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Imagine Dragons faz salada mista de pop rock enquanto expõe ansiedades e inseguranças em Mercury – Act 1 [REVIEW]

Quinto disco de estúdio da banda, Mercury – Act 1 reflete dores internas em canções pop mais intimistas e músicas enérgicas mais pontuais

Isabela Guiduci Publicado em 04/09/2021, às 10h00

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Capa Mercury - Act 1 (Foto: Reprodução/Divulgação)
Capa Mercury - Act 1 (Foto: Reprodução/Divulgação)

Mercury – Act 1não esconde a proposta desde a capa: uma imagem de um rapaz, muito semelhante ao vocalista Dan Reynolds, está caindo em uma espécie de abismo. As cores e os traços apenas reforçam a ideia de que, dessa vez, o Imagine Dragons quer olhar para os interiores e íntimos de um modo mais desacelerado e, até mesmo, poético. 

Afinal, estamos no quinto disco de estúdio da banda: a maturidade, experiência e tempo de carreira apenas refletem a confiança do grupo. O Imagine Dragons acelerou muito com os projetos anteriores e hits como “Thunder” ou “Believer”. Agora, parece querer dialogar mais intimamente com os ouvintes e, possivelmente por isso, sussurros de Reynolds são tão presentes no novo álbum.

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Não muito diferente dos trabalhos antecedentes, o vocalista aborda as inseguranças, ansiedades e desesperos internos que o assolam em líricas carregadas de não-aceitação e dificuldades de lidar consigo mesmo. As temáticas são acompanhadas da musicalidade pop rock costumeiras do grupo - que oscilam intensidade ao longo da composição sonora. 

A primeira parte do disco é um pop bem-construído que, embora conte com momentos mais enérgicos, construções melódicas e sintetizadores, é desacelerada e bastante focada no desenvolvimento lírico. É como um desabafo pessoal e sincero de Reynolds sobre as dores individuais e canalizadas em alguém com dificuldades em encontrar o amor-próprio. 

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Em contrapartida, no segundo momento do disco, a partir da sétima faixa, o Imagine Dragons parece reencontrar a própria identidade com gritos desesperados de Reynolds - quase como um alívio que ecoa da alma -, sintetizadores mais intensos, mais riffs de guitarra e batidas marcadas de bateria. 

Apesar de trazer temas complexos e profundos, a banda busca encerrar o quinto disco com uma mensagem positiva. E, mesmo com boas músicas, o novo álbum não conta com grandes e surpreendentes hits - é uma mescla da identidade conhecida com um espaço sonoro mais sensível e intimista.

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Como bem propõe a primeira parte do disco, a música de abertura “My Life” se desenvolve em uma harmonia bastante melancólica enquanto Dan Reynolds canta: “Estou tentando ser outra pessoa”. A canção explode e ganha energia, apenas para reforçar o incômodo da lírica em aceitar a própria personalidade. 

Apoiada pela bateria, “Lonely” se constrói em uma sonoridade pop envolvente - uma das mais agradáveis do disco. Seguindo pelo desabafo, o vocalista fala sobre a solidão e implora pela companhia de alguém; há uma sobreposição de vozes interessante na faixa, encaixada minuciosamente com a musicalidade. 

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A terceira faixa “Wrecked” aposta em momentos mais íntimos com sussurros de Reynolds sustentados por um riff afável de guitarra. Ao ser elevada por um frenesi, a música toma força e abre espaço para falsetes potentes do vocalista. 

Na mesma pegada pop e com o sintetizador clássico do Imagine Dragons, “Monday” traz um Dan Reynolds confiante o suficiente para brincar com sussurros e falsetes; a faixa tem um refrão certeiro e divertido, que dá um charme singular à canção. Ainda, traz um dos melhores solos de guitarra do disco. 

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Atendendo à proposta pop com uma paisagem sonora característica de hit e marcada por um beat interessante, “#1” é um desafogo animado e enérgico - embora não potente e frenético como outras canções da banda - das próprias tristezas de Reynolds: "Ainda sou meu número 1," parece tentar se convencer. 

Os desabafos seguem ganhando significados na totalidade do contexto narrativo de Mercury – Act 1 com “Easy Come Easy Go”. A música também apresenta sussurros e melodias harmônicas, acompanhadas de batidas pontuais para representar uma atmosfera intensa de confissões: “Todos meus amigos se foram, eu não os culpo.”

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O fim de “Easy Come Easy Go” é totalmente desacelerado e entrega o momento ápice e merecido de “Giants” - a primeira do disco que traz uma forte identidade do Imagine Dragons. Uma das faixas mais enérgicas do álbum, a canção transborda sensações pela batida, levando o ouvinte à particularidade certeira da banda, vista em hits como “Thunder” e “Believer”.

Dan Reynolds não abandona o tom emotivo da discografia na faixa. Mesmo mais potente, os gritos desesperados de "Giants" configuram ecos que vêm do fundo da alma do músico - os berros intensos soam como um desabafo sincero e espontâneo, reforçando o conceito de todo o disco. 

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Depois de acelerar com tudo, “It’s Ok” volta ao leve e descontraído para mais uma confissão particular do vocalista: “Eu não quero estar aqui, mas eu acho que não tenho escolha.” É curioso, de fato, que a canção não esteja presente na ‘primeira parte do álbum’, porque traz uma proposta semelhante às músicas iniciais. 

Mais rock que as anteriores, “Dull Knives” esconde as dores da lírica enquanto bebe referências das estruturas sonoras do gênero: riff de guitarra sustentado pelos acordes da bateria. A canção conta com um ótimo vocal de Reynolds - dos sussurros aos gritos: "Será que alguém não salvará a minha vida?"

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Na reta final do disco, “Follow You” é um pop rock semelhante à discografia do ImagineDragons: a batida marcada e levada por camadas sonoras com diversos elementos; como a percussão, sintetizadores e guitarra. A música é bastante certeira ao repetir uma fórmula bem-trabalhada pela banda nos seus projetos anteriores.

Chegamos a uma das canções mais delirantes do disco, a nona faixa conta com uma paisagem sonora caótica e desesperada. “Cutthroat” também é uma das mais inspiradas pelo rock; e novamente, gritos de Dan Reynolds reforçam a lírica da canção: "Eu sou tão incompreendido, mas vivo por isso."

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Para quebrar o tom melancólico da lírica, “No Time for Toxic People” volta aos sintetizadores para animar a despedida do disco para se afastar da letra densa e carregada. Bem como o título da faixa sugere, “Sem tempo para pessoas tóxicas” traz uma esperança intrínseca na sonoridade. 

Seguindo na mesma ideia, “One Day” quer encerrar Mercury – Act 1com uma mensagem de esperança. Acompanhada de um refrão melódico, harmônico e mais leve sonoramente, a música completa o discurso final: “Sei que um dia serei aquela coisa que te faz feliz.”

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Ao repetir fórmulas e desafogar sentimentos, Mercury – Act 1 segue a atmosfera e identidade estabelecida nos discos anteriores. Embora sem elementos surpreendentes, o Imagine Dragons faz um trabalho bem-construído, denso, íntimo e profundo no quinto disco da carreira; com destaque ao lirismo e vocal de Dan Reynolds


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