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Sombrio e eletrizante, Dawn FM mergulha na epifania criativa de The Weeknd em excelente disco synthpop [REVIEW]

Após o sucesso astronômico de After Hours, The Weeknd explora brilhantemente o synthpop em Dawn FM, lançado na sexta, 7 de janeiro

Camilla Millan Publicado em 08/01/2022, às 10h00

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Capa de Dawn FM (Foto: Divulgação)
Capa de Dawn FM (Foto: Divulgação)

A melancolia e a autenticidade atravessa a carreira de The Weeknd, quem bebe, cada vez mais, em um synthpop oitentista eletrizante à medida que estreia novos discos. Em Dawn FM, Abel Tesfaye apresenta uma complexa (e onírica) experiência ao proporcionar um mergulho sensorial em sua própria epifania criativa.

Consolidado como um dos maiores músicos da atualidade, The Weeknd não parece se importar em bater números de stream. Dawn FM representa um trabalho confiante em que Abel Tesfaye se deixa levar pela imaginação e as influências sonoras de pop, disco music, new wave, R&B e hip hop, mas sem se esforçar para, necessariamente, reinventar a sua fórmula de sucesso.

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Após o aclamado After Hours, lançado em 2020 e que traz hits como “Blinding Lights” e “In Your Eyes”, o canadense propõe uma jornada sonora e conceitual para trazer uma impressionante identidade às 16 faixas de Dawn FM. Conforme o músico explicou anteriormente, o novo disco se apresenta a ele como uma espécie de “purgatório”, como se estivéssemos presos no trânsito em direção à luz enquanto o rádio funciona como guia sonoro.

É nesse diálogo entre sonho, melancolia, nostalgia palpitante e uma certa anestesia que The Weeknd transforma o disco em uma viagem sensorial por entre beats, narrações cinematográficas e muitos sintetizadores. E, de fato, se você se deixar levar, Abel Tesfaye proporciona um transe sonoro.

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Afinal, com a explosão da carreira ao nível astronômico após o aclamado After Hours, The Weeknd está livre para experimentar, testar e fazer transbordar suas ideias sonoras e colaborativas. Assim, Dawn FM conta com a participação de Lil Wayne e Tyler, The Creator, além de interlúdios dos icônicos Jim Carrey e Quincy Jones, que vêm à tona em meio às faixas. 

O disco pode ser dividido em três partes, todas separadas por interlúdios. Dawn FM começa com a faixa homônima em que Jim Carrey explica que o disco se trata de uma estação de rádio sintonizada enquanto o ouvinte faz “a jornada em direção à luz”.

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No primeiro momento do trabalho, há grandes destaques com faixas eletrizantes recheadas de sintetizadores e beats: “Gasoline”, “How Do I Make You Love Me?”, “Take My Breath” e “Sacrifice”. Em seguida, “Tale By Quincy” apresenta um interlúdio de Quincy Jones que, ambientado sonoramente por um R&B cremoso, fala sobre como crescer sem pais afetou futuras relações. Assim, The Weeknd vai para a romântica segunda parte de Dawn FM em uma reflexão e auto-crítica sobre suas atitudes passadas.

As icônicas “Out of Time” e “Here We Go… Again” (com Tyler, The Creator) iniciam a segunda parte do disco, seguidas pelas envolventes “Best Friends”, “Is There Someone Else” e “Starry Eyes”, que retomam a energia mais calma do R&B na era Beauty Behing The Madness (2015).

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Em “Every Angel Is Terryfing”, outra narração de Jim Carrey introduz o ouvinte à terceira parte do trabalho, quando The Weeknd retoma o pop oitentista frenético em “Dont Break My Heart”, “I Heard You Are Married” (com Lil Wayne) e “Less Than Zero”. “Phantom regret by Jim” é a última faixa, e conta com mais uma narração sobre Jim Carrey, agora finalmente revelando que a chegamos ao esperado destino. 

