra do Steve Wonder e claro, em 1º. High Fidelity, a obra e o filme.


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