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Discos de The Black Keys e The Raconteurs mostram que o rock está vivo - e tem futuro [ANÁLISE]

Dois excelentes álbuns lançados recentemente mostram como o gênero ainda pode trazer boas surpresas

David Fricke, Rolling Stone EUA Publicado em 30/06/2019, às 17h10

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The Raconteurs e The Black Keys (Foto: Montagem com imagens de David James Swanson e Alysse Gafkjen)
The Raconteurs e The Black Keys (Foto: Montagem com imagens de David James Swanson e Alysse Gafkjen)

Se o rock and roll está morto, esse memorando jamais chegou a Nashville, onde os discos Let's Rock, do The Black Keys, e Help Us Stranger, do The Raconteurs, foram gravados. A cidade de Detroit, real "casa" do Raconteurs, por ser cidade natal de Jack White e Brendan Benson, também foi ignorada.

"I’ve been riding this thing out since I was eight years old”, afinal, canta Benson em "Somedays (I Don't Feel Like Trying)", no novo disco da banda, cuja tradução livre para o português pode ser algo como "Tenho andado com isso desde os 8 anos de idade".

A música diz muito sobre o atual modo do rock. Ela tem início como uma balada de arena saída dos anos 1970, mas logo se transforma em algo eletrificado e mais agressivo. "Estou aqui e agora, não estou pronto para morrer", canta um super-cafeínado Jack White.

Os Black Keys, por sua vez, reafirmam sua missão contínua no título de seu primeiro álbum em cinco anos, Let's Rock. O vocalista e guitarrista Dan Auerbach e o baterista Patrick Carney também aumentaram o purismo, enfatizando o poder do power-duo de seus primeiros discos em meio à tempestade de riffs de músicas como "Eagle Birds" e "Go". O efeito: soa como o disco Thickfreakness, de 2003, mas com mais definição.

O Raconteurs - formado por White, Benson, o baixista Jack Lawrence e o baterista Patrick Keeler - mostram a sua transformação no primeiro disco de estúdio em onze anos, como uma gangue de delinquentes ansiosa por uma nova briga, como em "Bored and Razed", faixa construída em uma farra de acordes poderosos e vocais lustrosos.

O tom de abelha zumbindo da guitarra principal lembra o modo de ataque de Jack White nos tempos de White Stripes, mas os Raconteurs são ao mesmo tempo mais densos e mais ágeis na sua música.

O amplo leque instrumental de Benson e seu canto mais reto e rico - em contraste da agitação aguda de White - adicionam uma pilha de dinâmicas novas aqui: as sombras de sintetizadores de “Only Child”; as harmonias de um coro robótico em “Sunday Driver”, como fosse uma imitação de Kraftwerk feita pelos Beatles; o melodrama dos anos 60 e R&B em “Now That You're Gone”.

Lawrence e Keeler, por sua vez, mostram um bom equilíbrio nas curvas de “Don't Bother Me”, assim como desempenham ótima velocidade nas retas. Na cover de Donovan, “Hey Gyp (Dig the Slowness)”, a forte turbulência sugere que eles vieram de uma daquelas bandas de marchas do filme Ritmo Total, de 2002.

Let's Rock, do The Black Keys, está situado na tradição emocional do rock de garagem dos anos 1960, com um vocalista e um baterista fazendo barulho para recriá-lo. "Você fica baixo como um vale / Então, vai alto como um pássaro no céu", Auerbach canta em "Lo/Hi", atestando os extremos em uma violenta quebra com uma guitarra aguda e cheia de distorção.

Seus vocais lamuriosos são muitas vezes mais próximos do country-soul, assombrados pela traição e pelo escorregadio declínio do compromisso em “Tell Me Lies” e “Breaking Down” - a última delas é delineada por uma cítara elétrica, como se tivesse saído de uma sessão de Elvis Presley de 1969.

Mas Auerbach encontra, na bateria de Carney, a âncora perfeita e capaz de impulsionar seu rock louco e carregado. "Every Little Thing" se inicia com espasmos nervosos de guitarra saídos de Led Zeppelin II, e então se afunda em algo mais sombrio, até o refrão explosivo: "Cada pequena coisa que você faz / sempre vai voltar para você".

Sem dúvida, a turma tagarela vai se deliciar com as fofocas sobre a possível rivalidade entre as duas bandas para explicar o lançamento quase simultâneo desses álbuns.

Help Us Stranger e Let’s Rock são simplesmente excelentes álbuns de bandas muito diferentes, provenientes dos mesmos ideais: o rock é uma coisa viva e as guitarras podem ser suas melhores amigas na guerra à música de mentira.

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