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Como o "desleixo" da Marvel com identidades secretas ajudou no sucesso da franquia [ANÁLISE]

Abandonar o clichê em favor da coerência foi um traço decisivo nos filmes da Marvel

Vinicius Santos Publicado em 02/10/2019, às 11h13

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Vingadores: Ultimato (Foto: Reprodução Marvel)
Vingadores: Ultimato (Foto: Reprodução Marvel)

Nos quadrinhos, especialmente na era de ouro das revistas americanas, que datam de 1938 a 1956, os super-heróis iam até as últimas consequências para manter a identidade civil deles em segredo. Mas isso não aconteceu no MCU (sigla para o Universo Cinematográfico da Marvel), que revelou a identidade do Homem de Ferro logo no primeiro filme, em 2008, ao falar a frase “I am Iron Man” (Eu sou o Homem de Ferro) no final.

No caso do Homem-Aranha foi a mesma coisa. Mesmo saindo para brigar em um aeroporto da Alemanha em Capitão América: Guerra Civil (2016) sem a Tia May perceber, não demorou para a identidade de Peter vir a tona em Homem-Aranha: Longe de Casa, lançado em julho deste ano.

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Nas revistas da Marvel, as revelações das identidades têm grande peso e consequências aos heróis. Ainda no caso de Peter Parker, em 2006 e 2007, durante o arco da Guerra Civil nas HQs, o Cabeça de Teia se revelou ao mundo para apoiar o Ato de Registro de super-humanos que TonyStark buscava submeter a todos os superseres.

Como consequência, o Rei do Crime descobre onde o Aranha vive e usa um atirador para tentar matá-lo. O disparo acerta Tia May e Peter faz um acordo com o demônio e vilão Mephisto para reverter toda a revelação da identidade e o ferimento fatal da tia, ao custo de apagar o casamento dele com Mary Jane.

A partir desse exemplo pode-se entender porque identidades secretas são tão importantes para o modelo tradicional de histórias de herói. Porém, Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, disse que isso não foi uma preocupação do MCU.

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“O único clichê dos quadrinhos que não incorporamos no MCU foi a identidade secreta”, disse Feige a Bleeding Cool em 2013. “Eu pensava que esse recurso tinha sido usado demais e durante muito tempo, por isso fizemos Tony Stark contar o segredo logo no primeiro filme.”

A escolha deu o tom para o restante da franquia e a permitiu florescer. Era muito difícil estabelecer uma relação de confiança entre os Vingadores, por exemplo, se as máscaras não pudessem cair.

Além disso, contar a história da Guerra Infinita, que envolve ameaças muito maiores como Thanos, não deixa tempo para desenvolver dramas cotidianos de manter a identidade em segredo, coisa que aconteceu na trilogia do Homem-Aranha de Tobey Maguire, por exemplo, com filmes focados apenas neste herói.

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Por último há a famosa “suspensão de descrença” do público a entrar na equação. Para quem nunca ouviu o termo, ele se refere a capacidade do espectador de acreditar na história, que exige um certo grau de coerência mesmo tratando-se de ficção.

Para ilustrar melhor, é fácil para nós acreditar em super armaduras feitas com nanotecnologia, pessoas com poderes e joias capazes de mudar a realidade, mas é muito difícil aceitar que, no mundo de hoje, altamente vigiado e conectado, alguém consiga manter um segredo tão grande quanto a identidade de um herói.

Por exemplo, em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), não passa pela cabeça de ninguém que o jornalista Clark Kent é igualzinho ao Filho de Krypton, e por mais que a obra tente explicar isso, o público ainda torce o nariz.

Logo, ao abandonar as identidades secretas dos heróis, o MCU tomou uma decisão muito acertada. Talvez a mais importante para o sucesso da franquia que, até o momento, já acumula 23 filmes.