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Retrato da fome: pela primeira vez em 17 anos, mais da metade da população brasileira não tem segurança alimentar

Segundo pesquisa da Rede Penssan, o número de brasileiros que passa fome quase dobrou em dois anos: de 10,3 milhões em 2018 a 19 milhões em 2020

Redação Publicado em 07/04/2021, às 14h28

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Distribuição de alimentos em Belo Horizonte (Pedro Vilela/Getty Images)
Distribuição de alimentos em Belo Horizonte (Pedro Vilela/Getty Images)

Pela primeira vez em 17 anos, mais da metade da população brasileira não tem segurança alimentar. Isso significa que a maior parte dos brasileiros não sabe se terá comida suficiente em casa, precisou diminuir o consumo ou até passou fome. As informações são do O Globo.

Segundo pesquisa feita pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 116,8 milhões de pessoas lidam com a insegurança alimentar no Brasil atualmente.

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A pandemia agravou a situação da fome no Brasil. Em 2020 havia 19 milhões de brasileiros (cerca de 9% da população) enfrentando a forma grave da insegurança alimentar, na qual a falta de alimentos, acesso econômico e social ou utilização inadequada dos alimentos leva à desnutrição. Dois anos antes, em 2018, o IBGE indicou que o número era bem menor, de 10,3 milhões de brasileiros.

Francisco Menezes, analista de Políticas e Programas da ActionAid, falou ao O Globo sobre o resultado da pesquisa: “Revela um processo de intensa aceleração da fome, com um crescimento que passa a ser de 27,6% ao ano entre 2018 e 2020. Entre 2013 e 2018, o aumento era de 8% ao ano. Chegamos ao final de 2020 com 19 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, mas podemos supor que agora no primeiro trimestre deste ano a situação já piorou ainda mais.”

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O analista também falou sobre a necessidade de mudar a situação: “É urgente conter essa escalada. Não se pode naturalizar essa questão como uma fatalidade sobre a qual não se pode intervir”.

Mapa da Fome

Com os números divulgados pela pesquisa, o Brasil estaria prestes a retornar ao Mapa da Fome da ONU(Organização das Nações Unidas). A lista, da qual o país estava fora desde 2014, indica os países nos quais mais de 5% da população ingere menos calorias do que o recomendável. O levantamento da Rede Penssan indicou que 9% da população brasileira passou fome em 2020 - maior taxa desde 2004, quando alcançou 9,5%, de acordo com o Globo.

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Segundo matéria publicada pelo Valor Econômico em 2020, os dados do IBGE publicados ano passado provam que o Brasil retornou ao mapa em 2018. O site entrevistou Francisco Menezes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que afirmou um “grande retrocesso” no combate à fome:

“A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) já havia alertado em 2019 que o país poderia voltar a esse quadro (...) Se olharmos o montante de domicílios em segurança alimentar, vemos que voltamos ao que patamar registrado em 2004,” explicou Francisco Menezes em 2020.

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Os principais afetados

Rosana Salles, uma das pesquisadoras responsáveis pelo levantamento da Rede Penssan e professora de Nutrição da UFRJ, também falou ao O Globo sobre os principais afetados pela fome no Brasil: casas onde a renda per capita é de meio a um salário mínimo, chefiadas por mulheres e por negros.

“Já tínhamos visto isso em dados de 2018. Quando a pessoa de referência de família é mulher, é  negra ou tem baixa escolaridade, a fome aumente ainda mais,” explicou a pesquisadora.

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Segundo O Globo, 11,1% dos domicílios chefiados por mulheres lidam com a fome - a porcentagem diminui para 7,7% no caso de homens. A insegurança alimentar grave ocorre em 10,7% dos lares de pessoas pretas ou pardas, enquanto é de 7,5% entre os brancos.


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