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Review: Hardcore melódico de Neck Deep diverte, mas não vai muito além de 2005 em All Distortions Are Intentional

Um Green Day aguado, ou um blink-182 wannabe? Quarto disco da banda britânica vai na contramão da surpresa

Yolanda Reis Publicado em 28/07/2020, às 07h00

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Neck Deep lança All Distortions Are Intentional (Foto de cortesia à imprensa)
Neck Deep lança All Distortions Are Intentional (Foto de cortesia à imprensa)

“Sonderland”, faixa de abertura do disco All Distortions Are Intentional faz você pensar em músicas do passado. Se não souber quem toca, talvez se pergunte: “É Good Charlotte? Ou Blink-182? All Time Low? The Maine? Sum 41, You Me At Six, Jimmy Eat World, +44...?” (ou insira, aqui, o nome de qualquer banda pop-punk/hardcore melódico do início dos anos 2000). Mas nada disso: é Neck Deep.

A banda britânica alcançou 10 anos de carreira. All Distortions Are Intentional, quarto disco do Neck Deep, mostrou uma coletânea de 12 faixas bastante animadas. É provável que te faça dançar do começo ao fim, e querer ouvir tudo de novo naquele dia descontraído para poder arrumar a casa. Mas deve parar por aí, pois não tem muito mais a acrescentar, nem a refletir.

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Neck Deep, em All Distortions, endossa um boato de alguns anos: o pop-punk não quer crescer. A música é só um reflexo de juventude, sem muita profundidade a ser explorada. Os integrantes da banda, mesmo estando mais perto dos 30 do que dos 20, agem como adolescentes despreocupados… E nem tentam esconder isso, como escancara o verso “Não, não quero falar de política / nem de contradições nas ciências sociais” - uma resposta àqueles que cobravam um pouco mais de conteúdo neste trabalho.

O verdadeiro problema, porém, não é nem a juventude aparentemente eterna - e sim a falta de originalidade ao apresentar tudo isso. Parece somente que uma inteligência artificial deglutiu a discografia dos principais nomes do estilo e cuspiu umas faixas sem muita personalidade. O disco é brando o suficiente para fazer Neck Deep - seguidor fiel do pop-punk - perder a própria individualidade e diferencial, que trabalharam pouco a pouco (e muito bem) na última década e em três álbuns.

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A música, então, não é nada além da fórmula que não saía dos rádios até 2006. Novamente, a primeira vista, todas elas poderiam estar em No Pads, No Helmets...Just Balls(Simple Plan, 2002) ou Take Off Your Pants and Jacket (blink-182, 2001). Talvez tivessem a influência de So Wrong, It’s Right (All Time Low, 2007). Mas as guitarras repetitivas, o baixo perdido e a bateria quadrada parecem não sair muito dessa bolha diminuta de tempo.

As letras, porém, são o que desanimam. A música te faz dançar, mas a (falta de) mensagem, não. Os assuntos são os mesmos que sempre vemos no pop-punk: depressão, desânimo, ser alguém meio inútil. Totalmente emo(cional). Mas, enquanto bandas como Green Day, My Chemical Romance ou New Found Glory conseguem fazer uma reflexão em cima de todo o sentimento, Neck Deep faz tudo soar como um cover aguado. Um clichê insosso e raso de uma expectativa de estilo.

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Não acredita? É só ver como é fácil entender os motivos por trás das letras de “When You Know” ("Faça as pazes com seus demônios e espere que ele te deixem / e faça as pazes com seus sentimentos / admite que tem motivo para você não desistir / podíamos cair no nada braços abertos como se fossemos infinitos / não têm nada a perder / quanto tem chorado a noite toda”) ou “Sick Joke” (“Não me acorde / é o melhor que me sinto em semanas / e sendo honesto / prefiro estar mais feliz, vivo ou dormindo”). Ideias profundas, sim - mas com letras pouco criativas.

Em meio a tudo isso, porém, fica claro que Neck Deep podia ter tentado um pouco mais… Apenas se o disco seguisse a linha de “Quarry” (uma música curta, de pouco mais de um minuto, mas bem trabalhada eletronicamente e com uma “carinha” própria); ou mesmo o interlúdio do refrão de “Sick Joke; essas, pelo menos, não soam como mais ninguém. Resgatam um pouco da diversão anterior da banda - e o twist mais moderno do pop-punk, com elementos que você encontraria no rap, no novo pop-à-Eilish, ou na mistura dos dois de Post Malone.

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Para os fãs de pop-punk (ou do Neck Deep), porém, All Distortions Are Intentionalé um disco divertido, e, o grupo, uma ótima “nova” banda do estilo.

O disco não é, de fato, muito profundo. Mas quem disse que deveria ser? Nenhum dos integrantes do grupo parece se importar muito com isso - ou com as opiniões de ninguém - como grita a letra de “Lowlife”: “Sou jovem e idiota / estou à toa / Vou te ignorar, o Rei das Manhãs / Entediante para c****** / E daí? E daí? / Sou um marginal / Vivendo de boa / Te vejo no inferno, Sr. Morto por Dentro”. Então, a mensagem soa clara: é isso aí. Tudo é intencional. Quer ouvir? À vontade. Se não… "E daí?"

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All Distortions Are Intentional, quarto disco do Neck Deep, foi lançado em 24 de julho de 2020 pela Hopeless Records. As músicas estão disponíveis em formatos físicos (CD, fita K7 e vinis diferenciados e estilizados), vendidos no site oficial, e digital - compra, streaming, YouTube. São, ao todo, 12 faixas.

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