Entre os destaques do disco, está "How Do I Make You Love Me?", terceira faixa com bateria seca e batidas bem-pensadas que anunciam o que está por vir: um refrão dançante repleto de sintetizadores. Em uma progressão impressionante guiada pela voz de The Weeknd, a faixa alcança um ambiente sonoro completo que transporta o ouvinte a uma pista de dança, desembocando em uma lírica envolvente com melodia que bebe no mais bem-feito pop oitentista: "Como faço você me amar?/ Como faço você se apaixonar por mim?"

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Em uma transição surpreendente, o dial do rádio chega a “Take My Breath”, lançada por The Weeknd ao final de 2021, mas que ganha uma introdução e alguns momentos que reforçam o tom mais sombrio da faixa.

A dance music e os sintetizadores de Dawn FM se potencializam em “Take My Breath” enquanto os vocais de The Weeknd dialogam perfeitamente com os pratos. Nessa melodia contagiante, os beats combinam a morbidez do astro com uma letra sobre inflamadas relações sexuais que envolvem o ouvinte por um frenesi que lhe escapa o controle físico. Difícil não se balançar diante das batidas.

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Um dos grandes destaques do disco, “Sacrifice” vem em sequência para dar destaque à voz de Abel Tesfaye, que consegue preencher todo o ambiente sonoro. Chimbal e caixa dão o ritmo enquanto uma sonoridade exuberante retoma a era Off the Wall de Michael Jackson e transporta o ouvinte a uma nostalgia melancólica: "Eu não quero sacrificar/ Pelo seu amor, eu tento/ Eu não quero sacrificar/ Mas eu amo meu tempo."

Certamente, a música que mais destoa dos sintetizadores frenéticos de Dawn FM, “Out of Time” é o respiro que o disco precisava. A potente (e melodiosa) voz de Abel Tesfaye é evidenciada em uma balada enquanto os vocais guiam o ouvinte por uma reflexão do cantor: "Nos últimos meses, tenho trabalhado em mim, baby/ Há muito trauma na minha vida/ Fui tão frio com aqueles que me amavam". Ao final, a narração de Jim Carrey é retomada para explicar que "estamos quase" no final da jornada, mas ainda há boas músicas por vir.

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Na oitava faixa, "Here We Go… Again", em parceria com o Tyler, The Creator, The Weeknd narra as recentes conquistas dele, como ganhar "um quarto de bilhão em um ano" e se apresentar no Super Bowl. As rimas do rapper são introduzidas apenas no terço final da música, que não apresenta as batidas características, mas uma impressionante atmosfera onírica e aerada com sintetizadores e teclado.

Faixa de abertura da terceira parte do disco, “Don’t Break My Heart” volta ao pop oitentista enquanto The Weeknd implora: “Só não parta meu coração/ Não me decepcione, por favor/ Não parta meu coração/ Não sei se aguento mais.” Apesar dos beats e das diversas camadas de sintetizadores, a faixa carrega um sentimento mais reflexivo, quase como o tempo de Abel Tesfaye estivesse terminando e ele, em uma última tentativa melancólica, buscasse pela certeza de que a paixão foi recíproca.

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A jornada de Dawn FM transborda quando chega ao final, em “Less Than Zero”. Meteórica, a canção combina uma batida envolvente com teclado e sintetizadores — e proporciona ao ouvinte a versão do cantor para os hits synthpop de 1980. A faixa explode no refrão, que se abre ao ouvinte com um coro que remete a um estádio. Em tempos de covid-19 (e de fim da linha, como propõe o músico), o trecho proporciona uma gostosa nostalgia: “'Porque eu não consigo tirar isso da minha cabeça/ Não consigo me livrar dessa sensação que rasteja na minha cama.”

Dawn FM finaliza em uma celebração melancólica de alguém que chegou ao fim, mas repassou as etapas da sua vida, pediu perdão pelos tropeços e escolheu ser honesto nos últimos momentos. No trabalho, The Weeknd confirma o sucesso meteórico, assim como o talento como produtor (ao lado de Oneohtrix Point Never) e a habilidade narrativa, envolvendo o disco por sua autenticidade imaginativa e sonora. Mais uma vez, Abel Tesfaye provou que merece o status de um dos maiores artistas da atualidade.

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