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O emo está de volta, e Naja White é a principal prova disso [ENTREVISTA]

A cantora, drag queen, relembra a adolescência dos anos 2000 no single de estreia

Yolanda Reis Publicado em 15/05/2020, às 07h00

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Naja White (Foto: Felipe Veiga)
Naja White (Foto: Felipe Veiga)

Uma parede desenhada com tinta spray. Os logos do Blink-182, Linkin Park e umas outras bandas intercalam-se a letras de músicas e mensagem levemente deprimentes. O típico quarto de um adolescente emo em 2006, 2007. Mas é, na verdade, o de Naja White, em pleno 2020. A escolha do visual é óbvia para ilustrar a estrei da carreira da cantora: “O Emo Tá de Volta.”

É o primeiro single de Desabafemos, EP dela (“com o ‘emo’ em evidência”, enfatizou, em entrevista para a Rolling Stone Brasil). Com 29 anos recém completos, Naja White lança-se na carreira musical em um resgate ao emo. Mas muito além das memórias, quer introduzir o rock de uma maneira não muito usual: como drag queen.

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Nascido e criado em família evangélica, Nylo Bimbati viveu cercado da música da igreja. Mas apaixonou-se pelo emo (e rock, além disso) na adolescência. Quando se mudou para capital de São Paulo, abraçou Naja White - e decidiu dar a ela um lado totalmente artístico:

“Como drag queen, trabalhava como host ou presença em eventos. Mas sentia falta de saber qual era mesmo o meu talento, o que eu podia fazer de modo mais artístico. O canto estava ali, me cutucando, mas eu achava que não era muito adequado para fazer isso, principalmente por gostar mais de rock do que o som que as outras drags fazem, aquele pop, brega funk. Pensava que não me adequaria se não me adaptasse.”

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Não demorou para Naja entender como essa ideia de não adaptação era apenas “autossabotagem”. Existe o estereótipo de uma drag mergulhada no mundo do glamour de divas pop. Mas, ao mesmo tempo, “como drag, existe a liberdade de poder fazer o que eu quiser.” Se gostava mais de rock, de emo, poderia trazer isso para o mundo tão sistematicamente brilhante do LGBTQ+, mesmo que indo contra a corrente: “Já só um cara de 1,80 m que bota uma peruca. Isso me permite ter mais coragem de ousar e cutucar as feridas do passado. Tentei trazer isso de forma atual.”

A inspiração para a viagem no tempo musical foi, um pouco, do passado. Naja lembrou das suas amigas adolescentes, na escola, com seus tênis all-star sujos e cabelos desajeitados - e como “olhando de perto”, as achava sempre lindas por serem tão desprendidas. Uma subversão convergente com a da cantora: “Ser uma drag faz, de mim, uma pessoa mais desprendida e desligada nessas pressões que colocam na gente. E isso é essencial para trazer essa mudança de modo leve.”

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Mas “O Emo Tá de Volta” é muito do presente, também. Porque, se reparar, em 2020, o estilo voltou, mesmo: tenha como prova os discos com poucos meses de idade de Blink 182, Fresno e Green Day. Ou a volta do My Chemical Romance. Talvez, o crescimento inexplicável de baladas cheias de músicas emotivas que pipocaram nas metrópoles do Brasil nos últimos dois anos, por aí.

Naja juniua, então, na sua estreia: o mundo drag, o emo antigo, e a reascensão do estilo. No clipe, cria um cenário engraçado e comum a muitos: a parede pichada (vinda diretamente de “Perfect”, Simple Plan); o boné e camisa verde que usa, cantando em cima do sofá (“Sk8er Boi”, Avril Lavigne); uma chuva artificial, feita com um regador (“All The Smalls Things”, Blink-182).

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Já a conexão com o lado LGBTQ+, admite, foi um pouco mais conturbada: “Fui criticada. Algumas pessoas falavam que a guitarra muito pesada para drag, pensavam que tinha que ser mais leve [...] Mas o legal é não se prender; se não, todo mundo vai fazer a mesma coisa. Mas sinto que o meio se desconectou muito do rock. Conversei, tentei entender isso. Muita gente me disse como o rock é muito fechado. E é justamente isso, muito exclusivista. Não aceitam que alguém ouça rock e Pabblo [Vittar]. É imaturidade, porque quando mais cultura diferente conhecermos, mais ricos ficamos.”

No geral, porém, Naja vê uma recepção positiva. Uma das apreensões era ser rechaçada por não afinar a voz ao cantar, mas as pessoas gostaram de assimilar o tom grave à drag. Manteve-o. Amaram a temática, também: “Tocou na memória afetiva das pessoas. Muita gente me disse que voltou aos anos 2000, se sentiu na adolescência, de novo, no quarto. É bem isso. Queria relembrar os sentimentos, para gente ver essa época e perceber o valor de construção do caráter, como tudo aquilo foi importante para a gente ser quem é hoje.

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E não importa o número de vezes que quem ouviu tentou ser quem não era. Não dá para apagar uma memória e nem o sorriso que vem lembrando da adolescência. Ainda bem por isso: pois, agora, o emo está de volta! “Talvez as pessoas não levem a sério, porque é uma drag fazendo isso, mas quero que se reconectem e estejam prontas para relembrar e se divertir.”

"O Emo Tá de Volta" é o primeiro single do EP Desabafemos, no qual Naja White pretende explorar as grandes desventuras e emoções de um jovem adulto urbano - boletos, trabalho, aperto no peito e eventual desalento. Serão, ao todo, quatro faixas - mas ainda não há previsão de estreia. Ouça, abaixo, a estreia da cantora:

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