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Apesar do drama adolescente exagerado, Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta é uma urgência feminista [REVIEW]

Dirigido por Amy Poehler, novo filme teen da Netflix chega ao catálogo nesta quarta, 3

Isabela Guiduci | @isabelaguiduci Publicado em 03/03/2021, às 07h00

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Amy Poehler e Hadley Robinson em Moxie (Foto: Reprodução)
Amy Poehler e Hadley Robinson em Moxie (Foto: Reprodução)

Abordar pautas feministas e desconstruir romances machistas em produções adolescentes é uma urgência - e, para falar sobre estas temáticas, é preciso contar com mulheres à frente das séries e filmes. É o caso de Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta, novo longa da Netflix, dirigido por Amy Poheler, que chega ao catálogo nesta quarta, 3 de fevereiro.  

Desconstruir conceitos produzidos e reproduzidos dentro da sociedade machista patriarcal é um processo longo e complexo. Foram séculos, décadas e anos com pensamentos extremamente sexistas. Se desprender dessas ideias requer uma reeducação de princípios e convicções. Não difere para as obras audiovisuais.

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Sexualização, machismo e protagonismo masculino - visão heroica sempre para o masculino - costumam ser três questões frequentes em filmes adolescentes clichês, principalmente as produções norte-americanas. 

O galã, normalmente capitão do time de futebol americano ou atleta destaque de algum esporte, se apaixona pela garota ‘invisível’ e, a partir deste “amor”, o menino muda completamente a postura machista e de masculinidade tóxica. Mais tarde, porém, reproduz os mesmos comportamentos no relacionamento. 

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Ao longo dos anos, uma geração de adolescentes cresceu romantizando essa realidade - além de não reconhecer o comportamento machista e a masculinidade tóxica. Nas produções, a péssima postura só é tirada do foco com a “milagrosa mudança” do protagonista - que, pelo amor, é totalmente transformado.

Não, não estamos desmerecendo o amor. O amor pode mudar as pessoas, mas não é em um ‘passe de mágica’ que o amor torna alguém menos machista. Vivemos em uma sociedade que reflete o patriarcado, desse modo, a desconstrução e luta contra ele é constante - é pensando nisso que Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta se desenvolve. 

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A trama é inspirada no livro de Jennifer Mathieu, Moxie: A Novel. Cansada do sexismo na escola, Vivian é uma garota tímida de 16 anos que mergulha na luta feminista ao se inspirar na época de adolescência da mãe e passa a publicar uma zine responsável por uma verdadeira revolução na escola. 

Inspirada pela mãe Lisa (Amy Poehler) que é uma Riot Grrrl - integrante do movimento punk feminista underground do início da década de 1990 -, Vivian embarca em um processo pessoal de desconstrução, coragem e de entendimento sobre o movimento feminista - acompanhada de outras garotas do colégio.

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Moxie: Quando as Garotas Vão À Luta apresenta uma série de questionamentos sobre comportamentos do período escolar, mas que também são vistos constantemente em qualquer faixa-etária da vida como diminuição da mulher nos esportes - ou cargos de responsabilidade -, opressão, assédio, estupro, etc.

A protagonista começa a se incomodar com o sexismo a ponto de criar a zine Moxie ao ver o capitão do time de futebol Mitchell (Patrick Schwarzenegger) assediar a novata Lucy (Alycia Pascual-Peña) - e a diretora Shelley (Marcia Gay Harden) não compreende a gravidade da situação, possivelmente por estar em posição de opressão. 

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A partir disso, há um triângulo de amizade - Vivian, que é melhor amiga de Claudia (Lauren Tsai) desde a pré-escola, passa a se aproximar da novata Lucy. Com isso, Vivian revisita um lado pessoal mais assertivo e político, que Claudia raramente vê e, inicialmente, estranha. 

A dramédia, como um bom filme teen, também traz um romance charmoso de Vivian com o encantador Seth (Nico Hiraga), que a apoia em todo processo de Moxie. Embora não tenham tantas cenas, os dois desenvolvem uma boa relação.  

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Com um roteiro dinâmico, sem dar muitas voltas, a história de Vivian e a união das garotas que apoiam a Moxie se desenrola rapidamente. Juntas, as adolescentes passam a compreender a força do empoderamento feminino - e é contagiante assisti-las. 

Moxie começa um movimento a partir das publicações deixadas nos banheiros femininos da escola. Primeiro, a luta é manifestada por pequenos atos como tatuagens feitas à mão nos braços para serem identificadas, e posteriormente, por reuniões, debates e ações de protesto.

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Para as mulheres espectadoras, é fácil se identificar com as diversas situações vividas pelas garotas - e que são constantes mesmo fora da escola. A identificação é um acerto de Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta - ainda mais ao analisarmos a falta de filmes adolescentes que abordam a temática feminista tão abertamente.

Apesar de Moxie pregar a interseccionalidade ao representar as preocupações das meninas negras, de uma garota trans (Josie Totah), das atletas, de uma menina na cadeira de rodas (Emily Hopper), é difícil não notar que todas parecem mais asteriscos para o feminismo de Vivian do que parte integrante dele. É este um dos pontos em que o filme erra bastante.

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As roteiristas Tamara Chestna e Dylan Meyer aprofundam Vivian como personagem e conseguem torná-la falível. As reflexões dela, às vezes, se transformam em hipocrisia, especialmente quando a crescente consciência feminista entre as meninas na escola não se traduz rapidamente em mudanças concretas. Bem-vinda à sociedade machista patriarcal!

Para voltar ao drama clichê teen, o filme deixa de abordar algumas pautas importantes dentro do feminismo, como a própria interseccionalidade. O exemplo mais notável deste deslize do roteiro é uma briga de Lisa e Vivian por a mãe estar escondendo um namorado. 

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De fato, é uma falha triste da narrativa, que poderia ter abandonado este lado exaustivo e muito explorado do universo adolescente de drama familiar. Assim, poderia ter desenvolvido melhor a ideia central da revolução das meninas ou trazer outras garotas para o foco do protagonismo, como a própria Lucy, que é uma personagem muito interessante e pouco aprofundada. 

Desprender-se de um discurso machista em uma sociedade patriarcal é muito difícil e não é diferente nas produções adolescentes. Por este motivo é claro que Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta comete erros, mas mesmo assim, é um grande passo e um respiro em meio ao bombardeio de filmes e séries teen romantizando diversos comportamentos machistas.

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Embora exagere no drama em vários pontos da narrativa e deixe a desejar em relação ao feminismo interseccional, Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta é uma urgência feminista. Isso porque, a produção constantemente relembra a importância de questionar os comportamentos sexistas na adolescência - ainda muito presentes na sociedade, e refletidos em produções teen, principalmente aquelas dirigidas por homens.

Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta, dirigido por Amy Poehler, chega ao catálogo da Netflix, nesta quarta, 3.

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