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Descubra a história esquecida de Alice Guy-Blaché, pioneira do cinema

Por muito tempo esquecida, Alice Guy-Blaché foi a primeira mulher no cinema e inovou em técnicas e narrativas para a sétima arte

Vitória Campos | @camposvitoria (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 08/03/2021, às 18h36

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A pioneira do cinema, Alice Guy-Blaché (Foto: Divulgação)
A pioneira do cinema, Alice Guy-Blaché (Foto: Divulgação)

A história do cinema sempre esteve ligada aos homens. Nomes como os irmãos Lumière e Georges Méliès são os primeiros a vir à cabeça quando o assunto é o nascimento da sétima arte. Porém, o primeiro filme de ficção e técnicas como edição, close-up e colorização manual são criações de uma mulher, Alice Guy-Blaché

Esquecida pela história por muito tempo, a cineasta não possui o reconhecimento necessário por sua extensa e inovadora filmografia. De 1896 a 1920, dirigiu mais de mil filmes, dos quais apenas 350 sobreviveram até a atualidade, além de vários terem sido creditados a homens ou aos estúdios. 

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Ao tentar recompensar o erro e contar a rica história da cineasta, foi lançado, em 2018, o documentário Alice Guy-Blaché: A História Não Contada Da Primeira Cineasta Do Mundo. O filme estreia dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, no Telecine Play e no Canal Cult às 22h. 

Considerada a primeira mulher cineasta, conheça Alice Guy-Blaché:

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Guy-Blaché nasceu em 1873 em Saint-Mandé, França. Trabalhava como secretária para a Comptoir Général de Photographie, mais tarde propriedade de Léon Gaumont, dono da primeira empresa cinematográfica do mundo. Junto do resto da equipe, Guy-Blaché foi convidada para conhecer o cinematógrafo dos Lumière em um evento para poucas pessoas em 1895. 

Ao assistir o funcionamento da máquina, Guy-Blaché imaginava um futuro não visto pelos próprios inventores e, em 1896, gravava os primeiros filmes de ficção.

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Alice Guy - Blaché em set de filmagens
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Criação da Ficção 

A pedido de Guy-Blaché, Gaumont emprestou a nova máquina com a condição de não interferir na profissão de secretária. Assim, ela dirigiu, escreveu e produziu seu primeiro filme, La Fée Aux Choux (1896) (A Fada do Repolho). Com duração de um minuto, a produção inovou ao criar uma narrativa ficcional, diferente dos filmes dos Lumière, os quais retratavam situações reais. 

O curta era baseado em uma lenda da França na qual bebês do gênero masculino nasceriam de repolhos e as meninas de rosas. 

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Muito bem-sucedido para a época, o filme vendeu 80 cópias e ajudou Guy-Blaché a ser promovida a chefe de produções cinematográficas na, agora, empresa Gaumont.


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Técnicas inovadoras 

A cineasta abusava dos close-ups. Utilizou a técnica pela primeira vez em Madame a des envies (1906) para dramatizar a personagem grávida, quem não conseguia controlar os desejos. 

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O close-up ficou conhecido por muito tempo, erroneamente, como criação de D. W. Griffith, mesmo seu filme tendo sido lançado quatro anos após a produção de Guy-Blaché

Ela também foi responsável por começar a colorir manualmente cada frame, além de sincronizar imagem e som, por meio do Chronophone, aparelho criado por Gaumont.

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Mentalidade à frente do tempo

Guy-Blaché também inovou no modo de pensar, escrevia histórias com mulheres fortes e em destaque. Lançou Les Résultats du Féminisme (1906) (As Consequências do Feminismo), filme no qual inverte os valores da época ao apresentar homens realizando atividades associadas às mulheres enquanto elas aproveitam a vida boêmia. Também dirigiu Cupid and The Comet (1911), o qual conta a história de uma jovem que foge de casa para se casar ao ser proibida pelo pai. 

Além de ser uma mulher à frente do tempo ao criticar o machismo, Guy-Blaché  também lançou o primeiro filme da história composto apenas por atores negros, quem antes eram representados por atores brancos fazendo blackface (técnica na qual atores brancos pintam os rostos para parecer negros). 

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Caminho do esquecimento

A cineasta se casou com Herbert Blaché, quem também trabalhava na Gaumont, e, com isso,  foi afastada do cargo, porém, o marido não. Com Herbert transferido para os Estados Unidos, Guy-Blaché se mudou com ele. 

No novo país, fundou o próprio estúdio, Solax. Muito bem-sucedida, a empresa tornava-se uma das maiores dos Estados Unidos e a cineasta virava um marco ao ser a única mulher a ganhar mais de US$ 25 mil ao ano. 

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Com o fim do contrato do marido com a Gaumont, Guy-Blaché decidiu torná-lo presidente da Solax, para assim poder focar apenas na direção e escrita e ele ficar responsável pelos negócios. Não satisfeito de trabalhar para a esposa, pediu demissão e fundou o próprio estúdio, Blaché Features.

Precisando dividir as atenções entre os estúdios, a Solax afundou e Guy-Blaché passou a trabalhar para o marido. 

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Em 1918, Herbert abandonou Guy-Blaché e, em 1922, o casal se separou oficialmente. A cineasta retornou à França, mas seu trabalho não possuia mais reconhecimento nem valor. Esquecida, começou a usar um pseudônimo masculino para poder contar histórias infantis.


Alice Guy-Blaché não é apenas a pioneira do cinema, como também a primeira pessoa a utilizar variadas técnicas importantes até hoje. Não obteve o crédito necessário em vida, porém, a história deve a ela uma narrativa típica da cineasta: uma mulher à frente do tempo.

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