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Injustiçado, X-Men: Fênix Negra não é tão ruim quanto estão dizendo por aí [Análise]

Tratado como o pior filme da franquia dos mutantes, longa acerta ao mostrar foco incomum e uma protagonista poderosa

Pedro Antunes Publicado em 09/06/2019, às 14h00

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Imagem Injustiçado, X-Men: Fênix Negra não é tão ruim quanto estão dizendo por aí [Análise]

X-Men: Fênix Negra chegou aos cinemas debaixo de uma chuva de crítica negativas. Especialistas e parte do público reclamavam da última aventura da franquia dos mutantes, da atuação da protagonista Sophie Turner e culpavam a linha narrativa frágil. Permita-me discordar. O filme, já nos cinemas brasileiros desde a quinta-feira, 6, é bastante superior à outros longas dos X-Men - são 12 longas lançados desde 2000.

O trabalho de Simon Kinberg, alguém que conhece a saga dos mutantes profundamente, atuando como roteirista e produtor, assumiu a tarefa de encerrar a segunda versão dos mutantes nos cinemas (com um elenco liderado por James McAvoy, Michael Fassbender e Jennifer Lawrence) com alguma dignidade depois de uma trajetória bastante inconstante.

X-Men: Fênix Negra sofre, capenga e mesmo assim sobrevive, apesar da falta de cuidado dado às histórias desde a estreia de Primeira Classe, de 2011, quando a nova equipe foi introduzida. Na época, o protagonismo foi entregue aos três atores citados acima.

Nenhum deles com paciência, fôlego ou disposição de agenda para liderar uma franquia de filmes de super-herói - embora o cheque seja gordo, o trabalho é árduo, as filmagens costumeiramente impedem o trabalho em outras produções e é necessário um empenho gigantesco no trabalho de marketing quando o filme está prestes a estrear; pergunte a Robert Downey Jr. ou Chris Evans, os principais nomes da Marvel nos cinemas, se eles pretendem voltar a estrelar esse tipo de filme novamente.

A partir de Primeira Classe, foram quatro produções. A franquia pulou de um protagonismo para outro. No primeiro filme, na esteira do sucesso de Jennifer Lawrence com os filmes infanto-juvenis Jogos Vorazes, o holofote foi colocado sobre a atriz na tentativa de atrair o público fissurado pela jovem estrela.

Sua personagem, a Mística, para começar, não merecia tamanha atenção. O embate deveria ser entre McAvoy (Professor Xavier) e Fassbender (Magneto), mas o receio de não causar impacto necessário nas bilheterias para ressuscitar a franquia elevou Mística ao posto de condutora da trama.

No segundo filme da nova fase, X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, decidiram por trazer Wolverine e o carismático Hugh Jackman de volta em uma história criada a partir de uma ótima saga dos quadrinhos, transformada em um longa desajustado, salvo graças ao Carcaju grandalhão.

Quando os X-Men chegam em Apocalipse, já era perceptível que a franquia deveria ter apostado nos jovens atores, como uma tal Sophie Turner e sua Fênix, e deixar o elenco de maiores salários e ambições além do mundo dos mutantes em um segundo plano. Mais um fiasco - e um vilão, interpretado por Oscar Isaac, esquecível.

Portanto, X-Men: Fênix Negra deveria ser o desfecho climático de uma geração mais jovem de heróis, mas cujo desenvolvimento jamais foi mostrado na tela. Restou a Kinberg criar relações entre eles, seus dilemas e tensões e ainda recriar uma das melhores aventuras dos X-Men nos quadrinhos.

Foi heróico até - e infinitamente mais fiel à saga da Fênix Negra do que X-Men: O Confronto Final, de 2006, uma adaptação menos literal da história escrita por Chris Claremont e publicada entre 1976 e 1977. A primeira trilogia dos filmes de X-Men tinham um elenco mais "à bordo" e um protagonismo definido para o Wolverine, mas a transformação de Fênix em Fênix Negra deveria ser lembrada nas aulas de "como não se fazer um roteiro".

Sophie Turner por sua vez entrega uma Fênix realmente assustada com o novo poder que recebe ao absorver uma entidade cósmica. É heroína e vilã. Os X-Men, nas HQs, sempre foi sobre esses jovens e suas dificuldades de se encaixar em um mundo no qual são temido por humanos. Turner faz isso como poucos.

Kinberg também mostra outros nuances de Xavier (seduzido pela fama) e Magneto (mais pacífico), diminui a importância de Mística e exibe uma aliança entre humanos e mutantes bastante frágil, sem criar quadros tão preto e branco. E o melhor: sem a muleta chamada Wolverine.

Mesmo depois de tantas refilmagens e adiamentos, o diretor foi corajoso ao tirar o protagonismo dos maiores nomes do elenco, claramente  desinteressado em seguir com esses personagens e entregou aos mais jovens.  

Pela primeira vez em tempos, desde o reboot em X-Men: Primeira Classe, é possível deixar o cinema interessado em saber como a vida desses mutantes seguirá depois da cena final. Com um encerramento que entrega mais certeza do que dúvidas, X-Men: Fênix Negra é muito mais filme do que grande parte das outras 11 produções da franquia e, certamente, o mais subestimado.

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