- Capa de Flowers for Vases /descansos (Foto: Reprodução /Twitter)

Hayley Williams e a vulnerável poesia de Flowers for Vases /descansos [REVIEW]

No segundo disco solo da carreira, a artista retrata delicadamente um processo de cura emocional

Julia Harumi Morita | @the_harumi Publicado em 26/02/2021, às 14h42

Não é nenhuma novidade que Hayley Williams é uma compositora brilhante, afinal, ela exerce essa função desde o primeiro disco do Paramore, All We Know Is Falling, lançado lá em 2005. O que surpreende é a capacidade da artista de traduzir memórias em paisagens sonoras por discos seguidos sem soar banal.

Em Flowers for Vases /descansos, Williams deixa os característicos agudos de lado e assume um canto introspectivo, além de trocar as guitarras enérgicas por violões mansos e sintetizadores absortos.

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Lançado no dia 5 de fevereiro de 2021, o projeto foi gravado sozinho por Williams na quarentena. Diferente dos álbuns do Paramore ou do primeiro disco da carreira solo, a artista gravou todas as vozes e todos os instrumentos.

Em um comunicado oficial, a artista explicou que o disco não é uma continuação de Petals for Armor (2020), mas, "se é alguma coisa, é um prequel ou algum tipo de desvio das partes um e dois de Petals". 

"A primeira coisa a ir embora foi o som da voz dele", Williams canta como quem começa a narrar um conto trágico. Na primeira faixa, a qual ganha alguns dos versos mais frágeis do álbum, a cantora entoa harmonias vocálicas, que soam como um choro preso na garganta e precedem confissões desiludidas.

"Eu termino minhas próprias frases do jeito /Que você fazia /Por que memórias brilham de um jeito que momentos reais não? /Eu… meu altar está cheio /De toda ilusão do amor", canta Williams em "First Thing To Go". 

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Com 14 faixas, Flowers for Vases /descansos retrata detalhadamente um processo de cura emocional não linear. Nesta coleção de composições escritas ao longo dos anos, cada música possui um nível de sensibilidade e explora tons diferentes do folk.

A vulnerabilidade da primeira canção é retomada no final do disco, em "HYD" e "No Use I Just Do", contudo, carrega um canto menos melancólico e mais conformado. Mas, antes reviver esse estado, Williams compara o relacionamento dela com uma amputação inevitável ao som de guitarras inquietas ("My Limb") e observa a beleza nos detalhes mais simples das lembranças da adolescência ("Inordinary").

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Em alguns momentos, a poesia de Williams ganha mais tons brilhantes e sonhadores ("Over Those Hills"). Em outros momentos, a artista dá continuidade às metáforas cirúrgicas nas faixas "Asystole" e "Good Grief".

"Então esse é o sentimento /Você não pode imaginar que é real /Até sentir /Quase fiquei entorpecida /Pensei que já estava farta /Mas a dor é metade da diversão", canta Williams em "Over Those Hills".

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Com uma narrativa crescente, Williams nos leva ao clímax: "Descansos". Em espanhol, a palavra se refere às cruzes colocadas na beira da estrada para marcar o local de morte de alguém.

Os violinos, as risadas de crianças, o som do isqueiro sendo aceso, as melodias murmuradas criam um retrato da trajetória de Williams e os momentos que ela marcou com uma cruz na própria linha do tempo.

No fim, ela diz em alto e bom tom que é apenas uma amante. Williams não canta para as massas, mas para si mesma, para o coração partido, para os copos vazios e os choros dos falecidos antes de finalmente descansar.


+++ KANT: 'AQUELES QUE NOS DÃO MAIS ATENÇÃO SÃO OS QUE MAIS CRITICAM' | ENTREVISTA | ROLLING STONE BRASIL

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