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O que é Bardcore: os covers medievais maravilhosos que ganharam força durante a pandemia

Novo estilo musical explora elementos de diversas culturas para criar versões únicas de grandes sucessos

Larissa Catharine Oliveira | @whosanniecarol Publicado em 14/08/2020, às 08h29

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Montagem com a tapeçaria de Bayeux (Historic Tale Construction Kit/Larissa Catharine)
Montagem com a tapeçaria de Bayeux (Historic Tale Construction Kit/Larissa Catharine)

Os memes que imortalizaram a Tapeçaria de Bayeux, registro dos eventos durante a conquista da Inglaterra pelos normandos no século 11, ganharam a trilha sonora perfeita. O “novo” estilo musical a dominar a internet no período de quarentena é o bardcore, nome criado para os covers em estilo medieval de músicas contemporâneas. 

Apesar de existirem há alguns anos e da influência de gêneros estabelecidos, como folk e celta, a tendência começou a ganhar força no YouTube em abril deste ano, em meio à pandemia. Ao som de flautas e alaúdes, músicas como “Hips Don’t Lie”, de Shakira, e “Pumped Up Kicks”, do Foster The People, ganham versões medievais e letras em linguagem rústica, ao estilo shakespeariano. 

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MEMES PARA PLEBEUS

A principal comunidade de memes medievais no Brasil foi criada em 2018, inicialmente com um grupo no Facebook. Com o título “Memes Nobres para Plebevs Ociosos”, a página surgiu e logo abraçou a um “nicho aberto” com uma linguagem única e temas do cotidiano transportados ao passado. Para as piadas sobre abuso de hidromel, fornicação e bruxaria, não há tanta preocupação com a precisão histórica, mas com a cultura compartilhada pelo público.

“Cavamos tudo quanto é tipo de desenho medieval pra fazer mais memes, desde mosaicos bizantinos até códices astecas. Essa é a parte mais difícil e boa, na realidade, volta e meia gente aprende algo legal no processo”, contam os administradores, conhecidos como “senhores feudais”. 

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Entre as modificações na linguagem, estão termos usados no português imperial e colonial, assim como elementos do latim no uso de “us” no final de nomes próprios. “Modelamos a linguagem a partir de estereótipos de linguagem medieval mesmo, muitas vezes conjugando os verbos de forma absurda e até errada pra dar esse ar””, explicam os administradores. “No final das contas vira algo bem característico e soa bastante medieval, mesmo pegando elementos de períodos de tempos tão diferentes.”.

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EXPLOSÃO DO BARDCORE

Montagem de Foster The People (Foto: Divulgação) e System of a Down (Foto: Divulgação)

Os memes medievais ilustram as capas de cada cover medieval no YouTube, mas o fenômeno do bardcore começou a crescer por influência do meme do caixão. A música “Astronomia”, de Vicetone e Tony Igy, usada como trilha sonora dos vídeos da tradição ganês de realizar um funeral com dança, foi repensada na versão medieval pelo web designer alemão Cornelius Link, de 27 anos. 

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Link contou que tudo começou com uma brincadeira com os memes medievais. Amigos próximos criaram a versão do meme do caixão com a tapeçaria de Bayeux e o web designer criou um áudio inicial de apenas alguns segundos da trilha sonora. A recepção positiva o incentivou a iniciar um canal no Youtube para os covers, apesar de música ser apenas um hobbie. A versão de taverna de “Astronomia” rapidamente viralizou e ultrapassa três milhões de acessos. 

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O instrumental de Pumped Up Kicks” criado por Link foi usado pelo canal de Hildegard von Blingin' para uma versão com uma cantora feminina e letras na linguagem medieval popularizada pelos memes. “É, ele encontrou um revólver/No armário do pai”, trecho da letra original, se transforma em “Ele encontrou um velho arco de teixo/E uma aljava de flechas no cofre do pai”. As duas versões somam quase 10 milhões de acessos. 

Amante de música folk, o alemão pretende iniciar a carreira na área. “Tento não pensar muito sobre os números, é muita coisa. Não sou um músico profissional, é apenas um passatempo. Isso é extraordinário”, comenta Link. “No momento, estou feliz por ter algo no que focar, posso fazer versões músicas que gosto. Isso é ótimo para começar, mas também quero fazer minhas próprias composições”. 

O espanhol Álvaro Galán, de 41 anos, é compositor de trilhas para comerciais e integrante da banda XFanekaes. Na internet, se transforma em Algal, o Bardo para criar as versões medievais. “O termo ‘bardo’ não vem dos tempos medievais, é parte da antiga cultura celta mas se adapta muito bem à cultura pop atual”, explica à Rolling Stone Brasil

É verdade. Na série The Witcher, da Netflix, por exemplo, o personagem Jaskier, um poeta e bardo, se destacou como coadjuvante com a música “Toss a Coin to Your Witcher”, rapidamente adicionada às plataformas digitais após a recepção calorosa do público. 

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“Já fazia covers de músicas de videogames e filmes, sempre no estilo folk com influências celtas e medievais”, conta Galán. Entre as versões mais recentes, “Toxicity”, do System of a Down, e “Nothing Else Matters”, do Metallica, acumulam milhões de acessos. Entre os instrumentos utilizados, estão violão de alaúde, bouzouki irlandês, flautas e percussão. 

Álvaro e Cornelius já fazem planos de adicionar as criações às plataformas digitais em um futuro próximo, e também divulgar o próprio trabalho aos seguidores. Apesar de um ramo existente há anos, só agora esse tipo de produção se desenha como um novo gênero musical e um nicho promissor - com um nome único e bem humorado, tudo que precisamos em tempos tão incertos.


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